FILOSOFIA DA IDADE CONTEMPORÂNEA - Séc. XIX até nossos dias - Heidegger e Sartre

1 – Idealismo alemão humanista de Martin Heidegger (1889 – 1976):
·         Filósofo alemão que nasceu em Meßkirch em 26 de Setembro de 1889 e morreu em Friburgo em 26 de Maio de 1976. É seguramente um dos pensadores fundamentais século XX.
·         A partir de Heidegger é possível nos colocarmos num outro plano que não seja o das causas e das circunstâncias que vivemos, o da reflexão filosófica que nos situa ao nível da interrogação. Para esse autor não se trata de analisar as causas da crise ou de determinar a significação, mas põe uma questão mais essencial que nos permite superar as interrogações particulares em que projetamos nossa insegurança e os nossos medos. Para compreender esta questão devemos começar por relativizar aquilo a que estamos mais agarrados. Porque as IDÉIAS E AS CRENÇAS em que nos refugiamos tendem a impor-se com uma força tal que as confundimos com a própria realidade das coisas.  É, pois, imperativo reencontrarmos, para além das idéias e das palavras, o que densifica as coisas e o que é igualmente o cerne da importância do homem, senão vivemos à superfície da realidade com medo de enfrentarmos a profundidade que ela oculta, perdemo-nos na tagarelice que nivela os seres e as coisas e paralisa toda a interrogação e todo o espanto.
·         De tal modo, o horizonte da meditação heideggeriana é o da questão do ser, mas o universo do qual é posta esta questão é o da EXISTÊNCIA. Em sua obra Ser e Tempo, Heidegger aborda o problema do ser empregando o MÉTODO FENOMENOLÓGICO, este pretende abordar os objetos do conhecimento tais como aparecem, isto é, tais como se apresentam imediatamente à consciência. Aplicado ao problema do ser, o método fenomenológico utilizado por Heidegger leva-o a colocar como ponto de partida de sua reflexão aquele ser que se dá a conhecer imediatamente, ou seja, o próprio homem.
·         A EXISTÊNCIA HUMANA não é um simples fato: ela articula, no próprio ato da sua manifestação, a questão do ser. Existir é habitar estaticamente na verdade do Ser.  Pensar é descobrir reflexivamente o caminho do Ser: não significa, originariamente, compreender algo, mas compreender que se está já situado, portanto a questão fundamental da filosofia não é o homem, mas sim o ser, não só do homem como de todas as coisas. Uma filosofia que colocasse o homem como centro de preocupação seria antes uma antropologia. Heidegger afirma que a questão que lhe preocupa não é a existência do homem e sim a questão do ser em seu conjunto e enquanto tal, logo, um dos objetivos básicos de sua obra Ser e Tempo é investigar o sentido do ser. Para efetuar tal tarefa, começou investigando o ser que nós próprios somos.
·         Podemos perceber que a pergunta principal de Heidegger é: QUAL É O SENTIDO DO SER? Ele substitui a pergunta dos filósofos clássicos – O que é o ser? Pois, para ele, essa ficou indevida por estar clara e evidente.
·         Não se pode definir o homem em relação a ele mesmo: ele não é um sujeito isolado, pois antes de pensar e mesmo de falar, vive em relação com as coisas, com os outros e com o mundo. Esta presença fundamental, cujo conhecimento é uma das expressões privilegiadas, não é exclusivamente um fato verificável, mas um acontecimento vivido.
·         O HOMEM é um sendo acontecendo, isto significa que em cada instante ele se manifesta no ser. Entretanto, Heidegger nos recorda o caráter pré-dado da existência, pois para ele o homem não se liga à imagem do mundo como uma coisa integrada numa totalidade: ele descobre-se sempre enraizado no já-aí cujo horizonte é o mundo. Há entre o ser e o mundo uma diferença irredutível uma vez que o homem é capaz de interrogar sobre a realidade e de englobá-la. A isso Heidegger conceitua de compreensão, esta se desenvolve antes de toda a tomada de consciência reflexiva, do mesmo modo que a situação se impõe antes da reação afetiva.
·         A EXISTÊNCIA é um “meio-termo” caracterizado por um movimento perpétuo de vai-e-vem entre o pré-dado na situação e a realidade desvelada na compreensão. A existência, nesse sentido, não para de repor em questão, superando a realidade que a determina, sem deixar, portanto, de existir nela.  Segundo Heidegger, é o cuidado que abre ao homem o universo da presença. Definir a existência como cuidado é destruir a imagem clássica de um “cogito” isolado, recolhido sobre si. Graças ao cuidado o ser humano experimenta-se para além do já-aí. Neste horizonte da transcendência, interpretamos o homem como um ser-no-mundo, o homem descobre-se sempre como ser-com. Isso fica explicito quando Heidegger afirma: “... Na presença está em jogo o seu poder-ser-no-mundo e, com isso, a ocupação que descobre na circunvisão o ente intramundano...”.
·         O ponto de partida necessário de toda tentativa por determinar, em seu rigor, o ser do ente em geral, é o homem como SER-AÍ ou DASEIN, pois, de todos os entes, o homem é o único ao qual é funcionalmente exigida uma solução para o problema do existir.Assim, criando uma terminologia própria, Heidegger denomina o modo de ser do homem, nossa existência, com a palavra Dasein, cujo sentido é ser-aí, estar aí, histórico e situado, e por isso já é sempre um algo forjado nesta ou naquela situação. É o acontecimento que tem a forma do salto, do imediato, não tendo nenhum sujeito ou causa que sustente isso por trás. Nesse sentido ele é lançado, jogado no mundo, e por isso o vivente sempre já se fez, pois existe a co-pertinência entre homem e mundo, por isso não entendemos se o homem fez o mundo ou vice-versa, pois a junção disso é o próprio salto. E esse ser-no-mundo é o modo fundamental do homem, já que o ente nele mesmo é uma possibilidade de ser no mundo antes de todo e qualquer eu, porém já sempre situado e imerso no jogo sujeito/objeto, pois realidade se faz realidade nesse jogo.
·         Heidegger recusa-se a separar o ser do sendo, o sentido do dado: a aparente gratuidade do existente é precisamente o sinal da presença do ser no seio do mundo, o reflexo da transcendência do sentido. Não há, com efeito, qualquer possibilidade de conhecer o sendo fora da luz do ser. Segundo ele o verdadeiro mundo não é o da ação ou o da contemplação; é o da presença, ora, esta engloba o sendo no seu conjunto como o existente humano. Desse modo, não se pode definir o homem em relação a ele mesmo: ele não é um sujeito isolado que, tomando-se como objeto de reflexão, operaria uma reflexão do mundo. O ser humano existe em conaturalidade com os sendos circundantes que o investem, com efeito, não se trata mais do homem concebido primeiramente como um ser isolado e solto que tivesse de vir ao mundo para aí cumprir uma trajetória finita, mas, ao contrário, o ser-no-mundo é a condição fundamental do homem mesmo em sua humanidade. Ele irá chamar essa ontologia de hermenêutica, pois não ensina mais verdades, mas nos ensina como interpretar.
ü  *Ontologia – (em grego ontos e logoi, "conhecimento do ser") é a parte da Filosofia que trata da natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas em geral. A ontologia trata do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Costuma ser confundida com metafísica. Conquanto tenham certa comunhão ou interseção em objeto de estudo, nenhuma das duas áreas é subconjunto lógico da outra, ainda que na identidade.
ü  *Hermenêutica – é um ramo da Filosofia que se debate com a compreensão humana e a interpretação de textos escritos. A palavra deriva do nome do deus grego Hermes, o mensageiro dos deuses, a quem os gregos atribuíam a origem da linguagem e da escrita e considerado o patrono da comunicação e do entendimento humano. O termo "hermenêutica" provém do verbo grego "hermēneuein" e significa "declarar", "anunciar", "interpretar", "esclarecer" e, por último, "traduzir". Significa que alguma coisa é "tornada compreensível" ou "levada à compreensão".
·         A EXISTÊNCIA, portanto, será um meio-termo, caracterizado por um movimento perpétuo de vai-e-vem entre o real pré-dado na situação e a realidade desvelada na compreensão.
·         A TRANSCENDÊNCIA é, segundo Heidegger, a expressão dessa dinâmica interior do ser. O que equivale a dizer que o modo humano de ser é interrogativo.
·         A EXISTÊNCIA não para de repor em questão, superando-a, a realidade que a determina, sem deixar, portanto, de existir nela.
·         E o DASEIN é o único que pergunta, é o único capaz de se questionar sobre o sentido do ser, questionar é ir à raiz, é procurar o ente naquilo que ele é e como ele é, por isso, Heidegger privilegia o Dasein porque ele é capaz de perguntar pelo SENTIDO DO SER. A grande questão na filosofia heideggeriana é o ente como questionador (Dasein). É a análise do ente, de seu modo de existir capaz de questionar, pois o objetivo é o ser do ente, é explicar o próprio ente.
·         O SER é o conceito mais universal de todos porque é o primeiro lançado em nossas cabeças, e por isso o mais evidente. Por ser o mais universal, isto é, o geral, não tem limitação, portanto é indefinível. Assim, o conceito de ser está acima, fora e transcendente ao gênero e a diferença específica, portanto, o conceito de ser transcende ao gênero e a espécie, desse modo, podemos definir o conceito de ser como o mais universal, indefinível e evidente por si mesmo. O SENTIDO DE SER é um arranjo das coisas de tal sorte que elas se revelam exatamente nesse contexto. É sempre o contexto das coisas que mostra o seu significado. Nada faz sentido sozinho, o ser humano ganha o seu sentido na história. O sentido do ser está dentro da progressão temporal, nesse sentido, nós sempre progredimos e evoluímos.
·         A clara e evidente questão do ser nos mostra a incompreensão. Compreendo o ser em parte, entretanto, existe uma obscuridade de fundo. TODA COMPREENSÃO ÓBVIA nos demonstra uma obscuridade, portanto, em toda compreensão também há uma incompreensão. Já conheço o sentido do ser, mas ainda não totalmente. Trazer para a luz do dia, tornar claro e visível em si mesmo é o que o fenômeno realiza. A FENOMENOLOGIA é um conhecimento das coisas que se mostram em si mesmo, isto é, vem a luz, ou seja, não existe um processo de abstração, mas sim uma revelação.
·         O FENÔMENO é um processo de totalidade de tudo quanto é, mas que se mostra por si mesmo sem o recurso do processo de abstração, porém, as coisas não se revelam individualmente, mas no contexto. O ENTE se faz ver assim como fumaça, isto é, o ser (fogo) se revela como ente (fumaça). Onde há fogo há fumaça, bem como, onde há ente há necessariamente ser, assim, o primeiro significado de fenômeno é aquilo que se revela em si mesmo e o segundo sentido é aquilo que se faz ver como uma aparência.
·         A FENOMENOLOGIA, numa visão heideggeriana, é um esforço de revelar aquilo que está oculto. Fazer Filosofia é um processo de retirada do “véu de maia”. A estrutura da ocultação e da revelação se interligam e cabe ao filósofo trazer à claridade aquilo que está oculto. A estrutura vem à tona, mas a claridade nunca é total sempre há uma obscuridade, por isso a busca do sentido nunca chega ao fim, devido a isso sempre haverá filosofia, deste modo, podemos definir fenômeno como aquilo que se torna visível a si mesmo. MANIFESTAR-SE é o não se mostrar como é o caso da doença, nesta temos apenas os sintomas (uma aparência traz a carga de uma realidade), temos manifestações. De tal modo, a verdadeira realidade do fenômeno está oculta pelo sintoma.
·         Heidegger, dentro dessa perspectiva, especula sobre “... em que perspectiva intellectus e res concordam?...”. De tal modo, o que vincula a relação do enunciado com a coisa? Esta pergunta está calada. Exemplificando temos o enunciado ‘A parede é branca’ correspondendo ao objeto ‘parede branca’ entre muitas outras relações existentes em meio a parede e suas qualidades, assim obtemos a correspondência de igualdade entre o intelecto e a coisa, mas o que possibilita a correspondência dessa relação não está explicito para o senso comum, porém,  na visão de Heidegger, o que possibilita essa relação é o OLHAR ANTECIPADOR, é uma abertura prévia do ser no mundo, que é um princípio de realidade, uma unidade complexa, desse modo, são possíveis tantas concordâncias e quantas perspectivas tivermos, por isso não podemos afirmar que tudo que anunciamos é verdade, pois irá depender da perspectiva, esta entendida como “ver através, sendo o médium do enunciado que se faz visível, pois é desde o olhar calado, porém, presente e antecipador que o objeto se faz visível. Por isso o ente mesmo é sempre um modo de possibilidade de ser.
·         Voltando-nos sob a obra Ser e Tempo encontramos a afirmação que explicita melhor essa análise, pois de acordo com Heidegger o “... ser verdadeiro enquanto ser-descobridor é um modo de ser da presença...”.  A PRESENÇA é ser-no-mundo e só isso é descobridor, pois SOMENTE O HOMEM É na determinação da verdade. Essa dinâmica de SER-NO-MUNDO acontecendo constitui o fenômeno originário da verdade, que é o fenômeno do aparecer (descoberta). A caracterização do ser verdadeiro como descobridor trata-se de uma sincera apropriação da realidade grega (aletheia = desvelamento, descoberta). ABERTURA enquanto disposição, compreensão e discurso perfazem o projeto do homem no mundo e marca a cura, e é nesse movimento que se dá descoberta, constituindo o fenômeno mais originário da verdade, gerando a afirmação de Heidegger – “... O homem é e está na verdade...” A abertura, assim, é o único e o mesmo ato juntamente com a disposição, compreensão e discurso, é o instante, é a vida, nesse sentido, é absolutamente ímpar afirmar o homem como sendo abertura.
·         Dentro desse ponto de vista em relação ao ser, na visão heideggeriana, podemos fazer uma analogia com o filósofo Nietzsche, pois quando dizemos “modos de ser” em Heidegger este tem o mesmo sentido do conceito “força” em Nietzsche, já que, no fundo, ambos são “possibilidade de possibilidade” passíveis de serem tocado por outro.
·         Em NIETZSCHE, o conceito de vontade de potência diz respeito ao realizar-se do impulso, contudo, em momento algum, ele acredita haver um único impulso, pois esse é criador de tudo o que existe. O IMPULSO só existe no plural; não é em si, mas em relação com outros, é um agir sobre, assim, podemos dizer que tudo o que existe é constituído por impulsos agindo e resistindo uns em relação aos outros, da mesma maneira como ocorre no conceito “modos de ser” da visão heideggeriana. E a cada momento os impulsos, em Nietzsche, relacionam-se de modo diferente, e a todo instante a vontade de potência faz surgir novas formas. O MUNDO, então, apresenta-se como pleno devir; a cada mudança segue-se outra, é um eterno vir-a-ser, porém, “... não encontramos em Nietzsche exaltação incondicional da vida. A vida não é a totalidade, ela não é o objeto da afirmação mais alta. Certamente a vontade de potência é pensada sobre o modelo da vida, como faculdade de se conservar e de se acrescer, de exercer o perspectivismo de suas forças.” A vontade de potência nietszchiana desdobra sua propriedade bem além do homem, pois a natureza inteira é vontade de potência. A NATUREZA em seu conjunto é imparcial, não somente em relação ao Bem e ao Mal, mas em relação à vida e à morte.  O caráter de ‘finalidade’, acrescenta Nietzsche, é acessório, humano, assim, a vida não é o objetivo supremo da natureza. Assim sendo, pode-se perceber que a perspectiva de Nietzsche e Heidegger quanto ao “impulso” e aos “modos de ser” são análogas, isto é, referem-se a conceitos diversos, porém com o mesmo sentido, o da “possibilidade de possibilidade” o qual engendra relações com o outro.
·         Na perspectiva heideggeriana o homem preenche a possibilidade de ser com a cura (= ser já sempre ocupado de, com, no qual abarca todo o existencial) e aí nasce o homem, pois A CURA é o lugar onde as coisas se dão, é o âmbito onde se dá compreensão de ser no modo próprio de ser, desse modo, o homem já é sempre numa determinação, um sujeito, é um ente histórico inserido no mundo e nos valores. E ao se dar na abertura, o homem, quando se dá conta disso ele já é isso, mas ele também se projeta nisso, por isso é vir-a-ser. A filosofia de Heidegger é circular, pois procura o sentido avançando e se desdobrando. Ele trabalha com o círculo hermenêutico e não com o sentido de causa. O próprio HERÁCLITO nos diz, à sua maneira, a presença universal do ser: a permanência do rio não existe senão pelo fluxo das águas. Também concorda com PARMÊNIDES: o movimento é idêntico a aparição do ser. OS PRÉ-SOCRÁTICOS compreendem as coisas na sua raiz, na sua fonte. O universo da presença manifesta-se numa unidade harmoniosa que conjuga o devir e o ser. Ele não se revela sob um duplo aspecto, excluindo uma dicotomia que nos é familiar: a da representação das coisas e da linguagem.  Nesse sentido, podemos nos referir ao pré-socrático HERÁCLITO, pois sua doutrina fundamenta-se no movimento de todas as coisas, o ser identifica-se com sua manifestação, e só há manifestação para o homem. O encontro da questão do ser com a tese da existência, vai ser o ponto de partida de uma projeção mítica, pois Heidegger reconduz o assunto da questão do ser à aurora do pensamento ocidental. Os pré-socráticos: Parmênides, Heráclito, Anaximandro, primeiros pensadores, trouxeram uma perspectiva nova sobre o ser, isenta de pré-juízos.
·         Dentro dessa visão pré-socrática, Heidegger afirma que para aquele que se dispõem a fazer o CAMINHO DA VERDADE ela aparece, pois essa se revela para quem faz, porém o ERRO está em querer provar a verdade, pois esta estrutura não é objetiva nem subjetiva, mas é a evidencia da ação do fazer. Entendendo VIDA como ação, atividade, porque já é sempre interpretação, compreensão, e isso permite uma lida (trabalho) oportuna das coisas.
·         Verdade, desse modo, é o jogo integrador onde não temos objetos singulares, mas uma unidade que dá sentido ao todo. Nesse sentido, as três teses de Heidegger, expostas em sua obra Ser e Tempo, que caracterizam a apreensão tradicional de essência da verdade, são:
·         O “lugar” da verdade é a proposição;
·         A essência da verdade reside na concordância entre o juízo e o seu objeto,
·         Aristóteles colocou a definição da “verdade” como “concordância”.
·         Desta maneira, a noção metafísica de verdade limita-se a estabelecer relações de identidade ou de conformidade entre os fenômenos observados, e ao fazer isto, negligencia o fenômeno original da aparição. Como é possível representar os objetos se não há um lugar onde possam ser iluminados? Ora, a verdade realiza-se bem mais no plano desta visão primordial do que no das visões particulares. Ver um objeto não é, primeiramente, descobri-lo, abri-lo a algo diferente dele? É no interior dessa abertura ontológica que toda a visão é possível. A ABERTURA é o meio de onde surge a coisa.
·         A REALIDADE aparece carregada de significações de que o espírito não percebe senão o esqueleto. O pano de fundo no qual este se desvela é o ser-no-mundo, mas também o mundo do ser. A VERDADE é o desvelamento (a-letheia) que faz sair do ser do esquecimento.
·         Ninguém possui a verdade. Não existe uma verdade imutável, suspensa no firmamento dos ideais, há somente uma verdade temporal que nos constitui e que descobrimos na história, deste modo, o fenômeno da verdade resulta no ser como abertura e descoberta, e no caráter derivado do conceito de verdade - “... a não verdade é o encobrimento...”.
·         Segundo Heidegger, “... a proposição verdadeira significa: ela descobre o ente em si mesmo. Ela propõe, indica, ‘deixa ver’ o ente em seu ser e estar descoberto. O ser verdadeiro (verdade) da proposição deve ser entendido no sentido ser-descobridor...”.
·         O que podemos entender com a declaração “ente em si mesmo”?
·         Esta expressão é a transcendência de mundo, isto é, é sendo ser-no-mundo que o homem se dá e está incluído. Assim, o ENTE mesmo é conceituado como o ser-no-mundo, como uma afeição, uma disposição, um assim como, portanto, SER-NO-MUNDO é o nome da dinâmica da verdade fazendo verdade, ou melhor, da realidade fazendo realidade, é o modo fundamental do homem, do ser-descobridor. E é neste momento que se dá a descoberta, pois “... DESCOBRIR é o modo de ser-no-mundo..., assim sendo podemos afirmar que PRESENÇA é essencialmente a sua abertura, entretanto, segundo Heidegger “... em sua constituição ontológica, a presença é e está na ‘não verdade’ porque é, em sua essência, decadente...”, de tal modo, em seu modo de ser próprio a presença é e ESTÁ NA VERDADE e TAMBÉM NA NÃO VERDADE, pois está lançada no impessoal, no esquecimento, isto é, a presença é absolutamente necessária, autêntica, verdadeira, ocupando-se de tal maneira do mundo que sai de si, e nesse sentido, se perde no mundo.
·         A intuição central de Heidegger é a de que O HOMEM é uma consciência finita, e sua presença no mundo é inexplicável, injustificável e absurda. Resulta dessa idéia que a morte é um dos temas mais constantes de sua filosofia. O caráter de SER-MORTAL impregna tão profundamente o homem, que o sinal de uma existência autenticamente humana será olhar sem ilusão alguma para o mergulho no nada que é a morte. Em sua filosofia, DEUS é ignorado e não há referência a um ser transcendente. A existência humana basta-se a si mesma, por isso, o HUMANISMO de Heidegger é chamado de absoluto, pois está fechado em si mesmo.
·         Heidegger ao analisar a vida humana, descreve três características básicas que marcam a EXISTÊNCIA INAUTÊNTICA:
  1. O FATO DA EXISTÊNCIA: o homem é ‘lançado’ ao mundo, sem saber por quê. Ao despertar para a consciência da vida, já está aí, sem ter pedido.
  2. O DESENVOLVIMENTO DA EXISTÊNCIA: o ser humano estabelece relações com o mundo (ambiente natural e social historicamente situado). Para existir, o homem projeta sua vida e procura agir no campo de suas possibilidades, assim, move uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é. Em outras palavras, existir é construir um projeto.
  3. A DESTRUIÇÃO DO EU: na busca de realizar seu projeto, o homem sofre a interferência de uma série de fatores adversos que o desviam de seu caminho existencial. Trata-se de um confronto entre o eu com os outros. Um confronto no qual o homem comum é, geralmente, derrotado. O seu eu é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana. Em vez de tornar-se si mesmo, o homem torna-se aquilo que os outros desejam. O sentimento profundo que faz o homem despertar da existência inautêntica é a ANGÚSTIA, pois ela revela a nossa impessoalidade no cotidiano, o abandono do nosso próprio eu adiante da opressão do mundo como um todo.
·         A partir desse estado de angústia, abre-se para o homem uma alternativa: FUGIR de novo para o esquecimento de sua dimensão profunda, isto é, O SER, e retornar ao cotidiano; ou SUPERAR a própria angústia, manifestando seu poder de transcendência sobre o mundo e sobre si mesmo. Aqui surge um dos temas chaves de Heidegger: o homem pode transcender, o que significa dizer que o homem está capacitado a atribuir um sentido ao ser, e nesse sentido a angústia está na possibilidade da vida da existência cunhar a possibilidade da própria vida.
·         Na “noite clara” da angústia, dirá Heidegger, nossa vida, subjugada pela ditadura do “impessoal”, alienada na seqüência dos afazeres correntes, radicalmente distraída de seu sentido fundamental, recobra sua autenticidade perdida. A função da angústia consiste em reconduzir o homem ao encontro consigo mesmo.
·         Ousadamente, Heidegger conceituará como condição a priori de possibilidade, isto é, como o estado de ser, O TEMPO, ou melhor dizendo, A TEMPORALIDADE. Surpreendemos assim, nascidos no cerne do existir humano, o futuro, o passado e o presente, os três momentos fundamentais da temporalidade. O TEMPO é, portanto o próprio homem conduzido à plena elucidação de seu mais íntimo ser.
·         À luz da analítica heideggeriana, o tempo deixa de ser algo exterior que nos sobreviria de fora para impor-nos sua lei, mutilar-nos se for preciso. O TEMPO é, na realidade, o HOMEM MESMO como SER-NO-MUNDO, entendendo o homem enquanto TOLHIDO NA FACTICIDADE e já POSSUÍDO PELA MORTE, mas igualmente homem na ULTRAPASSAGEM GLORIOSA do projeto e na EXALTAÇÃO DO IMPULSO. O PORVIR, enquanto dimensão interna da liberdade, constitui, poderíamos assim dizer, a parte divina de nossa natureza; aquela que, se viesse a preencher todo o espaço disponível, nos tornaria deuses.
·         Dentro desse contexto a estrutura arcaica originária da vida é ação, atividade, porque já é sempre interpretação, pois no momento em que cadência e decadência formam um só ritmo, tem o jogo da criação retomado, isto é, o movimento de passagem para o outro, a hora em que a ação se interrompe porque já se fez tudo o que podia. E a DINÂMICA que integra essa relação é não é a do livre arbítrio do sujeito, pois o criador se põe numa escuta que culmina com a perda e com o refazer da experiência, desse modo, a dinâmica da vida é representada como acontecimento, como história. E homem, dentro dessa visão, é conceituado como um fazer, que nesse movimento é um encobrir, uma superação de esforço no qual precisa conquistar o seu modo de ser.
·         Em suma, de acordo com a visão heideggeriana “... toda verdade é relativa ao ser da presença na medida em que seu modo de ser possui essencialmente o caráter da presença...” , analisando em linhas gerais este fragmento podemos dizer que se o homem compreende o mundo no interior da situação, é porque ele próprio está situado na compreensão do ser e, portanto, constituído Dasein, logo, existir é reconhecer este dom pelo qual estamos despertos para o ser. Desse modo, Heidegger ao descrever o fenômeno originário da verdade nos fala da estrutura de ação enquanto ser–no–mundo.

EXERCÍCIO PARA CASA:
1) Segundo Heidegger, qual o outro plano que existe que não seja o das causas das circunstância que vivemos e onde ele nos situa?
2) Segundo Heidegger como as idéias e as crenças que nos refugiamos se impõem para nós?
3) Segundo Heidegger, qual o universo em que coloca a questão do ser?
4) Heidegger aborda o problema do ser empregando o método fenomenológico. O que este método pretende abordar?
5) Para Heidegger a existência não é um simples fato. O que ela é?
6) Qual a diferença entre existir e pensar para Heidegger?
7) Qual a questão fundamental da filosofia de Heidegger?
8) Cite um dos objetivos básicos da obra de Heidegger “O Ser e o Tempo”?
9) Heidegger substitui a pergunta dos filósofos clássicos sobre o que é o ser por outra mais profunda. Qual foi essa indagação?
10) Segundo Heidegger, porque não se pode definir o homem em relação a ele mesmo?
11) O que é o homem para Heidegger?
12) O que é existência para Heidegger?
13) Qual é o ponto de partida necessário de toda tentativa por determinar o ser do ente em geral segundo Heidegger?
14) Segundo Heidegger, o que é Dasein?
15) Segundo Heidegger, o que é o verdadeiro mundo?
16) O que é ser-no-mundo para Heidegger?
17) O que é transcendência para Heidegger?
18) O que determina a existência segundo Heidegger?
19) Segundo Heidegger, o que é o ser?
20) Segundo Heidegger, o que é o sentido de ser?
21) Segundo Heidegger, porque toda compreensão é óbvia?
22) O que é fenomenologia para Heidegger?
23) O que é o fenômeno para Heidegger?
24) Segundo Heidegger, como o ente se manifesta?
25) Segundo Heidegger o que possibilita a vinculação da relação do enunciado com a coisa?
26) Segundo Heidegger, o que é presença?
R: É ser no mundo, descobridor, pois somente o homem é na determinação da verdade. O ser no mundo acontece e constitui o fenômeno originário da verdade que aparece.
27) Segundo Heidegger, o que é abertura?
28) Segundo Heidegger, o que é impulso?
29) Segundo Heidegger, como se apresenta o Mundo?
30) Como se dá a imparcialidade da natureza segundo Heidegger?
31) Segundo Heidegger, o que é a cura?
32)Dentro da visão pré-socrática, o que afirma Heidegger para aquele que se dispõe a fazer o caminho da verdade?
33) Para Heidegger, com relação ao caminho da verdade, onde está o erro?
34) Segundo Heidegger, qual é o lugar da verdade?
35) Segundo Heidegger, onde reside a essência da verdade?
36) Segundo Heidegger, ninguém possui a verdade. Por quê?
37) Segundo Heidegger o que é a “não verdade”?
38) Segundo Heidegger, o que significa uma proposição verdadeira?
39) Segundo Heidegger, como deve ser entendido o ser verdadeiro da proposição verdadeira?
40) O que podemos entender com a declaração de Heidegger “ente em si mesmo”?

2 – Existencialismo de Jean Paul Charles Aymard Sartre (1905 – 1980):
·         Filósofo francês nascido em Paris no dia 21 de junho de 1905. Morreu na sua cidade natal em 15 de abril de 1980. Conhecido escritor e crítico.
·         A posição de Sartre ao afirmar que a existência precede a essência: "significa que o homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e só depois se define" O HOMEM é, não apenas como ele se concebe, mas como ele quer que seja, como ele se concebe depois da existência, como ele se deseja após este impulso para a existência; o homem não é mais do que o que ele faz.
·         Sua preocupação é de que o homem, diante de suas inúmeras escolhas assuma a responsabilidade de uma opção. Para Sartre o EXISTENCIALISMO é uma doutrina que torna a vida humana possível, por outro lado declara que toda a verdade e toda a ação implicam um meio e uma subjetividade humana, o homem existe, se descobre, surge no mundo e só depois se define, ou seja, não é mais do que faz.
·         IDÉIA (essência ) => ( criar + ação = criação) => existência real do objeto.
·         Essa responsabilidade é que gera a angústia, pois cada indivíduo está pronto a escolher tanto a si como a humanidade, NÃO ESCAPA a essa situação.
·         O PRINCÍPIO DE SARTRE é a não existência de Deus, o homem não tem ao que se apegar. Somos livres, sós e sem des + culpas.
·         Uma vez não tendo essência, a liberdade deve-se fazer, se criar. A consciência (com + ciência) se lança no futuro se distanciando do passado.
·         Sartre considera que o materialismo aniquila o homem.
·         O ponto de partida do existencialismo sartriano é a subjetividade. Na subjetividade existencial, porém, o homem não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros, como condição de sua existência.
·         Não há natureza, mas condição humana.
·         O HOMEM é sempre "situado e datado", embora o conteúdo de sua situação varie no tempo e no espaço. O homem não é um "em si" ele é um "para si", que a rigor não é nada. A CONSCIÊNCIA não tem conteúdo e, portanto, não é coisa alguma. Esse vazio é a liberdade fundamental do "para si". É a liberdade, movendo-se através das possibilidades, que poderá criar-lhe um conteúdo. Eis o que o homem, ao experimentar essa liberdade, ao sentir-se como um vazio, experimenta a angústia da escolha. Muitas pessoas não suportam essa angústia, fogem dela aninhando-se na má-fé.
·         A MÁ-FÉ é a atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher. Imagina que seu destino está traçado, que os valores são dados; aceitando as verdades exteriores, "mente para si mesmo", que é o autor dos seus próprios atos. Nesse processo recusa a dimensão do "PARA SI", torna-se um "EM SI", semelhante às coisas. Perde a transcendência e reduz-se a facticidade.
·         Sartre chama esse comportamento de ESPÍRITO DE SERIEDADE. O homem sério é aquele que recusa a sua liberdade para viver o conformismo e a respeitabilidade da ordem estabelecida e da tradição.
·         O INDIVÍDUO, enquanto tal, naquilo que apresenta de particular, é o objeto de percepção sensível e não de apreensão intelectual.
·         Conclui-se que o existencialismo é uma moral da ação, porque considera que a única coisa que define o homem é o seu ato. ATO LIVRE por excelência, mesmo que o homem esteja sempre situado num determinado tempo e lugar.
·         Não importa o que as circunstâncias fazem do homem, "mas o que ele faz do que fizeram dele".

EXERCÍCIO PARA CASA:
41) O que significa quando Sartre afirmou que a existência precede a essência?
42) O que é o homem para Sartre?
43) O que é o existencialismo para Sartre?
44) Para Sartre, o que é idéia?
45) Qual é o princípio da filosofia de Sartre?
46) Qual é o ponto de partida do existencialismo sartriano?
47) O que é a consciência para Sartre?
48) O que é má fé para Sartre?
49) Para Sartre, o que é um homem sério?
50) Para Sartre o que é o indivíduo?
51) Para Sartre o que é um ato livre?

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