8 – Filosofia da morte:
· Na sabedoria do povo há um ditado que diz: “perdemos a nossa infância assim que descobrimos que vamos morrer”.
· A morte é a coisa mais democrática da humanidade, é um destino inexorável de todos os seres vivos, mas só o homem tem essa consciência.
· “O que se tornou perfeito, inteiramente maduro, quer morrer”. (Nietzsche).
· A morte sempre trouxe questionamentos e angústia para o homem desde os tempos mais primitivos. Uma das grandes questões para a Filosofia responder é sobre o sentido da vida. De onde viemos? Por que viemos? Para onde vamos?
· A crença na imortalidade simboliza a negação do homem finito e o anseio por uma vida eterna além-túmulo.
· A Psicologia explica que durante a vida enfrentamos vários MOMENTOS DE LUTO: ao NASCER, experimentamos a primeira morte quando rompemos com o aconchegante mundo intra-uterino, momento em que nos deparamos com o desconhecido, isto é, com a vida social. Na ADOLESCÊNCIA, enfrentamos o luto pela perda do corpo infantil e a entrada no desconhecido mundo dos adultos. Na VIDA ADULTA enfrentamos o envelhecimento físico e o luto pela perda do corpo jovial para entrar no desconhecido mundo da SENILIDADE. Finalmente abandonamos o velho mundo para entrar no desconhecido MUNDO DOS MORTOS.
· É o conflito entre o velho e o novo num ciclo infinito de mudanças.
· “... observando a história e os diversos povos, podemos verificar que o sentido da morte não foi sempre o mesmo. O certo é que a maneira pela qual um povo enfrenta a morte ou o significado que lha dá reflete de certa forma o sentido que ele confere à vida. Os pólos antagônicos vida e morte não são excludentes, mas são formas dialéticas inseparáveis”. (Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins – Filosofando – Introdução à Filosofia, pg. 368).
· Para as sociedades mais primitivas, a morte de um indivíduo está integrada às práticas coletivas do culto aos ancestrais. Neste caso a morte é entendida como o momento de assumir uma nova forma de existir na comunidade dos mortos. Daí os rituais de passagem, onde vivos, totem, Deuses e antepassados participam da mesma realidade vital.
· Historicamente, as cerimônias fúnebres sempre foram realizadas conforme a tradição da religião do morto que é chorado, relembrado e sua ausência é assinalada pelo luto que pode variar o tempo conforme a época e os costumes locais.
· “... em algumas regiões, a viúva deve guardá-lo pelo resto da vida. Um conjunto de atos determinados socialmente, como visitas ao cemitério, missas para a alma do morto, flores, visitas de pêsames e cartas de condolências, ajuda os parentes a atravessar o período doloroso da perda e a reintegração à vida normal”. (Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins – Filosofando – Introdução à Filosofia, pg. 369).
· Segundo Maria Lúcia e Maria Helena, a vida moderna e o acelerado processo de urbanização têm modificado o comportamento do homem diante da morte. Antigos laços comunitários vêm sendo rompidos e as pessoas consequentemente estão caindo num extremo individualismo. O pouco tempo livre que resta não permite mais ao homem dedicar-se aos velhos e aos doentes que são “transferidos” para asilos ou hospitais a fim de que recebam “tratamento especializado” de médicos e profissionais de saúde treinados.
· Os velórios também foram transferidos para Capelas mortuárias onde em geral não se levam crianças que por sua vez não vivenciam e nem aprendem sobre a morte e o luto. A justificativa desta mudança é evitar traumatizar a criança que recebe explicações vagas do tipo: “longa viagem”, “foi morar com o Papai do Céu”, etc.
· Maria Lúcia e Maria Helena enfatizam o pensamento de José Luiz de Souza Maranhão quando ele expõe que antigamente se ocultava a concepção e o nascimento dos bebês, assuntos considerados por muitos como “pornográficos”. Hoje, porém, fala-se abertamente sobre sexo, evitando-se falar sobre morte que tornou-se “obscena” e excitante. Os filmes violentos e sangrentos tomaram o lugar dos filmes de sexo na preferência popular.
· “A curiosidade mórbida mostra o deslocamento do tabu: ‘A morte, não o sexo, é agora o tabu que violamos”. (Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins – Filosofando – Introdução à Filosofia, pg. 370).
· A “obscenidade” da morte se torna mais grave em casos de doenças terminais, onde se esconde até do paciente sua doença letal e sua morte próxima. Morte tornou-se uma palavra tão assustadora que a maior parte das pessoas prefere nem falar sobre este assunto “obsceno”.
· Daí a necessidade de se “encobrir” a morte com um defunto bem arrumado, maquiado e num caixão acolchoado que parece até uma confortável cama. É um modo de disfarçar a morte sob a aparência de um repousante sono.
· Segundo Maria Lúcia e Maria Helena, por trás da ocultação da morte está a dificuldade de lidar com ela e relacionada com a incapacidade de lidar com a vida.
· Quanto mais difícil a vida de uma pessoa, mais insuportável se torna a idéia de morrer sem realizar seus sonhos e metas de uma vida melhor. O homem autêntico enfrenta suas angústias e assume com responsabilidade a construção de sua vida enquanto o inautêntico foge delas e refugia-se na impessoalidade, na negação da transcendência e na repetição do que todo mundo faz.
· Resgatar a consciência da morte, não é alimentar sentimentos mórbidos, obcecados pela morte inevitável, mas assumir a finitude da vida reavaliando nossos comportamentos, escolhas e atitudes.
EXERCÍCIO PARA CASA:
104) Como é encarada a morte no mundo tribal?
105) Como é encarada a morte nas sociedades tradicionais?
106) Como homem contemporâneo das grandes cidades encara a morte?
107) Qual é o sentido existencial da reflexão sobre a morte?
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