7.1 – O problema do conhecimento (Epistemologia):
· Século XVII – culminação de um processo em que se subverteu a imagem que o homem tinha de si próprio e do mundo graças a emergência da nova classe dos burgueses determinante da produção de uma nova realidade cultural, a ciência física, que se exprime matematicamente.
· A atividade filosófica reinicia um novo trajeto se desdobrando como uma reflexão cujo pano de fundo é a existência dessa ciência.
· A busca de evitar o erro faz surgir uma nova reflexão chamada teoria do conhecimento (epistemologia).
· Para a Teoria do Conhecimento faz-se necessário uma descrição do fenômeno do conhecimento numa relação intencional entre um sujeito e um objeto.
· O sujeito só é sujeito enquanto sujeito (essência de ser para) para um objeto que só é objeto enquanto objeto para um sujeito.
· O sujeito cognoscente e o objeto cognoscitivel (conhecido) está numa relação de dualidade onde o sujeito apossa-se do objeto pelo pensamento enquanto o objeto determina o pensamento do sujeito. Sujeito é passivo já que o objeto é quem determina modificações no sujeito (idéia) sem sofrer qualquer modificação.
· Sujeito isolado = entidade, Objeto isolado = coisa.
· No ato de conhecer por exemplo, o sujeito só se descobre como vidente na medida que no mundo existem objetos visíveis. O homem conhece através dos sentidos.
· Exemplo: Se no mundo tudo fosse da mesma cor e tonalidade, não veríamos nada.
7.2 – Na teoria do conhecimento existem cinco desdobramentos primordiais que são:
1. É possível ao homem obter algum conhecimento verdadeiro? O dogmatismo e o ceticismo tentaram responder a esta pergunta.
2. Qual a essência do conhecimento e quais as especificidades da relação de conhecimento? Temos a doutrina do Idealismo, do Materialismo e do Realismo que tentaram responder esta pergunta.
3. Aonde é a fonte principal do conhecimento humano, na experiência ou na razão? O Racionalismo e o Empirismo tentaram responder a esta pergunta.
4. Quais as formas de conhecimento humano? O Racionalismo e o Empirismo tentaram responder a esta pergunta.
5. Qual critério usar para saber se um conhecimento é verdadeiro ou falso?
· Idealismo = considera o real redutível à idéia que é a essência da realidade, onde o Ser é determinado pelo Pensar.
· Materialismo dialético = parte de uma posição dogmática afirmando que o conhecimento em si mesmo não é um problema, mas um fato. Recusa-se a questionar a ligação entre sujeito e objeto. Para o Materialismo o ser é igual à matéria, o pensamento é um produto da matéria que atingiu um alto grau de perfeição cerebral, nada existe fora ou transcendente da matéria = única posição que responde às exigências do pensamento científico.
· Realismo = postula contra o idealismo que o conhecimento é determinado pelo ser que lhe é anterior sob todos os aspectos. Tudo o que nós percebemos existem no sentido metafísico do termo, isto é, tem um ato próprio de existência que os põe fora do nada e de suas causas de nosso pensamento. É dogmático, pois não se demonstra porque não tem necessidade de sê-lo, pois repousa sobre uma evidência. (Verneaux).
ü O Realismo apresenta duas tendências principais:
Ø Uma iniciada por Platão, determinada por Santo Agostinho e São Boaventura, presente em Descartes e Malebranche = influenciou no pensamento dos filósofos idealista. Admite a possibilidade de um conhecimento rigoroso no âmbito de metafísica.
Ø A outra, iniciada por Aristóteles, culmina em são Tomás de Aquino e se prolonga na escola tomista = levou os filósofos empiristas a supervalorizarem a passividade do sujeito.
01 Na vida, não acontece o conhecer puro, normalmente vem misturado com relações de ódio, possessividade, etc. há sempre uma distância entre o sujeito e o objeto, não está colado. Mesmo no ato de autoconhecimento, estabelece-se uma distância entre o sujeito cognoscente e o autocognoscitivo.
7.3 – Pode realmente o homem obter algum conhecimento verdadeiro?
· A.1 – Dogmatismo = aceita por princípio que o homem pode ter algum conhecimento verdadeiro que é diferente de conhecer a verdade. Admite a dificuldade de se obter conhecimento e também não renuncia à crítica e a polêmica como meios eficazes de obtê-lo.
· A.2 – Dogmatismo radical = prega que não se questiona a relação de conhecimento entre o Sujeito e o Objeto, simplesmente aceita-se a tese em bloco sem críticas. Hessen compara o dogmatismo com o agir da criança que não questiona.
· B.1 – Ceticismo radical puro = não aceita qualquer possibilidade de conhecimento. O importante é esvaziar-se de tudo o que sabemos para poder buscar as verdades.
· B.2 – Ceticismo mais atual = prega que “Tudo é ideológico e como a ideologia não há verdades, não podemos então obter a verdade”.
· O ser humano é ávido por absolutos para poder neles descansar. Relato de Sócrates sobre o amor: “No dia do nascimento de Afrodite (Deusa da beleza), o Deus Poros (Deus caminhante) estava embriagado de Néctar. A Deusa Pérsia (Miséria e carência) se aproxima dele e a ele se une tendo um filho chamado Eros”. O homem tentou durante toda a sua história negar esta realidade. Por isso o homem é um ser insaciável.
· Sobre a origem do conhecimento surge uma polêmica na Filosofia Moderna entre os pensamentos racionalistas X empiristas.
RACIONALISMO
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EMPIRISMO
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1 –Privilegia o conhecimento racional como única fonte segura de conhecimento, pois o conhecimento que vem da experiência é ilusório, de segunda categoria e não permite o aceso à verdade.
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1 –– A experiência sensível nos fornece apenas o singular e o contingente. Não propicia uma validade universal.
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2 –A razão exige Universalidade e necessidade lógica. Se as premissas são verdadeiras a conclusão também será.
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2 –Só apresenta conhecimentos singulares e necessários. É Nominalista. Admite uma experiência interna e externa à posteriori.
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3 – Parte do conhecimento “à priori”. Universalidade e necessidade independente da experiência.
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3 – Parte do conhecimento “à posteriori”. Não admitem idéias inatas. (Espírito = tabula rasa).
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4 – A experiência nos introduz no reino do contingente, das divergências, mas apenas nos dá a proposição (doxa) do conhecimento, pois só a razão nos dá a certeza do conhecimento (aletheia).
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4 – Pelo empirismo psicológico, o conhecimento vem da experiência. Há uma preocupação pela origem do conhecimento no pensamento moderno. Já pelo empirismo lógico (neopositivista), o que torna os conhecimentos seguros e fundamentados é a experiência. É um pensamento contemporâneo que floresceu no “Círculo de Viena”.
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5 – A razão é uma faculdade que nos dá o presente, o futuro e a necessidade lógica.
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5 – A razão está presa no aqui e agora.
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EXERCÍCIO PARA CASA:
36) A epistemologia é um estudo que iniciou-se em que época histórica da Filosofia?
37) Pela epistemologia existe uma relação intencional entre duas partes no processo do conhecimento. Quais são elas?
38) De acordo com a epistemologia não existe sujeito e objeto isolados, pois se assim o fosse, o que ambos seriam?
39) Dentro da epistemologia, o que é Idealismo?
40) Dentro da epistemologia, o que prega o Materialismo Dialético?
41) Dentro da epistemologia, o que prega o Realismo?
42) Dentro da epistemologia, o que prega o Dogmatismo?
43) Dentro da epistemologia, o que prega o Racionalismo?
44) Dentro da epistemologia, o que prega o Empirismo?
18 – O conhecimento espontâneo (Senso comum):
· O bom senso é um depósito intelectual resultante de uma série de experiências
· É um conhecimento espontâneo, vulgar, ametódico e assistemático que nasce diante da tentativa do homem de resolver os problemas da sua vida diária.
· Esse tipo de conhecimento é considerado empírico porque se baseia na experiência cotidiana e comum e é feita sem um planejamento rigoroso.
· É um conhecimento que às vezes fica preso às aparências.
· Exemplo: Parece que o Sol gira em torno da Terra.
· É um conhecimento freqüentemente subjetivo.
· É também um conhecimento fragmentário, pois não estabelece conexões entre os dados.
· Exemplo 1: É impossível ao homem comum, perceber qualquer relação entre o orvalho da noite e o suor que aparece na garrafa que foi retirada da geladeira.
· Exemplo 2: Isaac Newton percebeu a Lei da gravidade comparando a “queda de uma maçã” com a “queda da Lua”.
· O homem comum tende a selecionar os dados observados sem nenhum critério de rigor.
· O Conhecimento do Senso Comum é a base para Conhecimento Científico.
EXERCÍCIO PARA CASA:
142) O que é conhecimento espontâneo (senso comum)?
19 – O conhecimento científico:
· A ciência não é um saber neutro.
· A razão é histórica e vai sendo tecida na trama da existência humana. adquirindo formas diferentes no correr dos tempos,
· A capacidade que o homem tem de discernir as diferenças e as semelhanças e de definir as propriedades dos objetos que o rodeiam num determinado momento estabelece o tipo de racionalidade naquela circunstância. Isto gera uma pré-reflexão.
· A ação do homem, inicialmente ‘colada’ ao mundo, é lentamente elucidada pela razão, que permite “viver em pensamento” a situação que pretende criar. O próprio pensamento passa a ser objeto do pensamento = auto-reflexão.
· Se a princípio o método é espontâneo, irreflexivo, porque se guia apenas pela lógica da concatenação dos estímulos e respostas úteis, mais tarde se subjetiva e se abstratiza tornando-se uma finalidade consciente da atividade ideativa.
· O senso comum e o pensamento científico coexistem num mesmo tempo e num mesmo lugar, sendo o conhecimento científico é fato histórico mais recente - século XVII.
EXERCÍCIO PARA CASA:
143) O que é o conhecimento científico?
7.4 – O racionalismo cartesiano:
· René Descartes (1596-1650) foi considerado o Pai da Filosofia Moderna.
· Seu ponto de partida é a busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida. Por isso, converteu a dúvida em método = Dúvida hiperbólica.
· Começa duvidando de tudo, das afirmações do senso comum, dos argumentos da autoridade, do testemunho dos sentidos, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e da realidade do seu próprio corpo.
· Ele só interrompe essa cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida quando pensou: “Se duvido, penso, se penso, existo”. “Cogito, ergo sum” (penso logo existo) = ponto de partida para construir seu pensamento.
· O “eu” cartesiano = puro pensamento, “res cogitans” (um ser pensante) no caminho da dúvida em busca da realidade do corpo “res extensa” (matéria).
· Além do eu cogito, existem outros cogitos que são os alter ego. Eu sou um pouco do que os outros pensam de mim, embora eu possa me distinguir das coisas, eu não subsisto sem elas.
· Suas seis meditações:
Ø 1ª Meditação – Dúvida - Dúvida hiperbólica. Considera tudo o que é duvidoso como sendo falso até o momento que se descubra o contrário. É uma abstenção de julgar por falta de elementos.
Ø *Observação do professor: “O fato de meus sentidos terem às vezes me enganado por acidente, não significa que nunca devo dar-lhes crédito”.
Ø 2ª Meditação – Cogito - Primeira certeza subjetiva. Penso, logo existo.
Ø 3ª Meditação – Deus - Certeza da existência de Deus. Como conciliar a perfeição de Deus com a falibilidade do homem?
o Primeira prova – A idéia de Deus que possuo em meu espírito é a de um ser perfeitíssimo. Deve haver tanta perfeição na causa quanto no efeito. Logo a idéia de Deus, riquíssima pela perfeição de seu conteúdo, deve ter por causa um ser tão perfeito quanto este conteúdo.
o Segunda prova – Eu existo. Tenho a idéia de um ser perfeito.
Ø Se sou a causa da minha existência ter-me-ia dado todas as perfeições.
Ø Se não sou a causa de minha existência, então o ser que me criou, com a idéia em minha mente de um ser perfeito, deve ser ele mesmo perfeito. Portanto Deus é um conhecimento objetivo que leva a outras idéias objetivas.
Ø 4ª Meditação – Erro – Deus é bom e não nos induz ao erro, a culpa do mau uso que fazemos do nosso entendimento fora de seus limites. É uma defasagem em nosso poder de julgar (liberdade) e nosso poder de entender (entendimento).
Ø 5ª Meditação – Matemática – penúltima certeza conquistada. Ele trata as idéias objetivamente e tem leis independentes das leis dos sentidos, não posso mudar que 2 + 2 = 4 apenas pelo meu bel-prazer.
Ø 6ª Meditação – Mundo – Conquista das certezas do Mundo criado por Deus. Se eu existo, Deus existe os outros existem, logo o mundo existe.
EXERCÍCIO PARA CASA:
45) Na busca de uma verdade primeira que não possa ser posta em dúvida, em que Descartes converteu a dúvida?
46) O que significa a célebre frase de René Descartes: “Cogito, ergo sum”?
7.5 – O empirismo inglês:
· Enfatiza o papel da experiência sensível no processo do conhecimento. A experiência empírica gera o conhecimento teórico.
· Francis Bacon (1561-1626) – Seu lema: “Saber é poder”, o espírito da nova ciência. Critica a lógica aristotélica, opondo ao ideal do método dedutivo a eficiência da indução como método de descoberta.
· John Locke (1632-1704) – faz uma releitura da obra de Descartes procurando saber qual é a essência, qual a origem e qual o alcance do conhecimento humano. Deixa o caminho “lógico” e escolhe o “psicológico”.
· Locke Distingue duas fontes possíveis para nossas idéias: a sensação que é o resultado da modificação feita na mente através dos sentidos e a reflexão que é a percepção que o espírito tem daquilo que nela ocorre reduzindo-se à experiência interna do resultado da experiência externa. A qualidade do objeto ocasiona a produção de uma idéia simples na mente.
· Para Locke há qualidades primária (objetivas), como a solidez, a extensão, a configuração, o movimento, o repouso e o número, e qualidades secundárias (subjetivas), como cor, som, odor, sabor, etc. que provocam no sujeito determinadas percepções sensíveis.
· Para Locke o espírito é como uma tabula rasa onde as experiências escrevem sensações construindo o conhecimento.
EXERCÍCIO PARA CASA:
47) O que o empirismo inglês enfatiza?
7.6 – O Criticismo Kantiano:
· Immanuel Kant (1724-1804) nasceu na Alemanha. Interessado pela ciência newtoniana e pelo debate acerta da natureza do nosso conhecimento.
· Método do criticismo – procura verificar se é possível uma “razão pura” independente da experiência.
· Procura superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo – o conhecimento vem de juízos universais simultaneamente como o conhecimento também vem da experiência sensível.
· Conhecimento – constituído de matéria e forma. Dá-se à priori quando o espírito (tabula rasa) é visto não como tabula rasa, mas comparado a um filme fotográfico antes de ser usado, mas tem à priori todas as condições inatas para conhecer. Dá-se com a experiência e à posteriori quando acontece uma organização de nossa capacidade cognoscitiva, isto é o próprio retrato impresso na razão. É um composto do que recebemos por impressões e do que nossa própria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasião de tais impressões.
· Experiência sensível – acontece quando organizada por nossa sensibilidade à priori. Percebemos as coisas pelos sentidos, mas algo escapa aos sentidos = as categorias de substância, de causalidade e de existência, pois são categorias própria do sujeito cognoscente e não são dadas pela experiência. O mundo dos fenômenos só existe na medida em que aparece para nós e, portanto, de certa forma participamos da sua construção.
· Matéria – são as coisas em si e a FORMA somos nós mesmos. Para ele nós colocamos as formas nas coisas numa realidade interna de tempo e espaço.
· Noumenon (a coisa em si) – inacessível ao conhecimento.
· Fenoumenon (o que aparece) – é o que podemos conhecer.
· Metafísica – Espírito, Deus, liberdade, infinitude do universo, surge um agnosticismo (não conhecível), o que não significa um ceticismo, mas Kant resolve a questão em sua Crítica da razão prática onde faz uma analise da moralidade.
EXERCÍCIO PARA CASA:
48) Segundo o criticismo de Immanuel Kant, o conhecimento se dá de que maneira?
49) Segundo Kant, qual a única coisa que podemos realmente conhecer?
7.7 – O Positivismo de Augusto Comte:
· Com a Revolução Industrial no século XVIII e a ascensão da Burguesia a Ciência e a Técnica se aliaram. A força humana começou a ser substituída pela força da máquina a vapor. Exaltação do novo saber científico como único conhecimento possível. O único método válido era o das ciências da natureza, sendo estendido a todos os campos de indagação. Nesse clima desenvolveu-se o pensamento positivista de Augusto Comte (1798-1857).
· Cada ramo de nosso conhecimento passa sucessivamente por três estados históricos diferentes:
ü Estado teológico – o espírito humano dirige essencialmente suas investigações para a natureza íntima dos seres e as causas primeiras e finas de todos os efeitos que o tocam. Os conhecimentos absolutos apresentam os fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua de agentes sobrenaturais numerosos, cuja intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do universo.
ü Estado Metafísico – é uma simples modificação geral do primeiro e os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas personificadas e inerentes aos diversos seres do mundo. São capazes de engendrar por elas próprias todos os fenômenos observados.
ü Estado Positivo – o espírito humano reconhece a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo e as causas íntimas dos fenômenos. Sua preocupação única é descobrir combinando o raciocínio e a observação como leis efetivas nas relações invariáveis de sucessão e similitude. Os fatos são reduzidos então a seus termos reais passam a uma ligação estabelecida entre os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais que com o progresso da ciência tendem a diminuir cada vez mais.
· Em nossa história fomos teológicos na infância, metafísicos na juventude e físicos na maturidade.
· O estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano. Positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza oposta à indecisão, o preciso em oposição ao vago.
· Exemplo: o ser primitivo explica a queda dos corpos pela ação dos deuses, o metafísico pelos corpos pesados cuja natureza os faz tender para baixo onde seria o seu lugar natural, já o ser positivo se contentaria em apenas descrever os fenômenos como ocorrem. O real repousa sobre fatos observados.
· Comte “departamentalizou” o saber, dando-lhe uma ordem lógica e cronológica. É a idéia de um saber acabado. Para Comte, nenhum grande progresso pode efetivamente se realizar se não tende finalmente para a evidente consolidação da ordem.
EXERCÍCIO PARA CASA:
50) O que o Positivismo de Augusto Comte afirma sobre a ciência?
51) Segundo Comte, cada ramo de nosso conhecimento passa sucessivamente por três estados históricos diferentes, quais são eles?
7.8 – A Fenomenologia Edmund Husserl:
· É o estudo das essências e todos os problemas. As essências da percepção e da consciência. A fenomenologia está inacabada não como fracasso, mas como algo inevitável porque ela tem por tarefa revelar o mistério do mundo e o mistério da razão.
· Substitui as essências na existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de sua “facticidade” (o que pode ser feito). É a ambição de uma filosofia que pretende ser uma “ciência exata” por fazer uma exposição do espaço, do tempo e do mundo “vivido”. Husserl, em seus últimos trabalhos, mencionou uma fenomenologia genética e mesmo uma fenomenologia construtiva.
· As relações do sujeito e do mundo não são rigorosamente bilaterais.
· Mundo – está aí antes de qualquer análise que se possa fazer dele e seria artificial faze-la de uma série de sínteses que ligariam as sensações, mesmo em objetos, que ainda sejam justamente os produtos das análises. O mundo é aquilo que percebemos. Indivíduo pré-objetivo, cuja unidade imperiosa prescreve ao conhecimento sua finalidade, dirige sem envolver nem possuir a consciência de quem o conhece.
· Verdade – não habita somente no homem interior, mas precisamente não há homem interior, pois ele está no mundo e é no mundo que ele se conhece. Quando volto a mim a partir do dogmatismo do senso comum ou do dogmatismo da ciência, encontro um sujeito voltado para o mundo.
· Método eidético (positivismo fenomenológico) – o fundamento do conhecimento se está no possível, no real. Para Husserl, toda consciência é consciência de alguma coisa.
· Consciência – projeto do mundo, destinada a um mundo que ela não envolve nem possui, mas para o qual ela não deixa de se dirigir.
· A mais importante aquisição da fenomenologia é sem dúvida ter unido o extremo subjetivismo e o extremo objetivismo em suas noções de mundo e de racionalidade.
· A visão fenomenológica tenta superar tanto a visão clássica de que o objeto determina o sujeito, quanto a Kansiana onde o sujeito determina o objeto. Husserl demonstra que há uma estrita dependência entre o sujeito e o objeto sem que haja predomínio de um sobre o outro. Para a fenomenologia, só há sujeito para o objeto e só há objeto enquanto se põe para o sujeito.
· Jean Paul Sartre – “A consciência é vagabunda”. É próprio da consciência estar fora dela, é essência dela derramar-se sobre o mundo, só assim ela pode voltar para si mesma. O mundo só se constitui em mundo quando ele é mundo para a consciência. O mundo não existia antes do homem aparecer, pois quem ia dizer que ele existe.
EXERCÍCIO PARA CASA:
52) O que a Fenomenologia estuda?
53) Para a fenomenologia o que é o mundo?
54) Jean Paul Sartre afirma que “a consciência é vagabunda”. O que significa?
7.9 – A Fenomenologia de Maurice Merleau Ponty (1908 – 1961):
· Filósofo francês, nasceu em Rochefort-sur-Mer em 14 de março de 1908, departamento de Charente-Maritime, na França.
· Tomando a percepção como base do conhecimento, o filósofo francês Merleau-Ponty realizou uma das mais expressivas contribuições ao método fenomenológico.
· Estudou na École Normal Supérieure, de Paris, e em 1931 formou-se em Filosofia. Tomou parte da segunda guerra mundial, como oficial do Exército. Nomeado em 1945, professor de Filosofia da Universidade de Lyon, quatro anos depois a Sorbonne, de Paris, convidou-o a assumir uma de suas cátedras de filosofia. Em 1952 passou a lecionar no Collège de France. De 1945 a 1952, colaborou com Jean-Paul Sartre na célebre revista Les Temps Modernes.
· Em 1942, Merleau-Ponty publicou La Structure du comportement (A estrutura do comportamento) e, três anos depois, Phénoménologie de la perception (Fenomenologia da percepção). Desenvolveu, nessas obras, a tese segundo a qual o ORGANISMO HUMANO deve ser considerado como um TODO, para se descobrir o que decorre de cada conjunto de estímulos. Seu método, para isso, é essencialmente fenomenológico e pressupõe que a PERCEPÇÃO é a fonte maior de todo o conhecimento. Por esse motivo, o estudo da percepção deve ter prioridade sobre o das ciências convencionais.
· Segundo Merleau-Ponty, quando o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consciência, primeiro nota e percebe esse objecto em total harmonia com a sua forma, a partir de sua consciência perceptiva. Após perceber o objecto, este entra em sua consciência e passa a ser um fenómeno.
· Com a intenção de percebê-lo, o ser humano intui algo sobre ele, imagina-o em toda sua plenitude, e será capaz de descrever o que ele realmente é. Dessa forma, o conhecimento do fenómeno é gerado em torno do próprio fenómeno.
· Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O conhecimento nasce e faz-se sensível em sua corporeidade.
· Também preocupado com política, Merleau-Ponty escreveu ensaios de orientação marxista sob o título de Humanisme et terreur (Humanismo e terror) EM 1947, em que justifica o comunismo stalinista, mas Les Aventures de la dialectique (As aventuras da dialética) em 1955, representou uma mudança de posição sobre a questão. Merleau-Ponty.
· vindo a falecer em Paris em 4 de maio de 1961.
EXERCÍCIO PARA CASA:
55) Como Merleau Ponty considerava o organismo humano?
56) Qual era o método de investigação filosófica de Merleau Ponty?
57) O que Merleau Ponty falava sobre o estudo da percepção?
58) Segundo Merleau Ponty, o que acontece quando o ser humano se depara com algo que se apresenta diante de sua consicência?
59) Segundo Merleau Ponty, como o conhecimento do fenômeno é gerado em torno do próprio fenômeno?
60) Para Merleau Ponty, qual é o centro da discussão sobre o conhecimento?
8 – Agnosticismo:
· A identificação do agnosticismo com o ceticismo filosófico, de um lado, e com o ateísmo religioso, de outro, deu ao adjetivo "agnóstico", de uso muito amplo, uma pluralidade de significados que induz à confusão.
· O termo "agnosticismo" apareceu pela primeira vez em 1869 num texto do inglês Thomas H. Huxley, Collected Essays (Ensaios reunidos). O autor criou-o como antítese ao "gnóstico" da história da igreja, que sempre se mostrava, ou pretendia mostrar-se, sabedora de coisas que ele, Huxley, ignorava. E foi como naturalista que Huxley usou do vocábulo. Com ele, aludia à atitude filosófica que nega a possibilidade de dar solução a todas as questões que não podem ser tratadas de uma perspectiva científica, especialmente as de índole metafísica e religiosa. Com isso, pretendia refutar os ataques da igreja contra o evolucionismo de Charles Darwin, que também se havia declarado agnóstico.
· Bases históricas. A definição de Huxley viria possibilitar diferentes concepções do agnosticismo. O propriamente filosófico seria o que limita o conhecimento ao âmbito puramente racional e científico, negando esse caráter à especulação metafísica. Tais concepções, que podem ser rastreadas já nos sofistas gregos, tiveram formulação precisa, no século XVIII, nas teses empiristas do inglês David Hume, que negava a possibilidade de se estabelecer leis universais válidas a partir dos conteúdos da experiência, e no idealismo transcendental do alemão Immanuel Kant, que afirmou que o intelecto humano não podia chegar a conhecer o noumenon ou coisa-em-si, isto é, a essência real da coisa. O positivismo lógico do século XX levou ainda mais longe essas afirmações, negando não só que seja possível demonstrar as proposições metafísicas, mas também que elas tenham significado.
· No âmbito religioso, o agnosticismo tem sentido mais restrito. O agnóstico não nega nem afirma a existência de Deus, mas considera que não se pode chegar a uma demonstração racional dela; essa seria, em essência, a tese de Hume e de Kant, muito embora este considerasse possível demonstrar a existência de Deus como fundamento da moralidade. Por outro lado, já na Idade Média a chamada "teologia negativa" questionava a cognoscibilidade de Deus, se bem que para enfatizar que só era possível chegar a Ele pela via mística ou pela fé. Essa seria uma das bases da "douta ignorância" postulada no século XV por Nicolau de Cusa, e sua influência é visível em filósofos dos séculos XIX e XX, como o dinamarquês Soren Kierkegaard e o espanhol Miguel de Unamuno, os quais, embora admitam a necessidade de um absoluto, não aceitam sua personalização.
· Agnosticismo, ateísmo e ceticismo. Como se vê, a rigor não se pode falar de agnosticismo, mas de agnosticismos e, melhor ainda, de agnósticos, já que existe notável variedade tanto no processo intelectual pelo qual se chega às teses agnósticas, como na formulação dessas teses.
· Em essência, o agnosticismo emana de uma fonte profundamente racionalista, isto é, da atitude intelectual que considera a razão o único meio de conhecimento suficiente, e o único aplicável, pois só o conhecimento por ela proporcionado satisfaz as exigências requeridas para a construção de uma ciência rigorosa. E isso tanto no caso de doutrina que se mostre claramente racionalista -- é o que ocorre em relação a Kant --, como no caso de filosofias nas quais o racionalismo oculte-se sob a aparência de positivismo ou materialismo.
· Como conseqüência, o agnosticismo circunscreve o conhecimento humano aos fenômenos materiais, e rejeita qualquer tipo de saber que se ocupe de seres espirituais, transcendentes ou não visíveis. Não nega nem afirma a possível existência destes, e sim deixa em suspenso o juízo, abstém-se de pronunciar-se sobre sua existência e realidade e atua de acordo com essa atitude. Nessa ordem de coisas, ainda que admita a possível existência de um ser supremo, ordenador do universo, sustenta que, científica e racionalmente, o homem não pode conhecer nada sobre a existência e a essência de tal ser. É isso que distingue o agnosticismo do ateísmo, pois este nega radicalmente a existência desse ser supremo.
· Por outro lado, o agnosticismo se distingue também claramente do ceticismo, que, segundo a formulação clássica do grego Sexto Empírico (século III a.C.), não se limita a negar a possibilidade do conhecimento metafísico ou religioso, mas também a de tudo aquilo que vá além da experiência imediata. Assim, o ceticismo, pelo menos em seu grau extremo, não é compatível com a ciência positiva.
· No século XX, "agnosticismo" tende a ser interpretado como um posicionamento diante das questões religiosas. Nesse sentido, costuma-se distinguir entre um agnosticismo em sentido estrito e outro "dogmático":
· No sentido estrito, é impossível demonstrar tanto a existência quanto a inexistência de Deus.
· No sentido dogmático, uma manifestação em favor da primeira, mas negaria que se possa chegar a conhecer alguma coisa a respeito do modo de ser divino. Esta via é a habitualmente defendida pelos pensadores que postulam um caminho místico ou irracional de abordagem do absoluto.
EXERCÍCIO PARA CASA:
61) Quem apresentou o termo agnosticismo pela primeira vez?
62) O que Thomas H. Husxley pretendia com a obra Collected Essays (Ensaios reunidos)?
63) O que é o agnosticismo no sentido filosófico?
64) O que é o agnosticismo no âmbito religioso?
65) Por que não se pode falar de agnosticismo, mas apenas de agnosticismos?
66) O agnosticismo por considerar apenas a razão como único meio de conhecimento circunscreve o conhecimento humano aos fenômenos materiais. Qual a consequência disto?
67) Por não negar nem afirmar a existência de uma realidade que transcende o mundo material, o agnosticismo se distingue de quais correntes de pensamento?
68) No século XX, o agnosticismo tendeu a ser interpretado como um posicionamento diante das questões religiosas. Nesse sentido, costuma-se distinguir entre um agnosticismo em sentido estrito e outro dogmático. Qual a diferença entre os dois?
9 – Gnosticismo:
· A progressiva divulgação no mundo romano, a partir do século I da era cristã, de doutrinas religiosas orientais -- dentre as quais o cristianismo não foi a primeira, e sim apenas mais uma -- e o apogeu de uma série de escolas filosóficas helenísticas de perfil acentuadamente místico, como o neopitagorismo e o neoplatonismo, estabeleceram o clima espiritual em que brotaram as concepções gnósticas.
· A palavra gnose vem do grego (gnosis, "conhecimento") emprega-se, ao se tratar do movimento filosófico e religioso a que deu nome, para designar o conhecimento adquirido não por aprendizagem ou observação empírica, mas por revelação divina. À gnose, privilégio dos iniciados opõe-se a pistis, ou mera crença. Os eleitos que recebiam a gnose experimentavam uma iluminação que era regeneração e divinização, e conheciam simultaneamente sua verdadeira natureza e origem. Reconheciam-se em Deus, conheciam a Deus e apareciam diante de si mesmos como emanados de Deus e estranhos ao mundo. Assim, adquiriam a certeza definitiva de sua salvação para toda a eternidade.
· Até a descoberta, no século XX, de diversas coleções de manuscritos, entre os quais os de Nag Hammadi, Egito, era comum considerar o gnosticismo como uma forma de heresia cristã inspirada na filosofia grega. Atualmente, tende-se a falar num conjunto de escolas que, em virtude de princípios comuns, formam o movimento gnóstico.
· As noções compartilhadas pelas diversas escolas gnósticas podem resumir-se em três grandes temas:
· A miséria do homem, prisioneiro de seu corpo, pois o gnóstico considerava o espírito procedente de uma realidade supramundana;
· A dualidade cósmica, na qual o mundo visível, mau e tenebroso, teria sido criado por um demiurgo perverso – elemento tipicamente neoplatônico – oposto a outro Deus, bom, mas desconhecido;
· O apocalipse gnóstico, em virtude do qual o mundo perverso seria substituído pelo reino divino. Os pneumáticos (conhecedores puros da gnose) ascenderiam até o pleroma, reino da luz e da perfeição, e o fogo latente oculto no cosmos se avivaria e consumiria toda a matéria.
· As escolas gnósticas empregaram diferentes métodos de especulação. A maior parte dos estudiosos tende a considerar a existência de uma gnose não cristã, que englobaria movimentos como o hermetismo e o maniqueísmo, e de uma gnose cristã, herética. Esta última, formulada no século II por Basilides e Valentim, afirmava a realidade de um Deus transcendente e desconhecido, enquanto identificava o demiurgo criador do mundo físico com o Iavé bíblico. Os ataques a essa tese por parte de teólogos cristãos dos séculos II e III, como Hipólito e Santo Irineu, fizeram com que o gnosticismo tenha sido considerado um desvio do cristianismo.
· Por fim, alguns autores opinam que as teses enunciadas por Orígenes de Alexandria (séculos II-III), segundo as quais o objetivo da encarnação e morte de Jesus teria sido trazer o conhecimento ao homem enganado por seus sentidos, constituíram na realidade uma tentativa de assimilar a gnose à ortodoxia cristã.
EXERCÍCIO PARA CASA:
69) Exemplifique quais escolas filosóficas helenísticas estabeleceram o clima espiritual em que brotaram as concepções gnósticas?
70) A palavra gnose vem do grego “gnosis”. O que significa?
71) Como os gnósticos consideram o espírito humano?
72) Como se dá a dualidade cósmica para o gnosticismo?
73) O que prega o apocalipse gnóstico?
74) A maior parte dos estudiosos tende a considerar a existência de uma gnose não cristã. Exemplifique:
75) Orígenes de Alexandria com o objetivo de assimilar a gnose à ortodoxia cristã lançou uma teoria. Qual foi ela?
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