FILOSOFIA DA IDADE MÉDIA – Séc. XIII – ESCOLÁSTICA – Stº. Tomás de Aquino, Mestre Eckhart e Erasmo de Roterdã.

17 – FILOSOFIA MEDIEVAL / ESCOLÁSTICA – Século XIII:
17.1 – Sto. Tomás de Aquino (1225 – 1274):
17.1.1 – Provas da Existência de Deus:
·         Empenhou-se em ordenar o saber teológico e moral acumulado na Idade Média, sobretudo o que recebeu através de seu mestre Alberto Magno em Paris. Influenciado principalmente por Santo Agostinho.
·         Viveu intensamente os conflitos intelectuais, típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela razão, a Teologia à Filosofia, a crença na revelação bíblica às investigações dos Filósofos gregos.
·         O mais importante fator de conflito era o fato da doutrina aristotélica apresentar conteúdo muito distinto da concepção cristã de mundo.
·          “Ninguém afirma: Deus não existe sem antes ter desejado que Ele não exista”. O pecador que não quer deixar o pecado passa a negar a existência de Deus.
·         A maior força a vencer não são os argumentos dos ateus, mas o desejo deles de que Deus não exista. Não adiantará dar provas a quem não quer aceitar sua conclusão.
·         As provas de Aristóteles e de Santo Tomás a respeito da existência de Deus têm tal brilho e tal força que convence a qualquer um que tenha um mínimo de boa vontade e de retidão intelectual.
·         A existência de Deus é verdade de evidência imediata:
ü  1) em si mesma, mas não em relação a nós. (Apenas para si)
ü  2) em si mesma e para nós. (Para si e para os outros).
ü  Uma proposição é evidente quando o predicado está incluído no sujeito.
·         Ex: O homem é animal é evidente, já que o predicado animal está incluso no conceito de homem.
ü  Quando alguns não conhecem a natureza do sujeito e do predicado, a proposição, embora evidente em si mesma, não será evidente para eles. Ela será evidente apenas para os que conhecem o que significam o sujeito e o predicado.
·         Ex: "O que é incorpóreo não ocupa lugar no espaço", é evidente em si mesma e é evidente somente para aqueles que sabem o que é incorpóreo.

17.1.2 – Tendo em vista tudo isso, São Tomás diz que:
a)      A proposição "Deus existe" é evidente em si mesma porque nela o predicado se identifica com o sujeito, já que Deus é o próprio ente.
b)      Mas, com relação a nós, que desconhecemos a natureza divina, ela não é evidente, mas precisa ser demonstrada.
·         E o que se demonstra não é evidente, pois o que é evidente não cabe ser demonstrado.
·         Portanto, a existência de Deus pode ser demonstrada. Contra isso, Santo Tomás dá uma objeção, dizendo que a existência de Deus é um artigo de fé. Ora, o que é de fé não pode ser demonstrado. Logo, concluir-se-ia que não se pode demonstrar que Deus existe.
·         Há dois tipos de demonstração:
ü  b.1) Demonstração propter quid (devido a que)É a que se baseia na causa. Ela parte do que é anterior (a causa) discorrendo para o que é posterior (o efeito).
ü  b.2) Demonstração quia (porque) É a que se baseia no efeito. Ela parte do que é posterior (o efeito) discorrendo para o que é anterior (a causa). Parte do efeito para conhecer a causa. Quando vemos um efeito mais claramente que sua causa, pelo efeito acabamos por conhecer a causa. Pois o efeito depende da causa, e é de algum modo, sempre semelhante a ela.
·         Então, embora a existência de Deus não seja evidente apenas para nós, ela é demonstrável pelos efeitos que dela conhecemos.
·         A existência de Deus e outras verdades semelhantes a respeito dele que podem ser conhecidos pela razão. A pressupõe o conhecimento natural, assim como a graça pressupõe a natureza e a perfeição pressupõe o que é perfectível.
·         Entretanto, alguém que não conheça ou não entenda a demonstração filosófica da existência de Deus, pode aceitar a existência dele por .
·         Segundo Santo Tomás a razão pode provar a existência de Deus através de cinco vias realistas.

Iª Via - Prova do movimento:

·         No universo existe movimento. Todo o movimento tem uma causa.
ü  Há mudanças substanciais. Ex: madeira que vira carvão.
ü  Há mudanças acidentais. Ex: parede branca que é pintada de verde.
ü  Há mudanças quantitativas. Ex: a água de um pires diminuindo por evaporação.
ü  Há mudanças locais. Ex: Pedro vai ao Estado de São Paulo.
·         Nas coisas que mudam, podemos distinguir:
ü  a) As qualidades ou perfeições já existentes nelas = Ato.
ü  b) As qualidades ou perfeições que podem vir a existir = Potência.
·         Mudança ou movimento é a passagem de potência de uma perfeição qualquer (x) para a posse daquela perfeição em Ato (x).

M(Movimento) = PX(Potência de X) (para) AX(Ato de X)


·         Nada pode passar sozinho de potência de uma perfeição para ato daquela mesma perfeição. Precisa da ajuda de outro ser que tenha aquela qualidade em Ato.
·         Ex: A panela para ser aquecida precisa receber o calor do ser fogo que tenha calor em Ato. Tudo o que muda é mudado por outro.
·         É impossível que uma coisa esteja, ao mesmo tempo, em potência e em ato para a mesma qualidade. É impossível que uma coisa seja motor e móvel, ao mesmo tempo, para a mesma perfeição. É impossível, pois, que uma coisa mude a si mesma. Tudo o que muda é mudado por outro. Tudo o que se move é movido por outro.

Px (Potência de X) Ax(Ato de X)  = Px(2)(Potência de X2) Ax(2)(Ato de X2) = Px(3)(Potência de X3) Ax(3)(Ato de X3) = Px(4)(Potência de X4) Ax(4)(Ato de X4) = Px(5)(Potência de X5), etc. ...

·         Se a seqüência fosse infinita, não haveria um primeiro ser que deu início às mudanças. A potência precede o ato.
·         Para que se produza o movimento é preciso que haja um SER ou MOTOR com qualidade em ATO que dê início ao movimento. POTÊNCIA não acontece movimento, ele tem que partir de um SER que seja apenas ATO. Portanto, ele não pode ser infinita.
·         Movimentos se dão no espaço e no tempo mensuráveis. Portanto, não são movimentos que se dão no infinito, mas em tempo e espaço finitos e, portanto têm tem que ser finitos.
·         O universo é material, sendo a matéria mensurável, o universo tem que ser finito.
·         S. Tomás examina o que se dá nas "coisas criadas", para, através delas, compreender que existe um Deus criadorque lhes dá qualidades visíveis, reflexos de suas qualidades invisíveis e em grau infinito. (Demonstração quia / porque).
·         Este primeiro motor não pode ser movido, porque não há nada antes do primeiro. Portanto, esse 1º ente não podia ter potência passiva nenhuma, porque se tivesse alguma ele seria movido por um anterior. Logo, o Primeiro Motor só tem ATO. Ele é apenas ATO, isto é, tem todas as perfeições. Este ser é Deus = ATO PURO, imutável. Sempre com o verbo no presente, nunca no passado ou no futuro.

IIª Via – Prova da causalidade eficiente:
·         A idéia de causa em geral Todas as coisas ou são causas ou são efeitos, não se podendo conceber que alguma coisa seja causa de si mesma.
·         Toda causa é anterior a seu efeito. Neste mundo sensível, não há coisa alguma que seja causa de si mesma.
·         Numa série definida de causas e efeitos, no mundo sensível, as causas eficientes (eficiente = agente da ação) se concatenam às outras, formando um encadeamento de subordinações onde a primeira causa leva as causas intermediárias e estas levam a última. Desse modo, se for supressa uma causa, fica supresso os seus efeitos sucessores.
·         Se a série de causas concatenadas fosse indefinida, não existiria causa eficiente primeira, nem causas intermediárias, nem os efeitos dela, e, portanto, nada existiria.
·         Deus é a causa das causas não causada.

IIIª Via – Prova da contingência:

·         Da necessidade e possibilidade. Todos os seres estão em permanente transformação, alguns sendo gerados, outros se corrompendo e deixando de existir.
·         Na natureza, há coisas que podem existir ou não, começam ou deixam de existir. São os entes contingentes. Logo o que existiu e deixou de existir não é eterno.
·         Se nada existisse, nada existira hoje, pois o não existente” não pode passar a existir por si mesmo e só pode começar a existir em virtude de um outro ente já existente. Como as coisas contingentes existem agora, alguém que já existia as fez existir.
·         Este Ser Criador e Independente de outro para existir tem em si mesmo a razão de sua existência, pois se sua necessidade dependesse de outro, formar-se-ia uma série indefinida de necessidades e isso é impossível.
·         Logo, este Ser tem a razão de sua necessidade em si mesmo. Ele é o causador da existência dos demais entes. Este ser absolutamente necessário aos seres contingentes, tem que ter existido sempre. Nele, a existência se identifica com a essência. Ele é necessariamente Deus.

IVª Via – Dos graus de perfeição dos entes:
·         Baseia-se nos graus hierárquicos de perfeição observados nas coisas. Nos entes, uns são melhores, mais nobres, mais verdadeiros ou mais belos que outros. Possuem qualidades em graus diversos.
·         Só se pode dizer que alguma coisa é mais que outra, com relação a certa perfeição.
·         Tem que existir a Verdade absoluta, a Beleza absoluta, o Bem absoluto, a Nobreza absoluta, etc. Todas essas perfeições em grau máximo e absoluto coincidem em um único ser, porque a Verdade máxima é a máxima entidade. O Bem máximo é também o ente máximo.
·         Aquilo que é máximo em qualquer gênero é causa de tudo o que existe nesse gênero.
·         Há, portanto, algo que é para todas as coisas a causa de seu ser, de sua bondade, de sua verdade e de todas as suas perfeições. E a isto chamamos Deus.
·         Por esta prova se vê bem que a ordem hierárquica do universo é reveladora de Deus, permitindo conhecer sua existência, assim como conhecer suas perfeições.
·         Pois bem, se cada parcela foi dita apenas boa por Deus como se pode dizer que o total é ótimo? O total deve ter a mesma natureza das parcelas, e, portanto o total de parcelas boas devia ser dito simplesmente bom e não ótimo. É porque além da bondade das partes havia a sua ordenação hierárquica. É essa ordem do universo que o torna ótimo, pois a ordem revela a Sabedoria do Ordenador.

Vª Via – Prova da existência de Deus pelo governo do mundo:
·         A ordem das coisas – verificamos que os entes irracionais obram sempre com um fim. Comprova-se isto observando que sempre, ou quase sempre, agem da mesma maneira para conseguir o que mais lhes convém.
·         Eles não buscam o seu fim agindo por acaso, mas sim intencionalmente. Aquilo que não possui conhecimento só tende a um fim se é dirigido por alguém que entende e conhece. Por exemplo, uma flecha não pode por si buscar o alvo. Ela tem que ser dirigida para o alvo pelo arqueiro. A flecha é cega e guiada pelos olhos do arqueiro. É desta forma que existe um ser inteligente que dirige todas as coisas naturais a seu fim próprio. A este ser chamamos Deus.
·         Há, pois uma inteligência intencional que governa o mundo. Este ser sapientíssimo é Deus.

EXERCÍCIO PARA CASA:
109) Não adianta dar provas da existência de Deus a quem deseja que ele não exista. Este argumento foi utilizado para provar a existência de Deus por qual Filósofo?
110) Santo Tomás de Aquino buscou provar a existência de Deus através de cinco vias. Quais são elas?
111) Quais os principais filósofos que influenciaram o pensamento de Santo Tomás de Aquino?
112) “Quando vemos um efeito mais claramente que sua causa, pelo efeito acabamos por conhecer a causa. Pois o efeito depende da causa, e é de algum modo, sempre semelhante a ela”. Esta afirmação é para provar a existência de Deus. De quem é este pensamento?

17.2 – Mestre Eckhart (1260 – 1328):
·         Meister Johanes Eckhart ou, como é mais conhecido, Mestre Eckhart, domiciano, místico alemão, é considerado um dos inciadores da filosofia em língua alemã já que parte de sua obra, em particular, os Sermões, é escrita neste idioma, contribuindo para a fixação de uma língua filosófica e teológica. A temática central de Eckhart explora um pensamento teocêntrico.
·         Situado entre a escolástica de Tomás de Aquino e o renascimento europeu, Eckhart nos lega a visão do que seria o misticismo à sua época e segundo o seu entendimento.
·         No contexto histórico-filosófico costuma-se classificar o pensamento medieval em três áreas distintas: patrística, escolástica e mística. Em geral, de acordo com o senso comum, entende-se por mística algo ligado a “coisas” como fé, contemplação, vivência interior, ascese, solidão, linguagem hermética, enlevo espiritual e assim por diante, uma série de fenômenos pertencentes ao âmbito do não racional.
·         Mística é adjetivo (em grego mystikós) da palavra mistério (mystérion). Segundo Eckhart, a mística é um fenômeno universal. Trata-se de uma experiência imediata de Deus ou simplesmente do Uno: é a unidade do mundo com o Supremo Princípio.
·         A experiência da disjunção (a dualidade Deus-criação, eu - mundo) faz sofrer e desperta o desejo de unidade. Sustentar esta unidade não equivale a afirmar uma unidade monolítica. É uma unidade dialética (arte do diálogo ou discussão), uma unidade na diferença: ser um com Deus sem deixar de ser eu; ser um com o mundo sem que a consciência deixe de ser consciência.
·         Cada criatura carrega dentro de si a idéia de Deus. Eckhart denomina isso de chama, centelha. Esta idéia não se perde, só pode ser coberta. Assim é necessário o nascimento de Deus no espírito. Qual o processo para que isto aconteça?
·         Eckhart desenvolveu um caminho que chamou de Abgeschiedenheit (isolamento): da perfeita liberdade, da plena disponibilidade e do total desprendimento, esvaziamento de si e perfeito equilíbrio interior.
·         Todas estas significações visam abrir ao homem a presença de Deus em todas as situações e estar em unidade com Ele. É uma atitude fundamental em que o homem deve esvaziar-se totalmente no querer, no saber e no ter. É simplesmente ser.
·         Esta atitude – Abgeschiedenheit – nos situa na posição de ser aberto a tudo. Não espera nada e dispõe-se a receber tudo. Quando se alcança esta atitude, liberta o que esconde dentro de si: a chama de Deus colocada no fundo do espírito. É o grande desafio da vida.
·         É qual o escultor faz com a madeira ou pedra. Ele não introjeta uma estátua nela, mas tira a estátua dela. Assim o homem guarda Deus em si. Pelo desprendimento total vai liberando Deus da entranhas do coração para a plena luz do dia.
·         O misticismo de Eckhart não se caracteriza por divinas audições, revelações celestes, arroubos extáticos ou enfermas fantasias. As “sensações agradáveis” desses momentos são passageiras e pertencem ao mundo exterior.  O que conta é a intensidade da busca como caminho de encontro e unidade com Deus. É um caminho possível a todos e não privilégio de alguns. Não é o extraordinário, mas o ordinário.
·         Quem possui a Deus possui o imutável e o eterno. Para Eckhart a primeira relação humana é a que existe entre o espírito e Deus, e se revela como sentido de liberdade absoluta e de desprendimento interior, como unidade do espírito.
·         A mística em si mesma é libertadora. O místico, por natureza, é criador e não mero reprodutor. O lugar privilegiado por Eckhart para o encontro com Deus é o mundo e a vida. Não é uma mística livre do mundo, mas livre para o mundo. O mundo é sinal e concretude de Deus. Nele transparece a divindade.
·         Uma das características fundamentais da mística de Eckhart reside no esforço de superação da relação sujeito-objeto em nosso caminhar para Deus. Deus e o mundo não se opõe como criador e criatura. A novidade reside na afirmação da mútua imanência: Deus está no interior mais secreto de cada criatura e cada criatura no coração de Deus. Vigora uma dialética de mútua implicação.
·         Torna-se difícil interpretar adequadamente, através da palavra, o que é ato de vida profunda. A experiência mística é ato inexpressável, contudo o místico é coexistência, é comunicação, é palavra pronunciada e relação espiritual. Não há recolhimento absoluto.
·         Na sua relação vital com outros espíritos, o místico demonstra a pureza do seu querer (caritas) e o valor de sua experiência íntima: por isso atua no mundo, escreve e fala a outros espíritos para revelar-se e permanecer fiel a si mesmo. O místico é como seu Deus: atividade desinteressada e pura que transcende perenemente suas próprias obras e pertence somente a si.
·         Toda mística de Eckhart pode-se resumir nestas suas próprias palavras: “Em que se baseia a verdadeira posse de Deus? Num sentimento, num retorno da vontade em direção a Deus, não em um contínuo e ininterrupto pensar em Deus. O homem não deve conformar-se com um Deus pensado, porque se acaba o pensamento, acaba também Deus; mas, deve-se possuir um Deus em si, superior ao pensamento do homem, e este Deus não acaba ainda que tu te apartes voluntariamente dele”.
·         Toda doutrina eckhartiana se dirige a substituir o “Deus pensado” – o Deus objeto,  pelo “Deus vivido” – o Deus “subjetividade de nossa subjetividade”, uma concepção que se dê no campo teológico-filosófico em oposição ao campo lógico.
·         Deus e o espírito: são estas as únicas verdades que Eckhart, como Plotino e Agostinho, quer conhecer e cujo conhecimento é, ao mesmo tempo, atividade e realização de si mesmo. No instante em que o espírito morre para si e para as coisas pelo ato de entrega incondicional, nasce para a verdadeira vida, emerge do seu nada e se estabelece no ser. Os elementos exteriores do mundo: devir, tempo, morte, dor são o não-ser.
·         É necessário esse “nascimento eterno” que não tem história porque se atualiza no presente instantâneo e continua se renovando a cada instante. É a atitude do “livre espírito” frente ao mundo o qual é apenas o ponto de partida da conquista interior, efeito da imanência divina.
·         Surge da necessidade de formar o hábito de encontrar a Deus em todas as coisas, de converter-se em buscador de Deus em todo o tempo e todo o lugar, persistindo nesse esforço sem jamais alcançar a meta de tal aperfeiçoamento.
·         A vida moral é, assim, perene liberação em ato, contínua e renovada renúncia, reconquista de si mesmo, negação do não-ser, isto é, do transitório. É um surgir vindo do fundo de nossa condição de criatura. É o necessário momento dialético do ato moral.
·         Não é Deus que atrai o espírito para si, senão que o espírito aspira a Ele. O movimento inicial de nossa vontade deve ser um salto, uma ruptura com o transitório. Quem quer morrer para o efêmero deve renascer para a eternidade no próprio ato de seu querer.
·         A vida moral é a insaciável busca de um bem, uma contínua perseguição a Deus, um angustiante processo de libertação e purificação que dão valor à nossa existência. É o ritmo incessante de busca e posse: atividade patrocinada pela vontade livre e boa, que deve se renovar a cada instante na luta cotidiana. A liberdade é palavra vã se não é incessante liberação, se não é obra de um espírito livre.
·         A contemplação vivida por Eckhart não é um mero contemplar exterior do curso do mundo e da natureza, mas um processo de participação do ser. A mística de Eckhart se assenta na ação e não apenas na reflexão. Diz: “na contemplação você se serve a você mesmo, nas boas obras serve a muita gente”.
·         Mestre Eckhart prefere a vida ativa à contemplação. A ação está nas raízes do nosso ser, ou melhor, nosso ser é obra incessante e se sustenta unicamente como tal.  Deus é atividade criadora inesgotável. Por isto quem vive em afinidade com Deus estabelece seu ser na infinita capacidade criadora dele. É necessário a coexistência das ações interiores e exteriores para efetivamente colaborar com Deus.
·         A união com Deus não se concebe como meta final que imobiliza numa quietude inefável o ato do espírito que deve renovar-se a cada instante. A unidade com Deus não deve se buscar no final do processo moral, senão no próprio processo. Unidade quer dizer libertação somente no perene processo de liberação.
·         O místico não se encerra em um estéril isolamento: se dá aos outros espíritos, escreve, ensina e abre caminho no mundo entre incertezas, guerras e ódios afim de revelar a certeza do Espírito.
·         Eckhart foi um homem de ação. Utilizou a linguagem vernácula, o alemão do povo humilde. Em seus escritos volta sempre a mesma idéia: não fugir, não esconder-se, mas assumir a vida, conservar-se soberano e livre face a qualquer situação.
·         Mestre Eckhart viveu organizando conventos, fazendo viagens longas, pregando missões no meio do povo simples. Nesta situação aprendeu e ensinou a viver em perpétua união com Deus e com todos.


EXERCÍCIO PARA CASA:
113) Mestre Eckhart é considerado um pensador medieval dentro da área mística. O que engloba este tipo de pensamento?
114) Segundo Eckhart o que é mística?
115) Segundo Eckhart, a experiência da disjunção faz o homem sofrer e desperta-lhe o desejo de unidade. Como é essa unidade?
116) Segundo Eckhart o que significa chama ou centelha como idéia de Deus?
117) Segundo Eckhart qual é o processo que acontece para que Deus nasça no espírito humano?
118) Segundo Eckhart  o que é Abgeschiedenheit (isolamento)?
119) Segundo Eckhart  qual o objetivo do Abgeschiedenheit (isolamento)?
120) O que caracteriza o misticismo de Eckhart?
121) Para Eckhart, qual é a primeira relação humana?
122) O que significa quando Eckhart afirma que a mística em si mesma é libertadora?
123) Para Eckhart, qual o lugar privilegiado para o homem encontrar-se com Deus e o que significa?
124) Qual a novidade que caracteriza a mística de Eckhart?
125) Segundo Eckhart, como é o místico?
126) Em que se baseia a verdadeira posse de Deus?
127) A que se dirige a doutrina eckhartiana?
128) As únicas verdades que Eckhart quer conhecer são Deus e o Espírito. Quando isso acontece?
129) Segundo Eckhart qual é a atitude do livre espírito frente ao mundo?
130) Segundo Eckhart de onde surge a necessidade de liberdade do espírito frente ao mundo?
131) Segundo Eckhart o que vida moral?
132) O que Eckhart quis dizer quando afirmou que não é Deus que atrai o espírito para si?
133) Segundo Eckhart o que é contemplação?
134) Por que Mestre Eckhart prefere a vida ativa à contemplação?
135) Como Eckhart explica a união entre o homem e Deus?
136) Segundo Eckhart, como deve ser o comportamento de um místico?

17.3 – Erasmo de Roterdã (1469 1536):
·         Pe. Erasmo nasceu em Roterdã em 1469 e faleceu em Basel em 12 de julho de 1536. Desiderius Erasmus foi o maior intelectual europeu do século dezesseis. Usando a filologia de que haviam sido pioneiros os humanistas italianos, ajudou a lançar os fundamentos para o estudo histórico-crítico do passado, especialmente em seus estudos do Novo Testamento grego e dos Padres da Igreja. Suas obras educacionais contribuíram para a substituição do velho currículo escolástico pela nova ênfase dada aos clássicos pelo humanismo renascentista. Por criticar os abusos eclesiásticos, enquanto apontava para uma época melhor no passado distante, ele encorajou a urgência por reformas, as quais encontraram expressão tanto na Reforma Protestante como na contra-reforma Católica. Finalmente, sua posição independente em uma época de controvérsias religiosas ferozes -- rejeitando tanto a doutrina de Lutero da predestinação quanto os poderes que eram reivindicados pelo papa -- fez dele um alvo da suspeita dos partidários dos dois lados e um farol para aqueles que valorizavam a liberdade mais do que a ortodoxia. Órfão junto com um irmão escolheu ser padre Agostiniano. Após sua ordenação em abril de 1492, foi secretário para latim do bispo de Cambrai. O bispo o enviou à Universidade de Paris para estudar teologia em 1495, após o que ele foi, por algum tempo, professor particular.
·         Em 1499 seu aluno o estadista William Blount, Barão de Mountjoy, convidou-o a ir à Inglaterra. Lá conheceu Thomas More, de quem se tornou amigo íntimo. Voltou para a França em 1501 onde conheceu e ligou-se ao pregador franciscano Jean Voirier. Em 1502 morou em Louvain, província de Brabant (Países Baixos), onde escreveu Enchiridion militis Christiani (Manual do Cavaleiro Cristão). entre os anos de 1503 e 1504. Em 1505 novamente viajou para a Inglaterra onde tornou-se tutor dos filhos do médico do futuro rei Henrique VIII, com os quais viajou ao continente. O grupo assistiu a entrada triunfal do papa Júlio II à frente do seu exercito conquistador em Bolonha em 1506, cena que Erasmo satirizou no diálogo Julius exclusus e coelis, escrito entre 1513 e 1514. Em Veneza entrou em contacto com os intelectuais bizantinos ali refugiados. Lá escreveu seu dicionário de três mil provérbios gregos e latinos, o seu Adagia, que o fez famoso. Com a inauguração do reinado de Henrique VIII, seu ex-aluno Lorde Mountjoy novamente o convida a ir à Inglaterra. Porém, se sabe sobre esse período de sua longa permanência na Inglaterra, de 1509 a 1514, exceto que lecionou em Cambridge e trabalhou na tradução do Novo Testamento, do Grego.
·         De Ratione Studii et Instituendi Pueros de1512 foi uma obra educacional na qual delineou um programa de leitura formador da educação humanista. Louvava a educação moral e os estudantes deveriam ser encorajados a ler provérbios e os evangelhos. Seleções de Plutarco, Sêneca e Esopo eram também incluídos no programa.
·         O seu célebre Moriae encomium, mais conhecido por "Elogio da Loucura" foi iniciado em sua viagem para Londres e concluído lá, em casa do amigo Thomas More. Retornando ao continente, viajou a Basel para preparar uma nova edição do Adagia em1515. Outra obra importante de Erasmo, publicada mais tarde, em 1529, foi o “De pueris instituendis”, uma verdadeira declaração de sua enorme fé no poder da educação.
·         Porém o treinamento dos pregadores devia ser fundado na filosofia cristã e não no método escolástico. Erasmo procurou demonstrar isto com o texto anotado do Novo Testamento em Grego e com sua edição da Opera omnia, de São Jerônimo em 1516.
·         Como reconhecido educador, foi indicado conselheiro honorário do arquiduque Carlos, futuro Carlos V, e comissionado para escreverInstitutio principis Christiani” (A educação de um Príncipe cristão) em 1516 e “Querela pacis” (A demanda da paz) em 1517. Foi aceito para lecionar teologia na Universidade Louvain em 1518.
·         A polêmica de Erasmo com Lutero começou em 1516, com uma carta de Lutero criticando sua interpretação de São Paulo. Refutando Lutero, escreveu “De libero arbítrio” (O livre arbítrio) em 1524 defendendo a liberdade de escolha no processo da salvação, onde argumenta que o consenso da Igreja através das épocas dava a ela autoridade na interpretação das escrituras. Em resposta Lutero escreveu seu mais importante trabalho teológico “De servo arbítrio” (O servo arbítrio) em 1525, ao qual Erasmo respondeu com seu “Hiperaspistes” entre 1526 e 1527. Nesta controvérsia Erasmo se empenhou mais pela tese da vontade livre que o próprio São Paulo e Santo Agostinho aceitariam.
·         Seus pensamentos sobre a unidade da Igreja foram expressos principalmente em “Diálogos no Colloquia”, No “Colóquio Inquisitio de fide” em 1522 um católico descobre, para sua surpresa, que os luteranos aceitam todos os dogmas da fé católica porque aceitam integralmente os artigos do Credo dos Apóstolos. A volta à unidade da Igreja era, portanto, possível, se fossem deixadas de lado questões que não estavam no Credo, como a infalibilidade do papa, o celibato dos padres, a doutrina da predestinação de Lutero, e outras questões em que as opiniões diferiam. Escreveu a esse respeito ao Papa de origem holandesa Adriano VI entre 1522 e 1523, a quem ele conhecera em Louvain.
·         Para um de seus educandos, o jovem príncipe Henrique de Borgonha, filho de Adolfo de Veere, Erasmo escreveu “De civilitate morum puerilium” (Da civilidade dos costumes das crianças) em 1530, um pequeno livro de Boas-maneiras muito procurado. Essa obra foi imitada no século XVI por Mathurin Cordier, e no século XVIII, por Jean-Baptiste. de La Salle. O livro está dividido em sete capítulos entre os quais: Da vestimenta, Da maneira de se comportar numa igreja, Das refeições, Dos encontros, e Do jogo.
·         Em 1543 a Universidade de Paris publicou uma lista de 65 livros condenados ou aceitos mediante qualificação do leitor, a qual incluía uma tradução não autorizada da Bíblia e os trabalhos de Lutero, Calvino, Rabelais, e Erasmo. 

EXERCÍCIO PARA CASA:
137) As obras educacionais de Erasmo de Roterdã contribuíram sobremaneira para o currículo escolástico. Qual foi essa contribuição?
138) Qual a importância da obra de Erasmo de Roterdã, ratione Studii et Instituendi Pueros de 1512?
139) Qual a importância da obra de Erasmo de Roterdã, De pueris instituendis?
140) Qual a maior polêmica de Erasmo de Roterdã em sua época?
141) Em sua obra, Diálogos no Colloquia, Erasmo de Roterdã acreditava na possibilidade de reunificar a Igreja Cristã desde que a Igreja Católica abrisse mão de alguns dogmas. Cite alguns desses dogmas?

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