IDADE ANTIGA – Séculos XII a VIII a.C. – Tempos homéricos / Mitologia – Homero e Hesíodo

3 – Idade Antiga / Tempos homéricos / Mitologia  – Séculos XII a VIII a.C.:
·         O mito não é apenas uma maneira fantasiosa de explicar uma realidade ainda não justificada pela razão. É a base onde se construiu o pensamento racional e filosófico.
·         Entre os povos primitivos o mito é uma estrutura dominante onde o homem deve imitar os Deuses em rituais para obter benefícios e sob o risco de atrair maldições.
·         Neste universo de consciência coletiva, a transgressão da norma ultrapassa quem a violou. Daí os ritos de purificação e os rituais de bode expiatório, nos quais o pecado é transferido para um animal.
·         Com relação ao Mito e a Religião, pode-se dizer que no desenvolvimento da cultura humana, não se pode fixar um ponto onde termina o mito e começa a religião.
·         A consciência mítica é uma consciência comunitária. A decorrência disso é o dogmatismo, pois a consciência mítica é ingênua, desprovida de problematização e supõe sua aceitação tácita pela fé e pela crença.

3.1 – A diferença básica entre mito, folclore e lendas:
·         Mitos são narrações maravilhosas com significação simbólica acerca dos primeiros tempos ou de épocas heróicas, porém que sofreram o acréscimo da imaginação do povo ou de poetas como Hesíodo e Homero, gerando estórias fantásticas e imaginárias que foram transmitidas de geração em geração dentro de determinado grupo que as consideravam como verdade. Trata-se de uma maneira fantasiosa de explicar a realidade numa época onde o pensamento científico ainda estava por nascer.

·         Folclore etimologicamente, originou-se na língua inglesa folk = povo + lore = saber, conhecimento = Saber popular. Foi criado em Londres no dia 22 de agosto de 1846 pelo arqueólogo inglês, William John Thoms que o propôs à revista 'The Atheneum', para designar os registros dos cantos, das narrativas, dos costumes e usos dos tempos antigos. Com o passar do tempo, folk-lore passou a ser grafado sem o hífen formando folklore. No Brasil, a reforma ortográfica suprimiu a letra K que foi substituída por C derivando a atual forma folclore. Objetivamente é a expressão cultural mais legítima de um povo. Conjunto ou estudo das tradições, costumes e crenças populares, expressos em provérbios, contos ou canções, e que retratam uma determinada época ou região. É como o Sol, velho em todo poente é renovado em todo nascente. É eterno e imortal.

·         Lendas são narrações maravilhosas de fatos históricos que foram adulterados com acréscimos feitos pela imaginação popular gerando estórias fantásticas e imaginárias que adquiriram tradição popular.

·         Tudo isso é cultura transmitida de geração em geração inicialmente pela informalidade da linguagem oral, pergaminhos, cantigas de viola e posteriormente com o desenvolvimento da imprensa, pela literatura de cordel, livros e hoje em dia utilizando-se de recursos audiovisuais.
·         Seus autores são pouco conhecidos ou totalmente desconhecidos e o povo aceita a estória como “verdade” e ainda acrescenta ou modifica espontaneamente os fatos com o passar do tempo. É o velho ditado de quem conta um conto, aumenta um ponto.
·         No meio rural, a tradição oral é ainda a maneira mais forte de transmissão cultural. Em cada estória existe sempre uma moral que na verdade é uma forma de transmitir valores, ensinar lições de sobrevivência e comportamento educando pela escola da vida. Há uma organização do pensamento coletivo de um povo, portanto uma funcionalidade racional que objetiva a um fim.

·         Na fase do homem com sentimento de individualidade, surgiram inicialmente os deuses funcionais ligados às diversas atividades humanas. Com o tempo surgiu o deus pessoal e as religiões monoteístas. O sentido ético substituiu e suplantou o sentido mágico.

·         Na fase do homem com desenvolvimento lingüístico e intelectual, surge o homem com livre arbítrio.

·         Nos dias de hoje o mito tornou-se o fundamento de todo viver humano. A primeira leitura racional do mundo. Temos vários mitos como os mitos da juventude, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Bob Marley, Renato Russo, Amy Winehouse, etc.

·         O mito ainda faz parte do nosso cotidiano. O comportamento do homem é permeado de rituais, mesmo quando secularizados como nascimentos, casamentos, aniversários, festejos de Ano-Novo, formatura, debutantes, trotes em calouros, todos lembram verdadeiros ritos de passagem.
ü  O mito do Socialismo e o mito do Cristianismo como algo inatingível, uma utopia.
ü  O mito da raça ariana de Adolf Hitler.
ü  O mito de Édipo utilizado por Freud.
ü  Apenas depois que o homem se apaixona por um determinado valor é que sobrevém a busca da explicação racional.
ü  Mito e razão se completam. A questão é que com o nascimento da reflexão, o homem pôde rejeitar os mitos prejudiciais. O mito propõe, mas cabe à consciência dispor.

Exercício para casa:
6) O que são os mitos?
7) Num sentido mais positivo, o que seria o mito como ideal?
8) O que é Filosofia?
9) Qual das alternativas abaixo diz o que é mito?
10)  os povos primitivos o mito é uma estrutura dominante. Neste sentido, o que podemos dizer?

3.2 – A Criação do Universo, dos Deuses, do Mundo e da Humanidade:
Os Deuses revelaram aos antigos gregos que no início só existia a Escuridão. Dela foi gerado o Caos no Universo. A realidade era constituída apenas por um abismo vasto, imenso, infinito, silencioso e escuro e por um Oceano escuro, devastador e selvagem. Era um passado de incontáveis eras, tempos imemoriáveis, infinito e eterno.
            Terra, Céu e Mar ainda não existiam, eram apenas uma mescla indistinta de vida e agitação. E no interior dessa massa única, travava-se a constante batalha dos princípios opostos: o frio combatendo o calor; a umidade lutando contra a seca; a leveza, contra o peso.
            Pouco a pouco, uma Deusa ordenadora chamada Eurínome emergiu do Caos. Tudo definiu e harmonizou segundo sua inteligência e soberana vontade. Fez-se a paz no Universo. Mas permaneceu para sempre acesa a centelha do conflito. A bela e poderosa Deusa Eurínome vivia solitária no imenso Caos. Ela gostava muito de dançar, mas, como não encontrasse nada sólido onde pudesse apoiar os pés, separou o mar do céu. E começou a saltar, feliz, sobre as ondas que criara. Foi dançando sempre em direção ao sul, agitando com violência as ágeis pernas, quando de repente surgiu, do lado norte do mundo, um vento muito forte.
            Achando agradável o frescor que o vento lhe proporcionava, ela decidiu começar com ele a obra da criação. Ela então lançou mão de seu fluido companheiro e, com as mãos aflitas, esfregou-o incansavelmente até que o vento se tornasse sólido. O vento transformou-se numa serpente de nome Ofião, que se estendeu, prostrada, aos pés de sua criadora. Como fazia frio, a bela Deusa voltou a dançar, agora com redobrada violência, para aquecer-se. Ofião, a serpente, apaixonou-se por aquele corpo enérgico e esguio, cujas formas tremulavam à sua frente. Ofião uniu-se a Eurínome, fazendo a Deusa gerar todas as coisas que existem.
            Para nascerem seus filhos, Eurínome teve de mudar-se em pomba, e sentar-se sobre as ondas do mar ainda indefinido e muito primitivo. Quando chegou o momento, a pomba pôs um ovo que continha a natureza. Depois, Ofião enrolou-se sete vezes ao redor do ovo, para chocá-lo.
            Quando a casca quebrou, saíram os Astros e todo o Universo. Orgulhosos e cansados diante de tudo o que criaram, Ofião e Eurínome instalaram-se num lugar aonde mais tarde viria a se chamar de Monte Olimpo.
            Pouco tempo se passara e Ofião logo começou a brigar com sua criadora. Queria ser o único rei da natureza, uma vez que de seu sêmen tudo surgira. Eurínome irritou-se e espancou Ofião quebrando-lhe os dentes e obrigando-o a encerrar-se nas escuras profundezas do Érebo.
            Soberana absoluta, Eurínome continuou sua obra. Em cada planeta colocou dois Titãs, para procirarem as espécies.
            O Caos eterno uniu-se à Escuridão e gerou três crianças, a Noite escura, o Érebo profundo, impenetrável, habitat da morte e o Ar. A Noite escura abraçava o grande espaço como uma casca extremamente sólida dando-lhe o aspecto de um ovo gigantesco. Noite e Érebo casaram-se e tiveram como filhos, espíritos sofredores e libertários, tais como a Perdição, a Idade, a Morte, o Espanto, a Ira, a Mentira, a Vaidade, o Excesso, o Assassinato, o Medo, a Abnegação, o Esquecimento, o Sono, os Sonhos, a Discórdia, a Disputa, as Injúrias, a Miséria, a Vingança, a Batalha, a Alegria, a Amizade, a Piedade, as três Deusas do Destino, as três Ninfas da Tarde e o Artesanato. Outros poetas afirmaram que esses espíritos seriam filhos da união de dois irmãos, o Ar e a Terra e que esse casal teria gerado os Titãs, o Tártaro e as Fúrias (três Erínias).
            Érebo era uma ave negra de enormes asas que fora fecundada pelo vento. Ela pôs um ovo de prata no seio da escuridão original. Deste ovo nasceu Eros (Cupido), o Amor Universal. Eros por isso, foi considerado o Protógonos (primeiro nascido).
            Eros (Cupido) não gostava de viver escondido nas trevas. O Deus do Amor por sua vez começou a desnudar a natureza e gerou a Ordem e a Beleza que juntas aboliram a Confusão cega. Eros (Cupido ou Amor), o mais belo dentre os Deuses, desequilibra todos os Deuses e subjuga-os o coração e a sábia vontade. Eros e a Noite geraram o Éter (Espaço) e a Luz (Fanes) e seu irmão e companheiro o Dia.
            A Noite gerou a Morte, a negra Quere e o Tánatos. Noite engendrou o Sono e toda a raça de Sonhos e de Pesadelos tenebrosos sem unir-se a ninguém. Noite, a tenebrosa gerou depois o Sarcasmo, a Aflição dolorosa, as Hespérides que guardam o Deus Oceano e as árvores que geram os belos Pomos (frutos) de ouro.
            O Deus Eros (Cupido ou Amor) e a Deusa Luz se uniram e geraram a Deusa Gáia (Terra) também chamada de Vesta ou Telus. Há quem diga que Gáia (Terra) seria na verdade filha da união do Dia e do Ar. De largos flancos, a Deusa Gáia (Terra) ofereceu uma base segura a todos os seres vivos. A belíssima Deusa Gáia (Terra) gerou um ser igual a si mesma e capaz de cobri-la por inteiro, nasceu Urano (Céu estrelado), sob a forma de uma abóbada azul nas alturas. Outros autores afirmam que Urano (Céu estrelado) seria irmão de Gáia e filho do Dia e do Ar. Eros (Cupido) uniu Urano (Céu estrelado) e Gáia (Terra) num abraço violento e apaixonado, do qual nasceu tudo o que faltava nascer.
            O Deus Urano (Céu Estrelado) ofereceu aos Deuses bem-aventurados uma base segura para sempre. Gáia (Terra) pôs no Mundo também as altas Montanhas, agradável morada das Deusas, das Ninfas habitantes dos montes e vales. Engendrou também o Mar (Deus Ponto) infecundo de furiosos vagalhões, sem ajuda do terno Deus Amor. Outros autores afirmam que o Mar seria irmão de Gáia (Terra) e Urano (Céu estrelado) filho também da união entre o Dia e o Ar. Anfitrite, a Rainha do Mar, não tinha estendido ainda nesta época seus doces braços pelas margens terrestres para formar os Rios. O Mar e os Rios criaram as Nereidas, Ninfas marítimas impetuosas e agitadas. Dos abraços de Urano (Céu estrelado) e Gáia (Terra), nasceram os seis primeiros Deuses Titãs:
Titã Oceano com seus turbilhões profundos.
Titã Hipérion, o que viaja pelo alto, o fogo astral, esposo da Titânia Febe com a qual gerou o Deus Hélios (Sol), a Deusa Selene (Lua), Aurora e Eros (Cupido) o Deus do amor.
Titã Láteto ou Lápeto que unido a Titânia Oceânida (Climene), gerou quatro filhos infortunados: O Titã Atlas que mais tarde seria condenado por Zeus (Júpiter) a sustentar o mundo nos ombros, o Titã Menécio que seria jogado no mais profundo do Tártaro após perder a guerra contra Zeus (Júpiter), o Titã Prometeu (Previsão) que mais tarde seria castigado por desafiar o poder do Olímpo e o Titã Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) que lutaria com o Titã Prometeu (Previsão) ao lado de Zeus (Júpiter) contra os outros Titãs.
Titã Hipérion, pai do Deus Hélios (Sol).
Titã Ceo ou Crios.
Titã Crono (Saturno) que viria a ter um triste destino no futuro. Destronaria o seu pai Urano (Céu estrelado) e seria destronado pelo seu filho Zeus (Júpiter). Crono (Saturno) é o Deus do Tempo, regulador e comandante de tudo. A ele cabe criar uma nova ordem no Universo. Revolucionário constante da natureza. Devorador insaciável, próprio do Tempo que devora tudo: seres, destinos e momentos sem piedade ou apego. Para ele, o importante é construir o futuro. É o desejo insaciável de evolução. Nesse período, o Tempo estava ainda cego. A vida não compreendia a si mesma, e parecia mais um simples fervilhar de elementos confusos que propriamente uma evolução. Só a Titânia Mnemósine (Memória) tem coragem de contestá-lo, procurando preservar lúcida a sua memória. Crono (Saturno) sempre venceu, continuando sem medo a sua implacável cavalgada.
Depois nasceram as seis Deusas Titânias:
Titânia Mnemósine (Memória), a memória universal, a lembrança conservada tanto nos monumentos quanto nas almas dos Deuses e mais tarde, dos homens.
Titânia Tétis, a alma feminina do Mar, que unida a seu irmão o Titã Oceano, gerou três mil filhos, os rios do mundo.
Titânia Oceânida (Climene), esposa do Titã Láteto.
Titânia Réia, que ser tornou esposa do Titã Crono (Saturno).
Titânia Têmis ou Teia, a poderosa, que é justiça, lei e o equilíbrio eterno do mundo.
Titânia Febe coroada de ouro.
            Depois deles, veio ao mundo o Deus Titã Crono (Saturno), o mais jovem de todos. De malignos pensamentos, ele era o mais temível de todos os seus filhos. Crono (Saturno) tomou ódio por seu exuberante pai o Deus Urano (Céu Estrelado).
            Depois disso a Deusa Gáia (Terra) deu a luz aos Deuses Ciclopes. Tinham o coração violento, a alma brutal, vigor, força, destreza e com um poder devastador, em tudo semelhantes aos Deuses Titãs, não fosse um olho só no meio da testa. Os mais conhecidos são: Brontes, Estérope e Argés.
Por último Gáia (Terra) gerou os Deuses Hecatônquiros, gigantes de cem braços e cinqüenta cabeças. Estes eram muito violentos. Tinham uma força avassaladora de furacões, vulcões ou terremotos, que segundo os Deuses, era com este tipo de manifestações que eles se apresentavam na época em que sua mãe Gáia (Terra), ainda estava tomando suas formas atuais.
            Há outras versões que colocam a ordem de nascimento dos filhos de Urano (Céu estrelado) e Gáia (Terra) da seguinte maneira. Primeiro viriam os Hecatônquiros, em segundo lugar viriam os Gigantes Ciclopes e em terceiro lugar viriam os Titãs.
            O mais importante é saber que os Titãs alcançaram um grande número populacional. Não eram maléficos, devastadores e nem tinham menos força e poderes que os outros Deuses. Alguns deles viriam a se mostrar mais tarde sendo até muito benéficos para a humanidade que estava ainda por ser criada. Em vários relatos, os Titãs a salvariam de destruições ameaçadoras.
            A Deusa Gáia (Terra), deu ainda ao Deus Urano (Céu estrelado) mais três filhos muito grandes e fortes que todos mal ousam nomear. Copto, Briareu e Gias. Sabe-se apenas que eram Deuses terríveis e extremamente orgulhosos. Todos estão hoje trancafiados no mais profundo do Tártaro.
            O Poderoso Deus Urano (Céu estrelado) não gostou da raça dos Deuses Hecatônquiros e apesar de serem seus filhos legítimos, ele os trancou impiedosamente num lugar secreto das profundezas da Terra. Aos seus filhos Ciclopes e Titãs, porém, Urano (Céu estrelado) deu toda a liberdade de viver. Gáia (Terra) revoltada com o péssimo tratamento que Urano (Céu estrelado) deu à parte de seus filhos apelou para que os Titãs lhe ajudassem a destroná-lo.
            Crono (Saturno) foi o único que teve coragem suficiente para enfrentá-lo. Gáia (Terra) então, junto com seu filho Crono (Saturno), o mais jovem dos Deuses Titãs, traçou um plano audacioso para livrar-se do marido Urano (Céu estrelado).
            Essa escolha se deve ao fato de Gáia (Terra) conhecer bem as dimensões do ódio que Crono (Saturno) sentia pelo pai. Ele aceitou a incumbência de sua mãe e a foice que condicionara.
Ele então, esperou que seu pai Urano (Céu estrelado) aparecesse para feri-lo gravemente. Assim que a noite chegou, no meio da madrugada, seu pai desceu para cobrir Gáia (Terra). Crono (Saturno) aproximou-se cautelosamente e com um golpe certeiro, cortou os testículos do pai atirando-os imediatamente sobre o mar. Os testículos de Urano (Céu estrelado) voaram pelo espaço. O sangue escorreu sobre a Deusa Gáia (terra) e sobre as águas. E mais uma vez a natureza foi fecundada.
No mar, os órgãos com o sêmen expelido formaram uma espuma alvíssima, da qual emergiu docemente das águas amparada por uma enorme concha Vieira de madrepérola a Deusa Afrodite (Vênus), Deusa do amor e da beleza.
Na terra, o sangue originou as Melíades, Ninfas dos carvalhos e as Erínias (Fúrias), Ninfas vingadoras dos crimes semelhantes ao de Crono (Saturno), aliás, desde então elas não deixaram que crime algum passasse impunemente. Elas são encarregadas de perseguir e castigar os pecadores. Também chamadas de “aquelas que caminham na escuridão”, as Erínias têm uma aparência horrivelmente assustadora, cabelos de serpentes retorcidas e olhos que derramam lágrimas de sangue. Um fato curioso é que quando todos os Deuses monstruosos foram afastados da Terra, elas foram exceções, pois adquiriram o direito de aqui permanecerem enquanto houvesse pecados sobre o mundo. Elas simbolizam a culpa de Crono (Saturno).
            Também de seu sangue, nasceram a quarta geração de Deuses monstruosos. Os Gigantes.
            Crono (Saturno) então aproveitando que Urano (Céu estrelado) estava machucado e recuperando-se das feridas, iniciou o processo de tomada do poder como Deus principal e Senhor do Universo. Ele, porém, para conseguir governar como Deus principal, necessitou da concessão de seu irmão primogênito e sob a condição de matar toda a sua descendência para que a sucessão do trono continuasse reservada aos seus filhos.
Pouco tempo depois, Crono (Saturno) casou-se com a Titânia Réia que começou a dar-lhe muitos filhos. Lembrando-se da promessa feita a seu irmão primogênito de que não deixaria herdeiro vivo para o trono, este reservado para seus sobrinhos, dirigiu-se então a um oráculo de Gáia (Terra), que acabou lhe revelando que um de seus próprios filhos haveria de destroná-lo.
Longos períodos de insônia perturbaram as noites de Crono (Saturno). Com os olhos fixos no escuro do mundo, ele procurava respostas que lhe ajudassem a evitar o cumprimento da profecia e impedisse que um de seus próprios filhos lhe usurpasse o trono real, assim como ele fizera com seu pai Urano (Céu estrelado).
O fato é que iria se passar uma eternidade antes do cumprimento da profecia. Tempos incalculáveis se passariam sob o domínio dos Deuses Titãs, os então, Supremos do Universo, graças a sua força e estatura descomunais.
Depois de muito pensar e de tramar planos em meio aos sentimentos de medo e paranóia, um relampejo de idéia iluminou a sua mente no meio da madrugada. Agitado e sobressaltado, Crono (Saturno) dirigiu-se ao seu filho primogênito devorando-o imediatamente. Assim ele agiu com todos os filhos que Réia foi gerando. Um a um, ele exigia que sua esposa lhe entregasse os recém-nascidos para que fossem devorados numa rotina brutal e sangrenta.
O Titã primogênito ficou muito satisfeito e seu irmão Crono (Saturno) pensou estar protegido desta forma contra a profecia de Gáia (Terra).
Réia iniciou então uma triste rotina de nascimento e morte simultaneamente. Um a um, Réia foi entregando seus filhos para que o Pai Crono (Saturno) os devorasse.
Infeliz pelo fato de nem poder amamentar ou embalar seus filhos, Réia se pôs a buscar uma solução definitiva para esta situação. Sentindo que estava novamente grávida em sua sexta gestação, ela foi procurar a Deusa Gáia (Terra) desesperadamente pedindo um plano que pudesse lhe ajudar. Esta por sua vez se dispôs ajudá-la.
A Titânia Réia, seguindo os conselhos da Deusa Gáia (Terra), refugiou-se nos densos bosques do centro de Dite na Ilha de Creta. A Deusa então, deu a luz aos Deuses gêmeos Zeus (Júpiter) e Hera (Juno).
Com temor de que algo desse errado no plano traçado, a Deusa Réia, dominada pelo amor aos seus filhos, escondeu do marido que tivera filhos gêmeos. Para esconder sua filha Hera (Juno), ela deixou-a sob os cuidados dos Deuses Titãs Oceano e Tétis.
Quanto a Zeus (Júpiter), ela apanhou uma enorme pedra, envolveu-a em grossas faixas e entregou-a a Crono (Saturno) que a engoliu imediatamente acreditando ser seu filho. A Deusa Réia, suspirou aliviada.
Já de volta ao lar e vibrando de alegria pelo plano bem sucedido, a Deusa Réia ainda temia no fundo de sua alma que Crono (Saturno) pudesse descobrir seu engodo. Réia estava consciente do perigo que Zeus (Júpiter) corria. Nesse meio tempo, Gáia (Terra) acolhia o neto nos braços. Tanto mãe e avó acreditavam que não poderia haver falhas em uma trama tão carregada de esperanças.
O fato é que a Deusa Réia salvara o filho ao mesmo tempo em que selava a profecia do Oráculo de Gáia (Terra) que revelara que num futuro muito próximo, o último filho de Crono (Saturno) tomaria das armas para tomar seu trono e exterminar seu reinado sombrio e sanguinário. Ele viveria para sempre no trono do mundo.
Pouco tempo durou a farsa da Deusa Réia, pois Crono (Saturno) logo descobriu ter devorado uma pedra no lugar de Zeus (Júpiter). Com uivos, gritos furiosos e pesados passos de ferro, ele começou a vasculhar todo o mundo em busca de seu herdeiro e inimigo invencível que iria destroná-lo.
Crono (Saturno) procurou na terra, no mar e no céu sem nenhum sucesso. Acontece que o menino não estava em nenhum desses três lugares e, portanto, não poderia ser encontrado. Na verdade ele fora suspenso no alto de uma árvore de carvalho que ficava numa enorme caverna e ainda coberto pelos densos bosques de Creta com suas fartas ramagens. Era quase impossível localizá-lo.
Essa caverna era nada mais, nada menos do que a Gruta da Cabra Almatéia (Aix), uma Ninfa muito generosa, descendente do Deus Hélio (Sol). Ela cuidou e amamentou Zeus (Júpiter) diariamente ajudada pelos cuidados das Ninfas Adrastéia e Ida, conhecidas também como as Melissas de Creta que lhe alimentavam ainda com o mel maravilhoso fabricado pelas abelhas do Monte Ida que adoçavam o seu espírito. Seu corpo foi se desenvolvendo e criando uma força muscular descomunal.
Assim, no alto carvalho, Zeus (Júpiter) foi se desenvolvendo ocultado de seu voraz pai Crono (Saturno). Porém, o que os olhos não vêem os ouvidos talvez possam escutar, Almatéia então, para prevenir qualquer perigo, chamou os Curetes, guerreiros e sacerdotes da Deusa Réia, para que lhe ajudassem a encobrir o som do choro do Deus criança cantando vibrantes hinos com danças onde batiam fortemente com os pés no chão. Foi assim que Zeus (Júpiter) cresceu tranquilamente oculto pelos clamores do festim permanente e pelas sombras da densa copa da árvore.
Os Curetes eram gênios filhos de Chalcos e servos do culto à Deusa Titânia Réia. Chalcos era filha do Rei Asopo e inventora das armas de bronze. Posteriormente todos os Curetes seriam fulminados por Zeus (Júpiter), pelo fato de sob as ordens da ciumenta Deusa Hera (Juno), terem raptado e escondido na Síria seu filho Épafo que Zeus (Júpiter) teve com sua amada Io.
Quanto a sua ama de leite, a Cabra Almatéia ou Ninfa Aix, podemos dizer que tratava-se de um animal extremamente feio. Sua feiúra era tão forte, que até os Titãs de tempos antigos, pediram encarecidamente há tempos idos, que a Deusa Gáia (Terra) lhe encerrasse numa caverna bem distante de seus olhares. Assim a Cabra Almatéia foi viver nessa gruta aonde mais tarde viria ter o privilégio de acolher e aleitar o Soberano Zeus (Júpiter).
Zeus (Júpiter), entretanto, não se assustava com a feiúra de Almatéia, muito pelo contrário, ele adorava correr com ela pelos campos.
Um dia, enquanto brincavam, Zeus (Júpiter) quebrou acidentalmente um de seus chifres. Para compensar o prejuízo, ele lhe prometeu que seu corno despejaria eternamente toda abundância em flores, frutos e mais tudo o que desejasse. Seu chifre recebeu o nome então de Cornucópia que se traduz como “Corno da eterna abundância”.
            Quando a Cabra Almatéia morreu, Zeus (Júpiter) transformou sua pele numa couraça impenetrável, um invulnerável escudo chamado Égide que viria a lhe ser muito útil na luta contra os Titãs, pois é uma arma ofensiva e defensiva. Mais tarde, depois de assumir o poder como o Senhor do Universo, Zeus (Júpiter) viria a recompensar à Cabra Amaltéia transformando-a na constelação de Capricórnio.
            O tempo passou e a infância de Zeus (Júpiter) também. Agora adulto, era chegada a hora de se fazer cumprir a profecia da Deusa Gáia (Terra). Vestindo a Égide, ele partiu para o combate levando aos ouvidos de seus velhos amigos, as preces que ecoavam sob a forma de cânticos.
            Ainda em Creta, a Deusa Métis (Prudência), preparou para Zeus, uma bebida miraculosa que ele deveria forçar o pai a beber. Ela lhe explicou que assim que o Deus Titã Crono (Saturno) a ingerisse, sofreria uma forte convulsão que lhe faria vomitar todos os Deuses filhos por ele engolidos. Todos permaneciam vivos dentro dele e agora também eram adultos. Levando consigo essa garrafa, ele partiu para o combate com o objetivo de tornar-se o Senhor do Céu e da Terra assim que vencesse seu pai o Deus Crono (Saturno).
            Assim que chegou perto de seu pai, ele o dominou fazendo-o ingerir à força a bebida mágica. De súbito, Crono (Saturno) foi estremecido por violentos e incontroláveis acessos de vômito. Não conseguindo segurar, ele vomitou todos os seus filhos devorados, inclusive a pedra que o enganou. Finalmente Zeus (Júpiter) pode conhecer seus irmãos.
            A pedra expelida foi levada para Delfos onde milênios depois, mais precisamente no ano 180 de nossa Era, um viajante chamado Pausânias relatou tê-la visto e com dimensões consideráveis. Sacerdotes de Delfos ungiam essa pedra com óleo todos os dias. Não sabemos se isso ainda é uma prática atual.
            Zeus (Júpiter), Possídon (Netuno), Hades (Plutão), Hera (Juno) e Gáia (Terra) se apresentaram à Crono (Saturno) declarando guerra.
            Uma batalha terrível, longa e árdua se iniciou, tendo de um lado Crono (Saturno), auxiliado pelos seus irmãos Titãs e de outro Zeus (Júpiter), auxiliado pelos seus três irmãos mais a Deusa Gáia (Terra). Foi uma guerra tão forte que dez anos de luta até o glorioso triunfo, quase aniquilaram o Universo. Quem testemunhou conta que houve um rugido tão estrondoso que abalou o infinito.
            Para alcançar vitória absoluta, Zeus (Júpiter) contou ainda com a ajuda e a grande sabedoria do Titã Prometeu (Previsão), que viria mais tarde salvar a humanidade com o fogo, do Titã Epimeteu (Idéia que surge depois do ato), irmão de Prometeu (Previsão), do Titã Oceano que envolve a Terra, de sua esposa a Titânia Tétis, do Titã Hiperíon que é o Pai do Sol, da Lua e da Aurora, da Titânia Mnemosine que deu origem à Memória, da Titânia Témis que gerou a idéia de justiça e do Titã Jápeto e de seus filhos, com exceção de um deles, o Titã Atlas.
Uma predição do oráculo de sua avó Gáia (Terra), dizia que para obter vitória absoluta, Zeus (Júpiter) deveria também libertar os Deuses Hecatônquiros do Tártaro para persuadi-los a aliar-se a ele na luta contra seu pai. Zeus (Júpiter) matou Campe, a carcereira responsável pela guarda desses Deuses aprisionados no Inferno e os libertou imediatamente. Eles por gratidão lutaram ao lado de Zeus (Júpiter) e de seus irmãos com suas poderosas armas de trovões, raios, terremotos, vulcões, furacões, etc., fazendo com que a vitória ficasse certa.
            Os Ciclopes também contribuíram dando a Zeus (Júpiter) o trovão, o relâmpago e os raios, à Hades (Plutão) um capacete impenetrável e à Possídon (Netuno) um tridente poderoso que controlava todo o Oceano e o que nele contém.
Foi com essas divinas armas e com toda ajuda dos Deuses que o Poderoso Zeus (Júpiter) e seus irmãos venceram Crono (Saturno) expulsando-o do trono e da sociedade dos Deuses e ainda condenando-o ao Tártaro e sob vigilância de monstros, onde foi submetido à pena de terríveis torturas por muito tempo.
Quanto aos demais inimigos de Zeus (Júpiter), os Titãs que ajudaram Crono (Saturno) na guerra, foram todos castigados de modo terrível como o próprio Deus Crono (Saturno). Ele amarrou-os com duras correntes no interior mais profundo do Tártaro sob a guarda dos Gigantes. Quanto ao Titã Atlas, caiu-lhe o pior castigo. Ele foi condenado a sustentar de pé o planeta em suas costas por toda a eternidade.
            Zeus (Júpiter) e seus irmãos dividiram entre si o Universo, ficando o Mar para Possídon (Netuno), o inferno para Hades (Plutão) e a Zeus (Júpiter) ficou reservado a regência suprema do Universo. Ele passou a ser o Senhor dos fenômenos atmosféricos, o Deus da Chuva, o Senhor do Céu e das Nuvens de onde brande seu terrível raio. Seu poder é maior do que o de todas as outras divindades juntas. Na Ilíada de Homero chegou a dizer aos seus familiares: “Eu represento o poder máximo. Podem pôr-me à prova. Prendam uma corda em mim e a outra ponta no Céu e podem puxar todos juntos que não serão capazes de arrastar-me. Mas se eu quiser arrastar todos para o Abismo, posso fazê-lo facilmente. Com uma corda presa num pináculo do Olimpo, coloco tudo em suspenso no ar, até a própria Terra e o Mar”.
            Os Titãs que ajudaram Zeus (Júpiter) foram recompensados por terem ficado ao seu lado na guerra e como prêmio receberam uma posição de destaque no Olimpo, além de não serem banidos para o Tártaro como os outros.
            Doze Grandes Deuses supremos sucederam então os Titãs. O Monte Olimpo, onde eles instalaram-se, fica sobre uma montanha da Tessália no nordeste da Grécia mitológica. Num poema grego antigo chamado “A Ilíada” de Homero, temos a noção do Olimpo localizado num lugar misterioso, acima de todas as outras montanhas da Terra. Não é o Céu do mundo físico, mas uma montanha localizada num outro Universo.
            Dizem que a entrada do Olimpo é um enorme portão de nuvens guardado pelas Quatro Estações do Ano e é neste lugar onde os Deuses moram, dormem e fazem festas com *ambrósia e *néctar, acompanhados ao som da melodiosa lira de Febo Apolo. É um lugar de bem-aventurança total, pois o vento jamais perturba a paz, também não chove e nem cai neve, só há a vastidão do firmamento sem nuvens e com a gloriosa e eterna luz do Sol difundindo-se por todos os cantos através das muralhas.
            *Ambrósia comida dos Deuses.
*Néctar bebida dos Deuses. Tinham a propriedade de manter a eterna juventude, além de um sabor maravilhosamente inexplicável.
            Apesar de viverem no Olimpo, as divindades se manifestam em todas as partes do mundo. Zeus (Júpiter) constituiu e organizou a ordem divina desde o começo de seu reinado e terminou de fazer a partilha do mundo com o restante de sua família. Ele usa a abóbada celeste para sustentar seu palácio misterioso. A abóboda aparece às vezes coberta por nuvens ou resplandecente de um azul inigualável de fogos e de luz. Este é o Olimpo ou o Empíreo.
            De sua morada erguida no alto das regiões terrestres, nos extremos confins do Éter, no espaço invisível, Zeus (Júpiter) preside às evoluções do Mundo observando os povos, provendo as necessidades dos homens, assistindo às suas rivalidades e tomando parte nas suas discórdias, perseguindo e punindo os culpados. Zeus (Júpiter) vela pela proteção da inocência reunindo os Deuses no Olimpo em sua côrte sob seu cetro real onde faz seus julgamentos sobre a humanidade.
            A família divina é formada por doze Deuses olimpianos: Zeus (Júpiter), o Chefe principal de todos os Deuses, seus irmãos os Deuses Possídon (Netuno) o regente dos Mares e Oceanos, Hades (Plutão) o regente dos Infernos ou Tártaro, Héstia (Vesta) a Deusa Terra e Hera (Juno) com quem se casou e teve sete filhos, Ares (Marte) o bravo, Palas Atena (Minerva) de cujo nome derivou a Capital da Grécia, Febo Apolo, Afrodite (Vênus) a Deusa do amor, Hermes (Mercúrio) o mensageiro do Monte Olimpo devido sua rapidez em locomover-se, Artemisa (Diana) Deusa dos bosques, da caça e defensora da virgindade e da castidade e Hefesto (Vulcano) o Deus do fogo e dos minérios e de cuja paternidade não se tem certeza.
            Tudo parecia tranqüilo, mas a Deusa Gáia (Terra) estava contrariada em ver no desfecho da batalha seus filhos, os Deuses Titãs, serem aprisionados no Tártaro. Ela implorou em vão a Zeus (Júpiter) que os libertasse. Nenhum argumento foi capaz de mudar a idéia do Poderoso Senhor do Olimpo. Revoltada, ela recorreu aos Gigantes e incitou-os contra o Senhor do Mundo.
            Nesta época, a Deusa Gáia (Terra), gerou ainda mais um Gigante para somar forças ao exército dos Gigantes amotinados contra Zeus (Júpiter). O terrível Gigante de nome Tífon. Um Deus monstruoso e flamejante com cem cabeças e garras mortais. Seus olhos emanavam chamas incandescentes. Tífon acomunado com outros Gigantes filhos de Urano (Céu estrelado) e Gáia (Terra), iniciaram uma revolta contra Zeus (Júpiter). Os Gigantes têm uma força descomunal, apresentam pernas e pés em forma de serpente e alguns com vários braços e cinqüenta cabeças. Querendo destronar Zeus (Júpiter), eles amontoaram o Ossa (Montanha da Tessália) sobre o Monte Pelion para tentar escalar o Céu e chegar ao Olimpo. Em seguida eles começaram a lançar rochas contra os Deuses. As que caíram no mar formaram diversas Ilhas, as que caíram na Terra, formaram várias montanhas.
            Apesar dos Deuses do Olimpo já estarem muito fortes, Zeus (Júpiter) estava muito preocupado porque um antigo Oráculo dizia que os gigantes seriam invencíveis a não ser que os Deuses pedissem socorro a um mortal.
            Como Zeus (Júpiter) havia proibido a Aurora, a Lua e o Sol de descobrirem os desígnios de tal Oráculo, veio ele mesmo pessoalmente à Terra de seus filhos protegidos e seguindo o conselho da Deusa Palas Atena (Minerva) para buscar nada mais nada menos que Hércules, um Semi-Deus que ajudou os Deuses do Olimpo a vencer todos os Gigantes.
Eram eles, Encelado, Polibetes, Alcioneu, Forfirion, Aloidas, Efialtes, Oeto, Eurito, Clito, Titio, Palas, Hipólito, Ágrio, Taon e o terrível Tífon que foi quem deu mais trabalho aos Deuses. O fato é que esta batalha só veio a propiciar ao altíssimo Zeus (Júpiter) uma nova vitória.
Após a vitória, Zeus (Júpiter) jogou todos eles no fundo do Tártaro. Cada um num local diferente da Terra. Encelado, por exemplo, foi enterrado sob o Monte Etna de onde exala seu hálito abrasado pelo Vulcão toda vez que tenta voltar. Seus movimentos nos subterrâneos do Tártaro fazem tremer a Sicília que fica escurecida por uma espessa camada de fumaça. Polibetes foi enterrado sob a Ilha de Lango e Oeto foi enterrado sob a Ilha de Cândia. O Gigante Tífon, o que deu mais trabalho, ficou por conta direta de Zeus (Júpiter) que já dominava o trovão e o raio derrotando-o facilmente dando-lhe o mesmo destino que dá aos seus inimigos, enterrando-o sob a Ilha de Ísquia.
Depois de tantas experiências desastrosas dos vencidos, poderíamos até achar que foram suficientes para deter as pretensões de novos desafiantes. Mas eis que os irmãos Aloídas, ficaram ardentemente apaixonados pelas Deusas Hera (Juno) e Artemisa (Diana) e sem deixarem se atemorizar pelas lições de tantas derrotas dos inimigos dos Deuses do Olímpo, cada qual, por seu turno, investiu contra o Olimpo e cada um deles foi arrasado facilmente para o Tártaro por Zeus (Júpiter), o Senhor Supremo do Olimpo. Finalmente depois desta última batalha, Zeus (Júpiter) e seus irmãos puderam governar no Monte Olimpo tranqüilamente como Senhores de tudo e de todos.
Os Deuses do Olimpo também têm seus companheiros de viagem. São criaturas sobrenaturais, que servem de criados, professores, ajudantes e seguidores. Cada divindade tem seu séqüito, cujo caráter reflete a personalidade do Deus. O ébrio Deus Dionísio (Baco) vive rodeado por um estranho conjunto de animais míticos e mulheres que dançam freneticamente, ao passo que as companheiras da Deusa do amor Afrodite (Vênus) são as lindas Graças. Muitos desempenham também outras funções, como espíritos de lugares específicos ou divindades com responsabilidades especiais. Vários são os espíritos da natureza mais próximos do nosso dia-a-dia do que os poderosos Deuses do Monte Olimpo.
            Enquanto isso na Terra, ainda não existia os seres humanos, que uma vez liberta dos Deuses Monstruosos, estava pronta para recebê-los. Gáia (Terra) então se transformou num lugar para se viver em liberdade, com conforto, segurança e sem os perigos de um aparecimento súbito de algum Titã ou Gigante do mundo antigo.
Quando toda a Criação estava pronta e ordenada sobre o Mundo, Prometeu criou o ser humano e pediu-lhe que povoasse a Terra.
            Os primeiros homens foram criados inicialmente de ouro. Não tinham tristezas, labutas e nem sofrimentos. Apesar de mortais, tinham uma vida muito longa, fartura e abundância e ainda dispunham de um enorme rebanho. Os Deuses sempre lhes eram favoráveis. Depois que morriam, seus espíritos puros se transformavam em guardiões da humanidade. Nesta época, ainda não existiam mulheres sobre a face da Terra.
Tempos depois, os Deuses experimentaram criar homens de prata. Esta segunda raça de humanos, no entanto, se mostrou muito inferior em relação à primeira. Eram pouco inteligentes, proferiam injúrias uns contra os outros e quando morriam, seus espíritos morriam também.
            Depois disso os Deuses experimentaram criar homens de bronze. Esta terceira raça era terrível. Além de muito fortes, eles amavam a guerra e a violência. Por fim, eles destruíram uns aos outros até sua total aniquilação. Após a morte, os espíritos desta raça também morreram.
            A seguir, surgiu uma recompensa sob a forma de uma quarta raça de humanos semelhantes aos Deuses, heróis vitoriosos que deixaram histórias famosas de aventuras nunca antes narradas. Por fim, todos desta raça se retiraram para as Ilhas dos Bem-aventurados, onde vivem até hoje felizes para sempre.
            Os Deuses então, criaram do ferro a quinta raça que viveu sobre a Terra até o dilúvio e dos quais nós, humanidade atual feita de pedra, descendemos diretamente. A humanidade de ferro foi uma raça que enfrentou épocas difíceis e cheias de perigos. Apresentavam o mal em sua natureza, o que lhes proporcionava trabalho sem descanso e tristezas sem tréguas. Seus descendentes foram se deteriorando de geração para geração. Para esta raça, o poder tomou mais importância que quaisquer outros valores. Eles chegaram ao ponto de não poderem sequer opor-se ao mal. Foi quando Zeus (Júpiter) enviou um dilúvio para lhes destruir.
            Reinava a paz no céu e na terra. Zeus (Júpiter) com suas vitórias sobre as forças da desordem, firmou-se para toda a eternidade como Rei Supremo, diante do qual todas as vozes humanas e divinas se calam, com respeito e obediência.
            Quanto ao Deus Titã Crono (Saturno), só depois de muito tempo é que Zeus (Júpiter) resolveu soltar seu pai expulsando-o definitivamente do Céu e da Sociedade dos Deuses transformando-o num simples mortal. Ele refugiou-se na Itália, levando a Idade Áurea consigo onde fez um Reinado de paz e felicidade perfeitas por todo o tempo que ali viveu.
            Um trato incessante foi estabelecido entre todas as divindades do Olimpo no intento de aproximar-se dos mortais unindo-se com eles. Os mortais mais generosos reciprocamente aspiram às honras do Olimpo e através de ações heróicas, esforçam-se por obter dos Deuses a imortalidade.
            Os homens primitivos da Antigüidade começaram a cultuar o Deus Hélio (Sol) que aquece e ilumina o mundo e a Zeus (Júpiter), cujos raios rasgam as nuvens, acoitam a terra, consomem a natureza viva espalhando ao longe a consternação e o terror muito conhecidos. Estes homens viviam em cavernas e sentiam medo e admiração pelos fogos celestiais e terrestres. Raios, vulcões, incêndios, gases luminosos, fogos fátuos dos pântanos, etc. eram motivos mais do que suficientes para a realização de cultos religiosos em homenagem aos seus divinos poderes. Entretanto, o fogo não lhes pertencia, nem o segredo para controlá-lo, pois, era um privilégio precioso e secreto dos Deuses. Como não podia pertencer a um mortal, Prometeu (Previsão), filho da Nereida Ásia e do Titã Japeto é quem detinha esse poder.
            Prometeu (Previsão) notou que antes de criar o homem, os Deuses concederam aos animais vários dons maravilhosos. Rapidez, coragem, astúcia, pêlos, penas, asas, conchas, etc. Por fim nada restou para os seres humanos que feitos do limo da terra, se viram sem qualquer proteção. Em sua percepção divina, ele também percebeu que entre todas as criaturas vivas, nenhuma era capaz de descobrir coisas, de estudar, de utilizar as forças da natureza, de se comunicar mentalmente com os Deuses, de comandar outros seres estabelecendo entre eles a ordem e a harmonia e de compreender pela inteligência não apenas o mundo visível, mas os princípios e a essência das coisas.
            Palas Atena (Minerva) admirando a beleza de sua obra ofereceu ao Titã Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) tudo quanto pudesse contribuir para a sua perfeição. O Titã Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) então, foi pedir ajuda ao seu irmão Prometeu (Previsão) sobre como tornar o homem superior aos outros animais. Prometeu (Previsão) então disse a Palas Atena (Minerva) que para ajudar, necessitaria visitar pessoalmente o Olimpo. Prometeu (Previsão) então tomou frente à criação e deu ao homem uma forma física mais nobre que a dos outros animais com a verticalidade e postura própria dos Deuses. Aproveitando sua visita ao Céu por intermédio de Palas Atena (Minerva), ele foi junto ao Deus Hélio (Sol) onde acendeu uma tocha para dar de presente ao homem aqui na terra, visando que este ficasse com o melhor meio de proteção entre todos os animais. Dizem que Prometeu (Previsão) trouxe para a Terra o fogo do carro do Deus Hélio (Sol), escondido na haste de uma férula, que era um bastão oco, o que mais tarde seria descoberto e atrairia para ele a ira do próprio Zeus (Júpiter).
            Quanto ao surgimento da mulher na face da Terra, Zeus (Júpiter) criou-a por vingança contra a humanidade pelo fato do Titã Prometeu (Previsão) ter dado o fogo ao homem sem a sua autorização. A gota d’água que desencadeou sua fúria e vingança, porém, foi num dia de sacrifícios de animais para os Deuses, em que alguns homens mataram e desmancharam um enorme boi. Em seguida, eles esconderam toda sua carne dentro do próprio couro e ao lado colocaram todos os ossos empilhados astutamente sob uma grossa camada de gordura reluzente. Eles então pediram que Zeus (Júpiter) escolhesse com qual dos dois bois sacrificados queria ficar. Zeus (Júpiter) escolheu o falso boi de gordura.
            Ao perceber a desonestidade dos homens, ele enfureceu-se e jurou vingança primariamente contra a humanidade e secundariamente contra Prometeu. Ele então pediu à Hefesto (Vulcano) que forjasse para os homens algo muito perigoso, com extrema beleza, com aspecto de uma tímida donzela, cheia de dons recebidos dos Deuses, com vestes prateadas e um véu todo bordado, grinaldas de flores frescas e uma coroa de ouro sobre a cabeça. Hefesto (Vulcano) então, criou então a primeira mulher humana e pela sua convivência anterior com as Deusas do Olimpo, ele já conhecia a curiosidade natural da mesma.
            Quando acabou sua obra, Hefesto (Vulcano) levou-a pessoalmente ao Olimpo à presença do poderoso Zeus (Júpiter). Todos os Deuses ficaram admirados ante essa nova criatura e cada um deles quis fazer-lhe um presente. Palas Atena (Minerva) ensinou-lhe as artes próprias do sexo feminino, como por exemplo, a arte de fiar. Afrodite (Vênus) espalhou em torno dela o encanto como o desejo inquieto e os cuidados fatigantes. As Graças junto com a Deusa da Persuasão ornaram a sua garganta com colares de ouro. Hermes (Mercúrio) deu-lhe a palavra com a arte de persuadir os corações com discursos insinuantes. Após a sessão de entrega de presentes, os Deuses deram-lhe o nome de Pandora (Pan (Tudo) + Doron (Dom) = “Dom de Tudo”). Zeus (Júpiter) então lhe deu uma caixa hermeticamente fechada e disse-lhe que a levasse para Prometeu (Previsão).
            Prometeu (Previsão) desconfiado das intenções de Zeus (Júpiter) já havia aconselhado Pandora a não aceitar nada dele. Mesmo assim, ela aceitou levar a caixa para Prometeu (Previsão) atendendo ao pedido do próprio Zeus (Júpiter). O desconfiado Prometeu (Previsão) não quis recebê-la e recomendou que seu irmão Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) também não recebesse nada da parte de Zeus (Júpiter). Como sempre refletia e julgava tudo tarde demais, Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) ao ver a encantadora Pandora na sua frente, esqueceu de todas as recomendações de seu irmão e tomou-a por esposa. Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) então abriu a “Caixa de Pandora” e todos os males, desgraças, crimes, etc. saíram e foram se espalhando por todo o Universo. Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) e Pandora tentaram fechá-la, porém já era tarde demais e eles só conseguiram reter a Esperança dentro da caixa, o único conforto que a humanidade tem nos momentos de infortúnios.
            A humanidade então recebeu o castigo por tentar enganar Zeus (Júpiter) com um falso boi de gordura e a partir disso, ficou comum na antiga Grécia o costume de se queimar apenas a gordura e os ossos para os Deuses, reservando para o homem a carne limpa. Os mortais por sua vez, aprenderam que não se pode roubar e nem enganar Zeus (Júpiter). Até Prometeu (Previsão) que era sábio e compassivo aprendeu esta verdade.
            Depois de castigar a humanidade, os olhos de Zeus (Júpiter) se voltaram contra Prometeu (Previsão) com o qual ele mesmo tinha uma grande dívida de gratidão da época da guerra contra os antigos Titãs. Esquecido e muito irritado porque Prometeu (Previsão) trouxera o fogo para o homem e não caira na sua armadilha da Caixa de Pandora (Previsão), Zeus (Júpiter) mandou seus criados Força e Violência capturarem Prometeu (Previsão) e levá-lo com a ajuda de Hermes (Mercúrio) para um pico rochoso no Cáucaso onde o prenderam numa coluna do escarpado com correntes de diamante confeccionada por Hefesto (Vulcano) e que não havia quem a quebrasse. Dizem que a pena aplicada foi de trinta mil anos.
            Essa tortura que Zeus (Júpiter) impôs a Prometeu (Previsão) não era apenas um simples castigo por ele ter dado o fogo de presente aos homens, mas ele tinha a intenção de coagi-lo para desvendar um importante segredo. Zeus (Júpiter) sabia que o Destino, que preside à origem e a tudo o que acontece, determinou que um dia ele teria um filho que o destronaria e expulsaria todos os Deuses do Olimpo. Só Prometeu conhecia o nome da mulher que daria a luz a este filho. Ele aproveitou que Prometeu (Previsão) estava acorrentado à rocha em agonia e enviou Hermes (Mercúrio) para obrigá-lo a falar e o mesmo se negou, dizendo que era mais fácil que Zeus (Júpiter) ordenasse que as ondas do mar não arrebentassem na beira da praia. Hermes (Mercúrio) lhe ameaçou de torturas muito maiores.
            Na manhã seguinte, uma águia vermelha de sangue (provavelmente um abutre), filha do Gigante Tífon apareceu para banquetear-se de seu corpo despedaçando-o durante o dia, principalmente seu fígado para que a noite Prometeu (Previsão) refizesse seu corpo através de seus poderes divinos. Todo esse suplício imposto por Zeus (Júpiter), porém, foi em vão. Não havia ameaça ou tortura que fizesse Prometeu (Previsão) abrir a boca. Apesar de seu corpo preso, seu espírito continuava livre. Prometeu (Previsão) em sua sabedoria, estava com sua consciência limpa e com a sensação de dever cumprido com relação à humanidade. Prometeu (Previsão) disse para Hermes (Mercúrio) que nem os trovões ou cataclismos de Zeus (Júpiter) poderiam obrigá-lo a falar. Achando-o louco, Hermes (Mercúrio) deixou-o entregue aos tormentos que lhe estavam destinados a sofrer.
            Certo dia Prometeu (Previsão) percebeu que chegava a estranha visita de uma bezerra que escalava desajeitadamente os rochedos e despenhadeiros vindo em sua direção. Ela falava como uma moça humana cheia de sofrimento. Ela estava espantada com o enorme vulto acorrentado à rocha. Eles começaram a conversar e ela lhe contou que na verdade era uma moça que sofria por um erro cometido. Prometeu (Previsão) sabendo de sua história lhe reconheceu e lhe perguntou se ela era Io, filha de Inaco, primeiro Rei de Argos e que inflamou de amor o coração de Zeus (Júpiter) recebendo sobre si o ódio e o castigo de Hera (Juno). Espantada por causa de o estranho demonstrar saber tanto sobre sua vida, ela perguntou-lhe quem era. Ele explicou-lhe ser o Titã Prometeu (Previsão) que deu o fogo aos mortais. Ela também o reconheceu e lembrou-se da história.
            Desse momento em diante eles conversaram à vontade e ambos comentaram entre si sobre como Zeus (Júpiter) fora a causa do sofrimento de ambos. Depois de ouvir toda história de Prometeu (Previsão), ela lhe contou que Zeus (Júpiter) lhe seduzia à noite em seu quarto sob a forma de sonhos que lhe enganaram e persuadiram com doces palavras. Ele se apaixonou por ela e foi pouco cuidadoso em esconder seu romance de sua ciumenta esposa Hera (Juno). Demonstrando total falta de tato, um dia Zeus (Júpiter) se encontrou com Io e para se esconder de Hera (Juno), criou em volta de ambos uma nuvem tão espessa e tão escura que parecia que anoiteceu derrepente. Hera (Juno) achando muito estranho aquele fenômeno no céu, imediatamente desconfiou de seu marido. Depois de procurá-lo em vão por todo o Céu, ela projetou-se a Terra e ordenou que as nuvens se afastassem. Finalmente ela encontrou o também esperto Zeus (Júpiter) junto a uma bezerrinha branca e encantadora. Tratava-se de Io. Zeus (Júpiter) jurou que era a primeira vez que a via, pois a mesma acabara de brotar da terra e não passava de uma recém-nascida. Hera (Juno) não acreditou numa palavra sequer.
            Hera (Juno) então pediu a bezerrinha de presente, pois tinha achado-a muito bonitinha. Sem argumentos para recusar o pedido, pois temia ser “descoberto” em sua mentira, deu Io para Hera (Juno) que prontamente deu um jeito de não mais haver proximidade entre ela e Zeus (Júpiter).
            Hera (Juno) deixou Io sob a vigilância de Argus (Argos), o guarda de cem olhos. Este guarda podia dormir com alguns olhos e estar alerta com os outros restantes. Zeus (Júpiter) ficou sem ter o que fazer, a não ser assistir à miséria de sua amada Io transformada para sempre em animal. Zeus (Júpiter) então pediu ajuda a Hermes (Mercúrio) para matar Argus. Hermes (Mercúrio) então se livrou de tudo o que pudesse identificá-lo como um Deus e disfarçou-se de camponês tocador de flauta de cana de onde tirava doces melodias. Ao se aproximar de Argus com sua música, ele satisfeito com a melodia, pediu que o “falso camponês” se aproximasse mais e sentasse ao seu lado sobre uma rocha. Hermes (Mercúrio) então se pôs a conversar intercalando com solos melodiosos de sua flauta com o objetivo de levá-lo a dormir de tanta monotonia. Mas, nada cansava Argus, até que ele contou a história do Deus Pã que apaixonado pela Ninfa Siringe, entrou em perseguição para agarrá-la e quando estava prestes a conseguir seu intento, ela pediu ajuda a uma de suas irmãs Ninfas que a transformou imediatamente num tufo de canas. Pã então, disse que mesmo sob essa forma ela seria dele e do canavial ele criou uma flauta de pastor de canas unidas com cera de abelhas.
Argus achou essa história do Deus Pã tão enfadonha que adormeceu profundamente ao ponto de fechar todos os seus cem olhos. Hermes (Mercúrio) aproveitou a situação e matou Argus e libertou Io. Hera (Juno) pegou os olhos de Argus e colocou-os na cauda dos pavões para homenageá-lo e o pavão se tornou então a sua ave predileta. Muito irritada, Hera enviou uma das Erínias (Fúrias) junto com um moscardo para perseguir e picar o tempo inteiro a infeliz princesa. Io ficou tão perturbada e enlouquecida que não conseguia mais parar de correr pelas estradas, a ponto de não mais poder parar nem para comer, beber ou até dormir.
Querendo confortá-la, Prometeu (Previsão) lhe falou sobre um futuro longínquo e de muita paz e recompensa em sua vida. Ela ficou sabendo que a faixa marítima que havia corrido inicialmente se chamaria mar Jônico em sua honra e que o Bósforo (vau da vaca), guardaria para sempre a lembrança de sua passagem. Prometeu (Previsão), porém, não escondeu-lhe que antes disso ela iria ainda vagar durante muito tempo por regiões terríveis e inóspitas sob a forma de uma bezerrinha.
*Vau – lugar pouco fundo do rio ou do mar e onde se pode transitar a pé ou a cavalo e por onde os pastores guiam seu gado.
Ela atravessou o mar a nado, foi a Ilíria, passou o Monte Hemus, chegou a Cítia e ao país dos Cimérios. Depois de ter errado em tantos países, ela finalmente parou às margens rio Nilo, quando Zeus (Júpiter) finalmente pôde, longe dos olhos de Hera (Juno) que já estava mais abrandada em sua fúria, transformá-la novamente em humana. Io então engravidou de Zeus (Júpiter) e deu à luz à Épafo e pouco tempo depois morreu. Epafo, desde que nasceu, foi arrebatado pela ciumenta Hera (Juno) que o entregou aos cuidados dos Curetes; Zeus (Júpiter), ao saber disso, matou-os. Épafo então viveu feliz e respeitado e de sua descendência nasceu Hércules, herói glorioso, de ânimo arrojado e que os próprios Deuses tinham muita dificuldade em superá-lo.
            O Centauro Quíron, apesar de imortal, ofereceu-se a Zeus (Júpiter) em holocausto em troca da liberdade de Prometeu (Previsão). Ele aceitou de bom grado e mandou Hércules soltá-lo imediatamente. É claro que Hércules teve ainda que matar primeiramente a águia enviada por Hermes (Mercúrio). Para os gregos, Prometeu (Previsão) se tornou depois disso o símbolo de rebeldia por excelência que se insurge contra a injustiça e o autoritarismo do Poder. Quíron, ao contrário dos outros Centauros, era bondoso e sábio. Ele aprendeu as habilidades da medicina, da música e da guerra com os Deuses Febo Apolo e Ártemis. Foi tutor dos heróis Aquiles e Jasão na arte de guerrear e passou seu dom de curar para o Deus Asclépio. Um dos motivos que o levou a oferecer-se em holocausto foi o fato de estar gravemente envenenado por uma flecha embebida no sangue da Hidra de Lerna que Hércules acidentalmente lhe acertou no joelho durante a batalha contra os Centauros. Não havia cura e ele sabia disso. Sua vida se transformara em constante dor. Ele implorou a Zeus (Júpiter) que lhe tirasse a vida em troca da vida do Titã Prometeu. Emocionado, o Pai dos Deuses passou para Prometeu (Previsão) a imortalidade de Quiron colocando-o imediatamente entre os astros formando a constelação de Sagitário.
Na verdade, Zeus (Júpiter) lembrou-se dos bens que Prometeu (Previsão) lhe fez, ajudando na guerra contra os Titãs, alertando para que Zeus (Júpiter) não galanteasse a Ninfa Tetis, pois só Prometeu (Previsão) sabe que a criança que nasceria dessa união haveria de um dia destroná-lo. Porém, para não violar o seu juramento de que nunca libertaria Prometeu (Previsão), Zeus (Júpiter) obrigou o mesmo a usar um anel de ferro com um fragmento da rocha do Cáucaso engastada, para que de qualquer modo fosse verdade que Prometeu (Previsão) ficaria para sempre preso a essa montanha.
            Em Atenas, Prometeu tinha altares erguidos por seus admiradores. Os gregos celebravam a Lampadodromia, festa solene das lâmpadas em homenagem àquele que presenteou os homens com o fogo dos Deuses. Nesta festa, os monumentos públicos, ruas e encruzilhadas ficavam iluminados. Era época de jogos e corridas com tochas de fogo. Toda a mocidade ateniense se reunia à tarde perto do altar de Prometeu (Previsão), ao clarão do fogo e a um sinal dado, acendia-se uma lâmpada que os pretendentes ao prêmio da corrida deviam levar sem apagá-la, correndo a toda velocidade de um a outro extremo do Cerâmico. O fogo divino estava também presente em todos os cultos e altares. Nos *Pritaneus de todas as cidades gregas, alimentavam-se lâmpadas que nunca deviam extinguir-se. Foi dessa época que surgiu a tocha olímpica.
            *Pritaneu – lugar na Grécia antiga, onde se reuniam os Pritanes, em que tomavam refeições custeadas pelo Estado, além daqueles, cidadãos aos quais se concedia esse privilégio em recompensa de serviços prestados à pátria. É um estabelecimento fundado em favor dos que bem mereceram da pátria.
            Finalmente os Deuses criaram a nossa raça atual, na verdade a sexta raça de humanos, totalmente feita de pedra e diretamente descendente da raça humana de ferro, extinta por um dilúvio que durou nove dias e nove noites.
            Na época do dilúvio, Prometeu (Previsão) sabendo do que se sucederia e querendo pelo menos proteger sua família, mandou seu filho Deucalião construir uma arca, enche-la de provisões e embarcar nela com sua mulher Pirra, filha de Epimeteu (Idéia que surge depois do ato) e Pandora.
            Como na Terra mitológica só ficou o pico do Monte Parnaso descoberto das águas, o barco foi parar numa praia deste lugar. Dessa vez Zeus (Júpiter) não ficou ofendido, pois o casal que lá chegou era de pessoas fiéis, piedosas e verdadeiros veneradores dos Deuses. Nesta praia não havia sinal de vida e o mar era uma vastidão de água infinita. Zeus (Júpiter) apiedou-se deles, drenou as terras fazendo com que as águas retrocedessem aos mares e rios lentamente. Tempos depois, a Terra voltou ao seu aspecto anterior. O único casal de humanos sobre a Terra, Deucalião e Pirra desceram então o Monte Parnaso e encontraram um templo cheio de lodo e musgo, mas não completamente em ruínas. Entraram e deram graças aos Deuses por não terem sucumbido. Eles imploraram então por auxílio divino para vencer aquela terrível solidão que os rodeava. Uma voz dos céus lhes ordenou que cobrissem o rosto e que em seguida jogassem para trás os ossos de vossa mãe. Eles não entenderam e ficaram horrorizados com a ordem. Pirra logo se mostrou contra esta idéia. Deucalião foi forçado a concordar com ela. Em seguida ele percebeu qual era o verdadeiro sentido daquela ordem divina. A Terra é a mãe de tudo e os ossos são as pedras. Imediatamente eles começaram a jogar pedras para trás sem olhar. À medida que as mesmas caíam no solo, transformavam-se em seres humanos, uma raça toda feita de pedra. Somos nós, uma raça resistente, vigorosa e capaz de salvar a terra da desolação deixada pelo Dilúvio.

Exercício para casa:
11) Para os antigos gregos, antes da criação do Universo, no que se resumia a realidade?
12) Para os antigos gregos, qual foi a primeira coisa que a escuridão gerou no Universo?
13) Para os antigos gregos, como surgiu a ordem no Universo?
14) Segundo os antigos gregos, como nasceram os Astros do Céu?
15) Segundo os antigos gregos, quais foram a primeira geração de Deuses que surgiram no Universo?
16) Segundo os antigos gregos, como nasceram todas as criaturas na Terra?
17) Para os antigos gregos, a última geração de Deuses que surgiu se instalou no Monte Olimpo. Quem gerou esta geração que derrubou os antigos Deuses Titãs?
18) Segundo os antigos gregos, qual foi o Deus que derrubou o Titã Crono (Saturno) e se tornou o Deus supremo sobre os outros Deuses gregos e Rei no Universo?
19) Segundo os antigos gregos, como ficou formada a família divina de última geração considerados os 12 grandes olimpianos?

3.3 – Zeus (Júpiter):
            Júpiter para os romanos, filho dos Deuses Titãs Crono e Réia. Zeus (Júpiter) é Pai e Rei de todos os Deuses e homens. Ele também é conhecido por outros nomes como: Ktésios que propicia riquezas aos devotos, Herkeios que protege as casas e as cidades e Xênios que vela pelos estrangeiros, desterrados, mendigos e aflitos.
Ele Reina sobre tudo e todos de seu trono no Monte Olimpo. Com um simples movimento de sua cabeça, ele tem a capacidade de mover todo o Universo. Sua arma mais poderosa e mortal são os raios acompanhados de fortes trovões. Está sempre envolto por um grande halo de Luz e todos o reconhecem pela fama de nunca ajudar aos mentirosos e aos que cometem perjúrios. Veste-se com um manto de ouro bordado de flores que lhe cobrem totalmente a parte inferior do corpo, deixando semi-descoberto parte do peito e o braço direito. É comum também que ande totalmente nu de vez em quando. Seu aspecto é de um Deus majestoso, de um homem maduro com rosto sereno, grave e de físico robusto. Apresenta barbas muito longas e, na cabeça uma abundante cabeleira ornada com uma coroa de ramos de oliveira.
            O salão do trono de Zeus (Júpiter) é todo de ouro incrustado de diamantes e outras pedras preciosas. Seu trono real é todo feito de ébano, bronze, marfim e ouro. Em sua mão direita sustenta um cetro ornado com uma águia. Trata-se de um tição flamejante de duas pontas como uma lança pontiaguda com dois lados e armada com duas flechas pela qual ele emite raios como bem lhe aprouver. Em sua mão esquerda ele ostenta uma Vitória toda de ouro e marfim, ornada de faixas e coroada. A seus pés encontra-se a Águia raptora de Ganimedes e quatro Vitórias de mãos dadas brincando de rodas em sua volta.
            Ao seu lado está sempre a Deusa Justiça. Sobre seu ombro direito, ao lado de sua cabeça ficam as Graças, sobre seu ombro esquerdo ficam as Horas.
            Sua maior proteção é uma couraça (égide), um escudo com aspecto terrível, confeccionado com a pele da Cabra Almatéia, sua ama de leite. Sua árvore favorita é o carvalho que o acolheu e protegeu em sua copa quando era bebê evitando que seu Pai Crono (Saturno) o devorasse. Seu oráculo mais célebre fica na floresta de Dodona, terra dos carvalhos de onde a sua vontade é revelada por meio do sussurro das suas folhas e interpretada pelos seus sacerdotes. Aliás, foi nessa floresta localizada no Epiro, que os homens ergueram o seu mais antigo santuário.
            Zeus (Júpiter), o Deus por excelência, o Altíssimo, era cultuado geralmente nos píncaros das montanhas. Monte Ida em Creta, Montes Parnes e Hímeto na Ática, Monte Helição na Beócia, Monte Pélion na Tessália, Monte Pangeu na Trácia, Monte Olimpo na Macedônia e Monte Liceu na Arcádia. Em cada um deles foram erigidos um templo em sua honra.
            Conta-se que Zeus (Júpiter) foi enganado tanto por Possídon (Netuno) quanto por Hera (Juno). O próprio Destino com seu misterioso poder é sempre considerado mais forte que ele. Certa vez Hera (Juno) perguntou com sarcasmo se ele seria capaz de ousar libertar da morte um homem condenado pelo Destino. Ele nada respondeu.
            Zeus (Júpiter) foi casado sete vezes. Sua primeira esposa foi a Deusa Metis, depois foi a Deusa Titânia Temis, o terceiro casamento foi com a Deusa Eurinome, o quarto casamento foi com a Deusa Ceres, o quinto foi com a Deusa Titânia Mnemosine, o sexto com a Deusa Latona e por último desposou sua irmã gêmea a Deusa Hera (Juno) com a qual tem vida conjugal até hoje.
            Sempre foi público e notório o caráter namorador de Zeus (Júpiter). Marido infiel, Hera (Juno), sua ciumenta esposa vive eternos aborrecimentos como esposa traída. Inúmeras foram as mulheres imortais e mortais que ele se enamorou e várias delas lhe deram- muitos filhos que foram colocados entre os Deuses e Semi-Deuses. Ele usa vários subterfúgios para ocultar seus romances de sua esposa Hera (Juno). Muitos gregos rejeitam essas inúmeras aventuras amorosas.
            Com sua esposa a Deusa Hera (Juno) teve o filho Ares (Marte); com Hebe teve Hefesto (Vulcano); com a Deusa Latona teve Febo Apolo e Artemisa (Diana); com Leda teve Helena e Pólux; com Sêmele teve Dionísio (Baco); com Alcmena teve Hércules; com Dânae teve Perseu; com Europa teve Minos; com Radamanto teve Sarpedão; com Níobe teve Argo e Pelasgo; com a Ninfa Plouto teve Tântalo; com Calisto teve Arcas; com Io teve Épafo; com Carme teve Britomártis; com a Deusa Ceres teve Prosérpina; com Egina teve Éaco; com Antíopa teve Anfião; com Laodamia teve Sarpedão; com Taígete teve Lacedêmon; com Electra teve Dárdano e Lasião; com Maia teve Hermes (Mercúrio); com a Deusa Titânia Têmis teve as Horas, Moiras e Astréia; com a Deusa Eurínome teve as Graças e finalmente com a Deusa Titânia Mnemósine teve as Musas. Única exceção foi sua filha Palas Atena (Minerva) que nasceu de seu crânio fendido sem a participação de qualquer imortal ou mortal.
            Dentre seus romances mais conhecidos podemos contar inicialmente a sua paixão pela donzela Antiopa. Tudo começou numa linda tarde de verão, na cidade de Tebas. O sol estava a pino e todos trabalhavam em ritmo lento nos campos com a pele ensopada de suor pelo calor excessivo. As plantas e flores cansadas pelo sol ardente e pelo excesso de luz, estavam curvadas para o chão também ardente. Pelos bosques e atalhos, homens e animais procuravam o frescor das sombras das árvores e do leito refrescante da relva. Perto dali, uma cascata maravilhosa umedecia o ar com pequenas gotas que levadas pelo vento respingavam sobre os corpos dos camponeses como um bálsamo.
            Buscando refrescar-se, a bela, solitária e inocente donzela Antíopa também dirigiu-se ao bosque em busca do frescor das suas sombras. Num local mais afastado, devido ao cansaço, ela deitou-se e adormeceu serenamente sobre folhas e entre flores silvestres. Por entre os ramos, o sol formava desenhos em seu corpo escultural.
            Zeus (Júpiter), metamorfoseado em Sátiro, fazia sua costumeira ronda por entre as árvores, suspirando por novas aventuras amorosas. Seus ouvidos cansados das queixas de sua esposa Hera (Juno), ansiavam por vozes femininas mais mansas.
            De súbito, ele se deparou com Antíopa, adormecida sobre a relva. Estremecido de contentamento, ele contemplou suas formas perfeitas, seus delicados traços e sua pele aveludada como damasco. Com muito cuidado para não despertá-la, ele atirou-se sobre a jovem prendendo-a em seus braços ardentes. Era tarde demais quando Antíopa despertou assustada. Triste, só lhe restou chorar em terras longínquas para que seu pai Nicteu, não lhe castigasse pesadamente depois dela ter sido ardentemente violada.
            Ela então deixou os muros de Tebas, sua terra natal, onde vivera feliz desde a infância e embrenhando-se por trilhas escuras através dos bosques, Antíopa preferiu arriscar morrer nas garras de animais selvagens a ser vista por algum pastor ou camponês que levaria com certeza a informação da direção de sua fuga para seu severo pai. Caminhou durante muito tempo correndo perigos incalculáveis até que chegou ao Reino de Sícion.
            O Rei de Sícion, Epogeu, ficou deslumbrado com sua beleza estonteante e tratou de hospedá-la imediatamente em seu palácio suplicando-lhe que se tornasse sua esposa e Rainha. Antíopa se apaixonou por Epogeu e aceitou de bom grado a sua proposta. Numa festa majestosa, ela esposou o Rei Epogeu, tornando-se a Rainha de Sícion ao seu lado.
            Vivia feliz com o vislumbre de um futuro também com promessas de muita felicidade. Só que a alegria durou muito pouco. Seu pai Nicteu, desesperado com a fuga de sua filha, fez com que seu irmão Lico jurasse trazê-la de volta pouco antes de se suicidar.
            Acompanhado de uma pequena tropa, Lico partiu em sua busca, procurando investigar sobre o possível paradeiro de sua sobrinha. Ao entrar em Sícion, logo descobriu a Rainha Antíopa e atacou a cidade tornando-a viúva e prisioneira em Tebas.
            No difícil caminho de volta, a jovem Rainha parou toda a comitiva de Lico sob fortes dores de parto. Recostada na dura terra, suplicando ajuda divina, ela deu a luz aos gêmeos Anfião e Zeto, ambos filhos de Zeus (Júpiter). Seu tio friamente obrigou-a a abandonar os recém-nascidos que foram acolhidos pouco tempo depois por pastores locais.
            Com o passar dos anos em cativeiro e sofrimentos, presa sob fortes correntes, Antíopa viveu apenas de recordações felizes e esperanças absurdas.
            Um dos pastores que ficou sabendo do infortúnio que vivia Antíopa contou tudo aos seus filhos Anfião e Zeto que já adultos rumaram para Tebas com o intento de vingar os sofrimentos de sua mãe.
            Mataram com suas espadas o tirano Lico e a seguir ataram sua mulher Dirce à cauda de um touro furioso que foi solto por um caminho pedregoso. Dirce morreu completamente dilacerada. Só que Dirce era fiel devota do Deus Dionísio (Baco) e este, irritado com o suplício infligido à sua fiel devota, resolveu intervir punindo os jovens com um triste castigo aplicado sobre a mãe deles. Ele enlouqueceu Antíopa que saiu errante pelas terras gregas, sem destino e lembranças. Tempos depois os Deuses se apiedaram dela e colocaram em seu caminho o bondoso Foco que a curou de sua loucura esposando-a e proporcionando-lhe finalmente a tão sonhada felicidade.
            Outra paixão de Zeus (Júpiter) foi pela formosa Ninfa Astéria. Por ela pastores e camponeses do vale suspiravam constantemente. À porta de sua casa, era comum deixarem anonimamente singelos presentes como ramalhetes de flores silvestres e fartas cestas de frutos. Até os animais silvestres mais ariscos vinham comer em sua mão, tão grande era o seu encanto.
            Como nenhuma beleza feminina escapava aos ávidos olhos do poderoso Zeus (Júpiter), que por entre árvores, atalhos, templos e até sob as águas, andava incansavelmente em busca de formosuras, acabou encontrando a doce Ninfa Astéria.
            Metamorfoseado em um homem mortal, Zeus (Júpiter) expressou-lhe seu deslumbramento, pedindo-lhe retribuição aos seus ardentes desejos. A bela Ninfa, sem responder nada, pôs-se a fugir por vales e bosques.
            Até as folhas das árvores agitaram-se aflitas. Animais silvestres corriam sobre seus rastros tentando despistar seu perseguidor. Os camponeses e pastores pararam seus trabalhos para observarem inquietos e solidários a fuga da pobre donzela.
            Preferindo o silêncio dos presentes anônimos e o mudo carinho dos animais, a casta Ninfa não queria aventuras amorosas. Suas ágeis pernas não eram capazes de vencer a rapidez dos fortes passos do poderoso Zeus (Júpiter). O encontro era iminente.
            Finalmente a Ninfa Astéria chegou à beira da praia onde sentiu-se encurralada. Ofegante e destemida, ela usou então um recurso extremo pelo poder que havia recebido dos Deuses. Metamorfoseou-se em um pequeno pássaro codorniz. Sem a intenção de voar, ela deu uma última olhada para Zeus (Júpiter) que se aproximava e lançou-se imediatamente ao mar.
            Sobre o mar azul ela foi perdendo os olhos, penas e o corpo de ave para metamorfosear-se ao longe numa mancha escura, tornando uma Ilha estéril, sem flores e sem frutos. Passou a chamar-se de Ilha Ortígia, ou Ilha das codornas, seus únicos habitantes. Mal sabia ela que um dia receberia em sua terra seca os Deuses Febo Apolo e sua irmã Artemisa (Diana), quando seu nome seria trocado por Ilha de Delos. Depois disso, acumularia riquezas e glórias.
            Uma outra paixão fulminante também atingiu Zeus (Júpiter) como um raio fulminante, impetuoso feito suas próprias tempestades. Pouco importava para ele as reclamações de sua ciumenta e irascível esposa Hera (Juno). De nada adiantavam os frágeis obstáculos erguidos por pais protetores e maridos zelosos. A vontade do Poderoso não conhece barreiras em seu caminho.
            Ele encontrou dessa vez a jovem Princesa Ninfa Egina, filha do Rio Asopo. Desejava-a sem a intenção de possuí-la à força, preferiu cativá-la com calor e afeto.
            Zeus (Júpiter) tentou seduzi-la com doces palavras, mas a Ninfa demonstrou medo e começou a gritar por socorro. Não encontrando outro modo de conseguir seu intento, Zeus procurou um novo disfarce com o objetivo de conquistar a teimosa donzela.
            Zeus (Júpiter) já havia utilizado várias metamorfoses em suas seduções amorosas. Touro, camponês, sátiro, cisne, água e forasteiro. Precisava inventar uma nova forma. Dia a dia ele vigiava os passos leves da Ninfa Egina, pensando em sua nova metamorfose. Finalmente ele decidiu transformar-se numa labareda de fogo, descendo nessa forma para as margens do Rio Asopo raptando subitamente a Ninfa.
            Em seguida, ele levou-a para a Ilha de Enone ou Enópia e nas desertas areias de suas praias, sob o acalanto do murmúrio do mar, ele amou-a impetuosamente. Esboçando com dificuldade algum protesto, seu pai o Rio Asopo, tomado de desespero, mudou o curso de suas águas, atravessando o mar azul em direção à distante Ilha com o objetivo de resgatar sua filha.
            Já estava a ponto de alcançá-la quando o irritado Zeus (Júpiter) incomodado com a intromissão, fulminou o velho com seus raios, obrigando-o a retornar ao seu leito de cascalhos.
            Asopo, vencido e solitário, ficou a tramar sua vingança não contra Zeus (Júpiter), pois era consciente que não poderia vencê-lo, mas contra sua própria filha com o objetivo de atingir indiretamente o próprio Zeus (Júpiter).
            Zeus (Júpiter) em sua onisciência, sabia de seus planos e para salvar a Ninfa Egina transformou-a numa Ilha batizada com o nome de Egina.
            As idéias opostas de elevação e degradação sobre Zeus (Júpiter), foram sempre uma constante na vida do Deus.
            O fato é que sua suprema autoridade foi sempre reconhecida por todos os habitantes da Terra e do Céu. Mesmo assim, Hera (Juno) vivia lhe contrariando. Ela teve até a ousadia de levantar uma conspiração dos Deuses contra Zeus (Júpiter), porém graças à Deusa Tetis e ao Gigante Briareu, a conspiração foi sufocada levando o Olimpo ao retorno da eterna obediência.
            Até hoje, entre todas as divindades, é Zeus (Júpiter) quem ocupa o primeiro lugar e seu culto sempre foi o mais solene e conhecido. Seus mais famosos oráculos além de Dodona eram a Líbia e o Trofônio. Dos animais sacrificados a ele os mais comuns são a cabra, a ovelha e o touro branco com chifres dourados. Jamais lhe sacrificam vítimas humanas e na maioria das vezes os seus devotos lhe oferecem farinha, sal e incenso. Sua ave favorita é a águia que paira no céu donde desce como um raio sobre a presa. Seu dia da semana consagrado é quinta-feira.

Exercício para casa:
20) Quem foi a ama de leite de Zeus (Júpiter)?
21) Quem era a esposa de Zeus (Júpiter)?
22) Qual é a ave favorita de Zeus (Júpiter)?

3.4 – Posídon (Netuno):
Netuno para os romanos, filho do Deus Titã Crono (Saturno) e da Deusa Titânia Réia, irmão de Zeus (Júpiter) e Senhor dos mares. Ocupa a segunda posição na hierarquia do Olimpo.
Ao nascer, sua mãe o escondeu do pai numa caverna da Arcádia para que seu pai não o devorasse. Fez Crono (Saturno) acreditar que ela dera a luz a um potro que imediatamente foi-lhe entregue para ser devorado.
Quando terminou a luta dos Deuses olimpianos contra os Deuses Titãs, sendo o Monte Olimpo finalmente conquistado é que o Deus Posídon (Netuno) recebeu a regência dos oceanos, mares, rios, ilhas e a costa litorânea dos continentes.
Posídon (Netuno) também teve vários atritos com alguns Deuses. Brigou com Palas Atena (Minerva) pela posse da Ática, com Hera (Juno) por causa de Micenas e com Hélio por causa de Corinto. Chegou a ser expulso uma vez do Olimpo junto com Febo Apolo por ter conspirado contra Zeus (Júpiter).
            Com seu poderoso tridente, presente dos seus filhos Ciclopes, ele tem o poder de controlar a força das marés, dominar as águas, agitando e acalmando as ondas do mar, provocando tempestades e fazendo brotar água das nascentes. Se há borrascas ou naufrágios injustos, ele aparece e serenamente faz voltar à calmaria, pois toda tempestade e bonança em alto mar estão sob o seu comando.
            Em geral anda sempre nu, apresenta uma longa barba muito bem cuidada e adora passear sobre as ondas do mar em seu carro de ouro em forma de concha puxado por quatro cavalos marinhos gigantescos. À sua Direita o Deus é sempre acompanhado por um golfinho. Sob seu pé direito, uma enorme embarcação toda de ouro lhe serve de suporte. Interessante notar que as ondas do mar sempre se acalmam, por onde ele passa com uma paz maravilhosa que permite o rolar suave das rodas de seu carro de ouro.
            Seus maiores devotos eram os antigos gregos da costa do Mar Egeu, até porque eles viviam do trabalho marítimo.
            Sua esposa é a Nereida Anfitrite, neta do Titã Oceano, filha de Dóris e Nereu. Contam que ela não queria casar com o Deus Posídon (Netuno) e sempre se escondia para fugir de suas investidas amorosas. O Deus então enviou seu golfinho de confiança para que a encontrasse. Finalmente ela foi encontrada ao sopé do Monte Atlas, momento em que ele persuadiu-a que aceitasse seu pedido de casamento.
            Depois de muita conversa, a Nereida Anfitrite acabou aceitando o pedido e casou-se com Posídon (Netuno). Como recompensa seu marido colocou-a entre os astros do céu. De sua união nasceram vários filhos, tais como o Deus Tritão, morador terrível das profundezas do mar, as Ninfas marinhas e os gigantes Ciclopes.
            A esposa de Posídon (Netuno) também gosta de passear sobre o mar em um carro em forma de concha puxado por golfinhos ou cavalos marinhos. Seus filhos Tritões e Nereidas formam-lhe um enorme cortejo durante seus passeios.
Posídon (Netuno) teve inúmeras amantes e, muitas vezes, para obter das amantes o que desejava, ele se metamorfoseava em algum animal. A filha de Êolo foi seduzida por ele na forma de um touro, para Ifiomédia ele apresentou-se sob a forma de um Rio chamado Enipeu, tendo com ela dois filhos, Ifialto e Oto. Sob a forma de um carneiro ele seduziu Bisaltis, seduziu Ceres sob a forma de um cavalo, Medusa foi seduzida por ele na forma de um grande pássaro e por fim, seduziu Melanto sob a forma de um golfinho.
Seu esplendoroso palácio fica na parte mais profunda do mar, sendo que a maior parte do tempo ele vive no Olimpo. De seu palácio Posídon (Netuno) governa seu Império com uma calma impertubável e lá do fundo do mar sabe tudo o que acontece na superfície.
Por causa de seu poderoso tridente, ele é chamado de “Agitador da Terra”, pois agita as águas destruindo tudo o que julgue necessário. Aos homens ele impõe mais medo do que simpatia e amor, apesar de tê-los presenteado com o primeiro cavalo terrestre. O fato é que dezenas de Templos foram erguidos em sua homenagem em vários lugares da Grécia e de Roma. Seus animais consagrados são: o touro, o cavalo e o golfinho aos quais seu nome está sempre associado.

Exercício para casa:
23) O Deus Posídon (Netuno) recebeu de Zeus (Júpiter) qual a regência?
24) Qual a arma principal de Posídon (Netuno) para controlar a força do mar?
25) Do casamento de Posídon (Netuno) e a Nereida Anfitrite quais foram os filhos que eles geraram?
26) Qual o maior presente que Posídon (Netuno) deu ao homem?

3.5 – Hades (Plutão):
            Hades em grego significa “invisível”. Os antigos romanos o chamavam de Trophonios, Plutão ou Pluto. Filho de Crono (Saturno) e Réia, irmão de Zeus (Júpiter), ele ocupa a terceira posição hierárquica do Olimpo.
            Recebeu de Zeus (Júpiter) o governo do mundo subterrâneo e todo o domínio do reino dos mortos, também denominado Inferno. É o Deus da riqueza e dos metais preciosos guardados no interior da Terra.
            Na cabeça Hades (Plutão) sustenta um elmo mágico (capacete) de ouro que recebeu de presente dos Ciclopes durante a guerra contra os Titãns e que lhe dá a propriedade de tornar-se invisível. Da mesma forma que seu mundo também é impossível de ser visto pelos olhos dos vivos, mesmo que estes entrem nas cavernas nada conseguirão ver do que o interior da terra simplesmente. Em momentos solenes o Deus Hades (Plutão) usa coroas de ébano, avenca ou narciso sobre sua cabeça e uma túnica vermelha sob um pesado manto vermelho, tudo em sinal de de realeza. Fisicamente tem uma longa barba branca e desalinhada, cabeleira farta e desordenada, aparência feia e fisionomia muito dura com rosto e semblante franzido.
            Quando está sentado em seu trono feito de ébano e enxofre, tem quase sempre a companhia do Cão Cérbero ao lado do mesmo. Em sua mão direita traz um cetro negro na forma de uma lança com uma forquilha na outra extremidade. Em sua mão esquerda traz as chaves da porta da vida que fica eternamente fechada para os mortos não possam fugir.
            Seu palácio fica situado num lugar muito profundo dessa vasta região. Trata-se de uma habitação sombria e sinistra com numerosos portões e um vasto número de moradores. Ao redor do mesmo existe apenas um deserto muito frio e ornado com campos de asfódelo (estranhas flores fantasmagóricas e desbotadas).
            Seus súditos, os mortos, são tão numerosos quanto às estrelas do céu. São seus companheiros que juntos com as criaturas infernais, mantêm a ordem em seu Reino sombrio. Não se pode esquecer que tudo o que a morte ceifa vai para interior da terra levando tudo para o seu Reino e para o seu poder. É fato que em seu Reino nunca houve qualquer tentativa de insubordinação ou rebelião de seus súditos. Nunca um de seus ministros infringiu alguma ordem sua. Ele é, portanto o único dos Deuses que nunca teve que temer um motim ou qualquer ameaça à sua autoridade universalmente reconhecida.
            Este fato não o isenta do ódio e do temor. Na superfície da Terra quase nenhum Templo ou altar foi erguido para ele. Sabe-se apenas que ele era muito venerado nas antigas cidades de Nisa, Opunto, Trezene e Pilos. Entre os Eleanos existiu um grande santuário que só era aberto uma vez por ano e só os sacerdotes responsáveis pelos sacrifícios podiam entrar. Em Eumênides, sob as ordens de Epimênida, uma estátua com expressão e atitude muito agradáveis, bem diferente do próprio Deus Hades (Plutão) foi colocada em seu Templo. Sabe-se também que Hades (Plutão) partilhava as honras num Templo com Febo Apolo na Itália, mais precisamente em Itá no Monte Sócrates. Seus habitantes veneravam o calor Sol e do Subterrâneo. Em Lácio e Crotone, seus habitantes consagraram a ele o número dois. Isso influenciou os romanos que acabaram consagrando o segundo dia do segundo mês do ano como o momento mais especial e aproprido para render-lhe homenagem com ofertas e sacrifícios. Neste dia, era comum que seus sacerdotes enfeitassem as vestes de sua imagem com coroas de ciprestes, sua árvore consagrada. Isso se deve à aparência melancólica e dolorosa de uma árvore com folhagem tão sombria. Sabe-se também que nunca compuseram um hino sequer de louvor a Hades (Plutão).
            Os antigos gregos só celebravam para ele um único ritual, o das cerimônias fúnebres e particulares. Única vez também que lhe sacrificavam um animal. O sacerdote amarrava o corpo de um carneiro ou cabra de cor preta para depois vedar-lhe os olhos com uma fita também de cor preta. A seguir ia para um ambiente totalmente escuro onde primeiramente queimava incenso à sua fronte, no caso da cabra, entre seus chifres. Mantendo sempre a cabeça do animal voltada para a terra, o sacerdote empunhava uma faca de cabo redondo e punho de ébano onde depois de diversas preces abria o ventre do animal. Depois de morto, o animal era esquartejado para ser oferecido ao Deus. As coxas do animal eram particularmente consagradas ao Deus Hades (Plutão).
            É muito raro que Hades (Plutão) abandone seu Reino de escuridão para visitar o Olimpo ou mesmo a superfície da Terra, pois o mesmo não sente necessidade. Também é muito raro que o Deus dos mortos interfira em assuntos humanos ou olímpicos. Sua visita na verdade não é muito agradável devido a sua personalidade desapiedada e implacável. Porém, é um Deus justo, terrível, mas não maléfico. Quando por acaso vai visitar a superfície da Terra ou o próprio Olimpo, viaja numa carruagem puxada por quatro cavalos negros e fogosos.
            Quando o invocam, ele age no sentido de auxiliar para que se cumpram as vinganças e que as maldições sejam eficazes. Embora sua especialidade seja principalmente a morte e a destruição, ele também faz o bem e a justiça. Hades (Plutão) é quem propicia o desenvolvimento das sementes, enterradas nos limites de seus domínios favorecendo a produção rural. Este dom inclusive lhe rendeu o nome romano de “Plutão” (aquele que dá a abundância). Na cidade de Libadéia na Beócia, ele recebeu o nome de “Trophonios” (o que torna a terra mais fértil).
            Em Atenas e Ermião, Hades (Plutão) era invocado com o nome “Klymenos” (O Ilustre), nas Ilhas Cíclades, era “Eubuleus” (O que dá bons conselhos), “Polydektes” ou “Polydégmon” (O que acolhe muitos hóspedes – os mortos); “Agesilaos” (O que reúne os povos) e “Isodaítes” (Aquele que dá a cada um o que lhe pertence)”. Após o rapto de Perséfone (Prosérpina), passou também a ser chamado de “Klytópolos” (de célebres cavalos) e “Chrysénios” (das rédeas de ouro).
            Sob qualquer desses nomes, quando os antigos devotos queriam invocá-lo batiam no solo com as mãos ou com varas. As orações de invocação também podiam ser feitas diante de uma imagem esculpida geralmente em mármore. Se ele não atendesse a esse apelo simples, faziam-lhe sacrifícios, oferecendo-lhe carneiros ou cabras negras.
            Hades (Plutão) ficou entre os oitos Deuses que os romanos podiam representar em ouro, prata e marfim. Em Roma, os sacerdotes sacrificadores, consagrados à Hades (Plutão), também imolavam-lhe animais pretos como na Grécia, sempre em número par, diferentemente dos outros Deuses que era sempre em número ímpar. Suas vítimas eram totalmente carbonizadas e nenhuma parte delas podia ser reservada para o povo ou para o próprio sacerdote. Nesta época era comum antes de imolar-se o animal, cavar-se um buraco para receber o sangue que era o vinho das libações derramado. Todos os sacerdotes ficavam com a cabeça coberta durante o ritual e em absoluto silêncio devido ao medo e respeito por esse Deus.
            Em momentos de guerra, era costume ofertar e consagrar um inimigo capturado à Hades (Plutão) como uma vitima em potencial. Depois desse ato religioso, qualquer cidadão que o encontrasse pelas ruas, poderia matá-lo impunemente.
            Como Deus da agricultura, Hades (Plutão) geralmente se apresenta com traços mais suaves e empunhando a cornucópia, símbolo da abundância. Seu culto costumava ser associado ao da Deusa Deméter, a Deusa da Agricultura. Época em que se celebravam os Mistérios de Elêusis, ritos comemorativos da fertilidade, das colheitas e das estações. Nestes rituais, o Deus apresentava-se com sua imagem mais benéfica e suave.
            A sua aparência feia, sua fisionomia muito dura e seu Reino de aparência muito triste dificultaram que ele encontrasse uma esposa. Nenhuma Deusa quis associar-se à sua coroa. Ele então raptou Perséfone ou Prosérpina fazendo-lhe esposa e Rainha do Inferno.
            Para manter o Tribunal de Hades (Plutão) sempre atuante e seu Reino sempre povoado, ele conta principalmente com o seu auxiliar, o Deus Tánatos (Orcus ou Morte) que é o irmão do Deus Sono. Os romanos achavam que era uma Deusa chamada Mors (Filha da Noite). Tánatos anda pela superfície da Terra trajando uma túnica toda preta com capuz e uma foice na mão. Em suas costas surgem negras asas que lhe auxiliam quando o deslocamento se torna mais urgente e apressado. A atuação do Deus Tánatos está subordinada à vontade do Deus Destino, superior em força até mesmo aos Deuses, pois ele é quem decide o momento fatídico. Tánatos então envia as Moiras para anunciar a morte à sua vítima que fica perplexa. Em seguida vêem as Queres que cercam a vítima, apavoram-na, debilitam-lhe o corpo e o espírito sangrando-a com as garras, bebendo seu sangue até o seu fim. Na hora fatídica, Tánatos dá o golpe final com sua foice mortal e as Queres o arrastam até o Érebo para iniciar sua jornada para o Reino de Hades. O caminho para seu reino passa pela orla marinha mundial através do Deus Oceano ou pelas galerias subterrâneas de lagos profundos.
            Porém, quando o mortal marcado para morrer é um perjuro ou cometeu crimes ediondos ou contra pessoas de sua própria família, Tánatos envia no lugar das Queres, as Erínias (Fúrias), filhas de Gais, fecundada pelo sangue de Urano (Céu Estrelado).
Enfim, depois do falecimento, a alma do morto dirige-se ao fundo da Terra passando pelo Érebo. Lá chegando, depara-se com a barca do Caronte, um velho barqueiro que transporta as almas para a outra margem pelo rio Aqueronte ou rio da angústia que entronca com o rio Cocito ou rio das lamentações. O Érebo é uma vasta planície subterrânea, onde os mortos que não puderam embarcar vagueiam por toda a eternidade como sombras sem inteligência, sem sentimento. Caronte não rema, ele apenas orienta as almas para remar indicando o ritmo e a direção. Três outros rios, além do Aqueronte e do Cocito, separam a superfície da Terra do Reino de Hades (Plutão). O Rio Flegetonte ou Rio de fogo, o Rio Estige ou Rio do juramento inquebrantável, invocado pelos Deuses e o Rio Letes ou Rio do esquecimento.
            Caronte só aceita em sua embarcação as almas daqueles em cujos lábios tiver sido colocada uma moeda (óbolo) equivalente ao valor da passagem e cujo corpo tiver sido devidamente enterrado. Essa moeda deve ser posta sob a língua do falecido pelos seus parentes antes do sepultamento. Sem a moeda e sem o sepultamento, a alma não poderá entrar na barca e ficará chorando eternamente à margem do rio Aqueronte ou vagando pelo Érebo.
            A viagem é tristonha, sombria, lúgubre e silenciosa. A paisagem é escura e sem vida. Sobre as margens do rio, salgueiros debruçam-se tristemente parecendo chorar a própria solidão. Pelas águas do rio, Caronte comanda o ritmo indicando a direção enquanto as almas remam o barco.
            Na outra margem, as almas atravessam o bosque de Perséfone que é todo coberto de lodo. No fim elas se deparam com as duras portas adamantinas (feitas de puro diamante) do Tártaro, a morada definitiva dos mortos. Junto ao portal, encontra-se Cérbero, um cão de três cabeças e cauda de dragão. Filho do monstro Tifão e de Equidna, ele permite a entrada de todas as almas, mas não permite a saída de nenhuma. Cérbero é extremamente obediente às divindades infernais e em raras ocasiões, porém, ele abrandou sua vigilância, como quando Psique amansou-o com a oferta de bolos de farinha e mel, ou quando Hermes (Mercúrio) lhe domou com o *caduceu ou quado Orfeu venceu-o ao som da lira ou quando Hércules conseguiu arrastá-lo à força até a superfície terrestre.
* Caduceu – vara com duas serpentes enroscadas de modo a formar um arco e superada com asas na extremidade.
            Antes de entrar no Reino de Hades (Plutão), as almas são julgadas pelos juízes Minos, Éaco e Radamanto. Essas taciturnas figuras castigam ou recompensam as almas. Terminado o julgamento as portas se abrem e dois caminhos se despontam: um levando as almas dos maus para o Tártaro a fim de serem castigadas pelo suplício eterno e o outro que levará as almas dos bons aos Campos Elísios para receberem o eterno prêmio dos justos.
            Depois do julgamento surge o Deus Hades (Plutão), juiz supremo, Senhor das sombras e dos mortos. O vermelho de suas vestes destaca-se no fundo das trevas. Sem manifestar emoções, rosto pálido, sombrio e indiferente, o Deus profere a sentença do réu.
            No início da formação do Reino do Deus Hades (Plutão), o Inferno não tinha prêmios nem castigos, os mortos apenas perambulavam pelo mesmo em total estado de apatia. A premiação e o castigo foram criados ante a necessidade de manter a ordem, a moral e a ética entre os Deuses, semi-deuses e humanos.
            Campos Elísios é um lugar de temperatura amena, brisas suaves e felicidade eterna. É a recompensa dos justos. Lá vivem os heróis e todos os favoritos do Olimpo que levaram uma vida de justiça e respeito às ordens divinas. Alguns mortos recebem o privilégio de continuarem a exercer nos Campos Elísios as mesmas atividades que realizavam sobre a terra. Foi assim que Orião continuou caçando após a morte e que Hércules continuou lutando contra os monstros, visitando o Olimpo e a Terra. Esses privilegiados são raríssimas exceções.
            Já o Tártaro é um lugar lúgubre habitado pelos mortos e pelas sombras. Ao redor do Tártaro há uma enorme muralha às margens de um rio de chamas cujo nome é Flegetonte. É a parte mais profunda do seu reino e é onde ficam aprisionados os filhos maus da Terra. Nada nele é autêntico. Lá estão vários fantasmas, entre eles os Gigantes que guerrearam contra Zeus (Júpiter), as Danaides que mataram seus maridos, Sísifo que enganou a Morte e Tântalo que cometeu sacrilégio. Todos vivendo um eterno e infindável pesadelo. As almas vivem imersas nas trevas e cabisbaixas percorrem o reino em total e eterno desalento. Os castigos e tormentos são infindáveis e exaustivos. Na verdade é o local para expiar os próprios pecados e pagar por suas culpas.
            Apesar do Reino de Hades (Plutão) ser invisível aos olhos dos vivos, Ulisses em sua odiséia conseguiu comunicar-se com os mortos no país dos cimérios em uma Ilha do ocidente onde a noite é sempre eterna. Lá ele abriu uma profunda vala onde banhou com o sangue de um cordeiro e de uma ovelha negra de modo que o sangue fluísse até as profundezas da terra para alimentar os mortos dando-lhes força. Esse costume era muito comum na antiga Grécia. Nos cemitérios era comum jogar-se farinha com mel sobre os túmulos, assim como era costume sacrificar-se um animal para ofertar seu sangue aos mortos no próprio cemitério.
            Sísifo o Rei de Corinto, por exemplo, foi condenado ao suplício do Tártaro por ter denunciado Zeus que raptara a Ninfa Egina filha do Rio Asopo. Sísifo ao ser visitado pelo Deus Tánatos (Morte), enganou-o e ainda o aprisionou em seu calabouço. No mundo ninguém mais morreu nesta época. Hades (Plutão), triste e alarmado, pois não chegavam mais almas para seu reino procurou Zeus (Júpiter) para ajudá-lo a restabelecer a ordem em seu reino. Zeus (Júpiter) pela sua onisciência sabia onde encontrar Tánatos e obrigou Sísifo a soltá-lo. Antes, porém, de morrer, ele pediu à Tánatos que deixasse que ele se despedisse de sua esposa. Ele então pediu astutamente que ela não o enterrasse. Já no reino de Hades (Plutão), Sísifo ficou lamentando por não ter tido um funeral e pediu insistentemente ao Deus Hades (Plutão) que o deixasse ir à Terra para castigar sua esposa pela tamanha negligência. Compadecido, Hades (Plutão) permitiu que ele retornasse ao mundo dos vivos por um breve período. Mal deixou o Inferno, o esperto Sísifo tomou rumos desconhecidos e desapareceu com a intenção de nunca mais rever as sombras infernais. Passados os anos e já sem forças físicas para continuar vivendo devido à velhice, ele acabou voltando ao mundo subterrãneo. Como castigo, Hades (Plutão) condenou-o ao Tártaro onde devia rolar uma pedra montanha acima até o cume de modo que a mesma sempre lhe escape da mão e role novamente até a base para ele reiniciar eternamente o mesmo trabalho sem fim e objetivo.
            Outro condenado por Hades (Plutão) ao suplício do Tártaro foi o Rei da Frigia Tântalo. Certa vez quando ele estava ainda vivo e governando, resolveu aprontar uma brincadeira de mau gosto com seus amigos os Deuses do Olimpo. Todos foram convidados para um grande banquete em seu Palácio. Os imortais compareceram unânimes sem imaginar as más intenções do anfitrião, apesar dos inúmeros erros que cometera como certa vez quando revelou aos seus amigos mortais conversas que eram de exclusivo interesse dos Deuses. Em outra ocasião, ele roubou néctar e ambrosia dos Deuses para deliciar suas concubinas. Pediu também a Hermes (Mercúrio) o Cão de Zeus (Júpiter) emprestado e não se importou em devolver. Enfim, parecia que esse irreverente e abastado senhor de terras estava querendo brincar com os Deuses.
            Chegada a hora de servir o banquete, todos sentaram-se ao redor de uma enorme mesa e observavam as perfumadas e fumegantes travessas de iguarias que desfilavam pelo salão em todas as direções. Criados elegantemente uniformizados colocavam nos pratos dos divinos comensais enormes porções de carne rosada. Ainda não haviam percebido que se tornariam cúmplices de um duplo crime.
            Um clima de suspeita foi sentido por todos os Deuses no ar, pois o olhar de Tântalo trazia intenções malvadas. Os imortais contemplaram o prato sem se moverem. Apenas Ceres nada percebeu e com um gesto delicado, serviu-se de sua parte. Mas, ao provar o alimento, percebeu tratar-se de carne humana, mais especificamente: uma espádua (omoplata com as partes moles que a revestem). Imediatamente ele denunciou a descoberta e os Deuses ergueram-se indignados. Foi a última brincadeira do Rei da Frigia. Brincadeira trágica demais, pois ainda por cima o corpo servido no banquete pertencia ao próprio filho do anfitrião.
            Era um crime para a fúria implacável das Erínias, além de ser um desafio à paciência e à sabedoria dos imortais olímpicos. Homicídio e sacrilégio. A punição imediata foi o Tártaro e seu castigo infernal foi viver num imenso lago com água até os joelhos sofrendo de sede eterna sem poder saciar com a água que fugia-lhe da boca, recusando-se a umedecer-lhe a garganta. Ao seu lado, árvores cobertas de frutas não podiam saciar-lhe a eterna fome, pois seus galhos escapavam-lhe das mãos sempre que ele tentava pegar. Para sempre Tântalo sonha com assados e néctares dispostos sobre uma grande mesa preparada exclusivamente para ele.
            Outro condenado foi o Rei Ixião governante dos Lápitas que casou com a princesa Dia filha do Rei Deioneu, não apresentou os dotes prometidos para as núpcias e ainda matou o sogro quando este veio reclamar. Perdoado por Zeus (Júpiter), o atrevido Ixião ainda ousou desejar a esposa de seu protetor a Deusa Hera (Juno). Como castigo Ixião foi condenado à viver a eternidade no Tártaro, preso a uma roda de fogo, a queimar, sem nunca ser consumido e assim como nunca poderia destruir seu doloroso passado.
            As cinqüenta princesas Danaides, filhas do Rei Dânao também foram condenadas aos suplícios do Tártaro. Tudo começou quando elas e seu pai furigam da Líbia para Argos temendo as perseguições dos cinqüenta filhos de seu irmão Egito.
            Em Argos, Dânao travou um acirrado debate em praça pública com o Rei Gelanor, sendo aclamado o novo soberano pelo povo após vencer a contenda. A questão é que o povo tomou esta decisão levando em conta não apenas o brilho oratório do forasteiro, mas também um acontecimento que parecia um sinal dos Deuses.
            Um lobo solitário surgiu da floresta no momento do debate, matou um touro e atacou um rebanho. O povo de Argos entendeu que este lobo representaria o Rei Dânao.
            Poderoso e seguro, o Rei Dânao pai das cinqüenta moças mandou chamar os cinqüenta sobrinhos, filhos de seu irmão Egito. Eles chegaram dispostos a fazer as pazes, pois adiantaram-se em dizer que as velhas disputas estavam esquecidas. Para coroar a reconciliação, pediram a Dânao as filhas em casamento.
            Na véspera da noite de núpcias, o soberano de Argos reuniu as filhas e deu uma adaga para cada uma delas. As Danaides guardaram com cuidado as armas da vingança.
            Na manhã seguinte, todas as noivas, menos uma, haviam matado seus maridos logo após a consumação do matrimônio.
            Hipermnestra, que não assassinou seu esposo Linceu, foi aprisionada numa torre pelo pai. Suas irmãs deram aos corpos honras fúnebres em Argos, e enterraram as cabeças em Lerna.
            Um dia, o Rei compadeceu-se de todas as filhas, uma aprisionada na torre e as outras sem marido. Ele então libertou Hipermnestra, autorizou sua união com Linceu e abriu as portas aos pretendentes das quarenta e nove viúvas.
            É claro que não apareceu nenhum, pois toda Argos relembrava a terrível noite da chacina.
            Procurando apagar o passado, o soberano promoveu competições atléticas, declarando que os vencedores conquistariam o direito de esposar as Danaides, sem a responsabilidade de ofertar dotes ou arcar com qualquer outro dispêndio de moedas.
            E assim as quarenta e nove traidoras conseguiram novos maridos, todos atletas, e com eles procriaram os filhos de uma nova raça, a dos dânaos, que sucedeu à dos  pelasgos no domínio da antiga Grécia.
            Linceu, o sobrevivente, não esquecera, porém, a morte dos irmãos. E, como vingança, matou Dânao e as quarenta e nove Danaides.
            Quando as princesas de Argos chegaram aos Infernos, seu destino já estava marcado. No Tártaro, elas receberam o castigo eterno por seus impensados atos. Lá elas estão tentando preencher com sangue um tonel sem fundo, sabedoras de que jamais completarão a diabólica tarefa.
            Outro caso clássico de condenação ao Tártaro foi o de Alcmeão. Anos antes, o advinho Afiarau e seu cunhado Adrasto fizeram um trato que em caso de disputa entre ambos, a decisão final caberia à Erífila, mulher de Anfiarau e, portanto, irmã de Adrasto.
            Adrasto desejava marchar junto com ele contra Tebas. Anfiarau lhe avisou que a morte estava espreitando o seu caminho à Tebas. Mas a sede de glória era muito grande e nem Adrasto e nem seus companheiros queriam desistir da expedição. O problema é que eles precisavam do apoio do adivinho.
            Polinice, um dos comandantes da marcha planejada, resolveu então persuadir o adivinho subornando Erífila, ofertando-lhe um valioso presente, o colar da harmonia. Em troca, pediu-lhe que convencesse o esposo a partir com eles na marcha contra Tebas.
            Anfiarau, apesar de todos os seus pressentimentos, preparou-se para a luta inglória. Antes de partir, porém, chamou o filho, Alcmeão, e fê-lo jurar que vingaria sua morte.
            Os anos se passaram e Adrasto envelheceu, mas ainda desejando conquistar Tebas. Um oráculo revelou-lhe que ele poderia conseguir seu intento, mas somente se Alcmeão, filho de Anfiarau participasse de seu exército.
            Novamente uma recusa, pois Alcmeão seguindo os conselhos de seu pai Anfiarau, recusou-se a lutar. O filho de Polinice, lembrando-se de seu pai, subornou novamente Erífila presenteando-a com o vestido de harmonia. Ela então conseguiu convencer seu filho Alcmeão a partir para a guerra.
            Grandes festas celebraram a vitória, mas Alcmeão, ausente das alegrias, pensava apenas em vingança. À noite, ele penetrou nos aposentos de sua mãe Erifila adormecida e matou-a, a golpes de machado.
            As Erínias estremeceram de fúria nos Infernos. Ávidas por vingança, elas subiram a terra com suas tochas e suas serpentes, e puseram-se no encalço do matricida.
            Longo tempo Alcmeão percorreu a Grécia, em busca de purificação. Achou-a na Arcádia, através do Rei Fegeu, que o limpou do crime e lhe deu em casamento sua filha Arsínoe.
            Como presente de núpcias, Alcmeão entregou-lhe o colar e o vestido de Harmonia. As Erínias não aprovaram o gesto do Rei Fegeu e castigaram-lhe o reino com uma grande esterilidade. Apenas uma salvação restava: o Rio Alquelôo devia purificar Alcmeão. Mas Aquelôo tinha uma filha, Calírroe, e desejava um bom esposo para ela. O preço da purificação era o seu casamento e o dote, o colar e o vestido de Harmonia.
            Alcmeão concordou, porém esclareceu que precisava antes voltar à Arcádia, para desfazer seu primeiro matrimônio e recuperar os objetos que a recente noiva reclamava. Chegando lá, Alcmeão encontrou o rancor da esposa abandonada Arsínoe e a morte. Com suas culpas ele desceu ao Tártaro, onde atravessa a eternidade atormentado pelas forças infernais.
            Uma das exceções que aconteceram no reino de Hades (Plutão), foi o caso de Éaco Rei de Egina. Ele foi escolhido, após sua morte, para ser o juíz das almas no tribunal dos Infernos.
            Tudo começou quando na Arcádia, Pélope matou o Rei Estinfalo. Indignados com o crime, os Deuses do Olimpo amaldiçoaram o sangue inocente derramado sobre a terra e imediatamente os campos tornaram-se estéreis, as plantações secaram e as sementes murcharam sob o solo.
            Os camponeses árcades sabiam que só um mortal poderia livrá-los de tal calamidade e recorreram a Éaco, o único homem capaz de comover o coração de Zeus (Júpiter).
            Éaco era filho de Zeus (Júpiter) Rei do Olimpo e Egina, e considerado por todos os mortais, como o mais piedoso dos gregos. Para se ter uma idéia, numa época distante, em atendimento a suas súplicas, Zeus (Júpiter) criou um povo inteiro, apenas para dar-lhe companhia. Éaco vivia solitário na Ilha de Egina, onde nascera. Continuamente erguia preces ao seu Pai divino, para que lhe desse amigos e súditos. Compadecido, Zeus (Júpiter) transformou as formigas da Ilha em homens. Assim surgiram os mirmidões. Sob o justo reinado de Éaco, Egina prosperou, floresceu, criaram-se famílias, desenvolveu-se o gosto pelo esporte e formou-se como um país feliz e pacífico.
            Ante as queixas dos camponeses da Arcádia, o piedoso Éaco invocou o perdão de Zeus (Júpiter) pelo crime da morte do Rei Estinfalo, e viu, com alegria, reviverem os campos. Mas ao mesmo tempo que os árcades, com alegres festas, celebravam a ressurreição de suas colheitas, o harmonioso lar de Éaco preparava-se para viver uma tragédia.
            Telamão e Peleu, filhos do seu primeiro matrimônio, não se entediam bem com Foco, fruto dos amores mais recentes de seu pai com a Nereida Psâmate. A razão do desentendimento era a inveja, pois o jovem Foco destacava-se mais que os irmãos nos jogos atléticos, atraindo para si a admiração e o aplauso dos habitantes de Egina.
            Não suportando mais viver à sombra de seus sucessos, Telamão e Peleu resolveram matá-lo. Para realizarem seu plano fraticida, escolheram o momento de uma competição esportiva. Ao arremessar o pesado disco, Telamão dirigiu-o com toda a sua força para a cabeça de Foco, matando-o instantaneamente. Auxiliado por seu irmão Peleu, eles enterraram o cadáver num bosque.
            Pouco tempo depois o crime foi descoberto e as implacáveis Erínias sentaram-se nos muros da casa dos assassinos, para apontar com tochas acesas os novos condenados aos suplícios do Tártaro.
            O piedoso Éaco expulsou de seu reino Telamão e Peleu, apesar de serem ambos seus filhos, pois, tratava com igualdade todos os cidadãos de Egina. E foi por atitudes imparciais de justiça, que ele foi escolhido para julgar as almas no tribunal dos Infernos.

Exercício para casa:
27) Qual domínio Hades (Plutão) recebeu de Zeus (Júpiter) sobre a Terra.
28) Quais os outros dons divinos que Hades (Plutão) recebeu de Zeus (Júpiter)?
29) Quem é o companheiro de Hades (Plutão) quando está sentado em seu trono feito de ébano e enxofre?
30) Em seu reino, quem são os súditos do Deus Hades (Plutão)?
31) Quando era celebrado o culto religioso ao Deus Hades (Plutão) pelos antigos gregos?
32) Quando alguém morre e chega no Reino de Hades (Plutão) para onde vai o espírito do finado?

3.6 – Ares (Marte):
            Marte para os romanos, seus pais Zeus (Júpiter) e Hera (Juno) o detestam. Na verdade Zeus (Júpiter) é seu pai de criação, pois Hera (Juno) enciumada por Zeus (Júpiter) ter gerado Palas Atena (Minerva) sozinho de dentro de sua cabeça, foi aconselhar-se com a Deusa Flora para descobrir um jeito de também gerar sozinha um filho. Flora indicou-lhe uma flor que crescia nos campos de Olene em Acaia, cujo contato era suficiente para produzir esse maravilhoso efeito. Graças a essa flor, Hera (Juno) deu a luz a Ares (Marte). A criança nascida foi educada por Príapo que lhe ensinou a dançar e a fazer outros exercícios corporais necessários para guerrear.
            Ares (Marte) tem o rosto barbado, anda nu com um manto sobre seus ombros ou com roupas de guerra que consiste em armas, um capacete, uma lança, um escudo e uma armadura com a égide sobre seu peito com a cabeça de Medusa. Seu carro de batalha é puxado por cavalos fogosos. Seu sobrenome Gravidus significa, “aquele que marcha a passos largos”. Quando em seu trono, suas armas ficam depositadas ao lado sobre o chão, aos seus pés fica o amor que o espreita em vão, pois sempre está inquieto ou apenas descansando dos combates.
            Apesar de gostar do ócio, ele é o Deus da Guerra. É um guerreiro furioso, implacável, cheio de bravura, sanguinário e cruel. É a própria encarnação da maldição dos mortais. Contraditoriamente quando percebe que está perdendo uma batalha e que está ferido, logo se retrai com as dores e abandona covardemente a luta.
            Quando em campo de batalha está sempre rodeado por um numeroso grupo de companheiros sobre os quais exerce uma liderança como ninguém, inspirando confiança em todos. Seu grupo é composto entre tantos, por sua irmã Éris, a Deusa da Discórdia, sua filha a Deusa Combate que é a Deusa da Guerra ou Enio (Belona para os romanos) que caminha sempre a seu lado. Juntos, Ares (Marte) e seus companheiros semeiam o terror, os estremecimentos e o pânico. À medida que se movem, levanta-se atrás deles o som de grunhidos, enquanto sobre a terra escorrem rios de sangue.
            Ares (Marte) matou Alirótio filho de Posídon (Netuno) porque ele violentou sua filha Alcipe. Posídon (Netuno) desesperado e inconformado com a morte do filho citou Ares (Marte) em julgamento diante dos grandes Deuses. Os Olimpianos o obrigaram a defender sua causa e tão bem o fez, que foi absolvido. Esse julgamento aconteceu numa colina de Atenas chamada de *Arcópago, aonde veio posteriormente a se estabelecer o famoso tribunal ateniense.
            *Arcópago – colina de Ares (Marte).
Como se não bastasse, ele vingou, apesar da proibição de Zeus (Júpiter), a morte de seu filho matando Ascalafo que comandava os Beócios no cerco de Tróia. Zeus (Júpiter) teve um acesso de fúria, mas Palas Atena (Minerva) o acalmou com a promessa de sustentar os gregos. Zeus (Júpiter), porém, não deixou de instigar o herói Diomedes a combater Ares (Marte) ferindo-o no flanco com sua lança guiada por Palas Atena (Minerva). Ares (Marte) retirou a lança da ferida soltando um fortíssimo grito de aflição. Imediatamente ele retornou ao Olimpo em meio a um turbilhão de poeira. Zeus (Júpiter) então o repreendeu severamente, mas ordenou ao médico dos Deuses cujo nome é Peon, que curasse o seu filho. Peon então colocou sobre a ferida de Ares (Marte) um bálsamo que tem a propriedade de curar sem dor, até porque nada pode matar um Deus.
            Os antigos romanos eram-lhe mais afeiçoados do que os gregos. Para aqueles nunca foi uma divindade lamurienta como apresentado na Ilíada. Pelo contrário, aparece sempre magnífico na sua armadura de ouro brilhante, temível e invencível. Os guerreiros da grande epopéia latina Eneida não se alegravam quando compreendiam que estavam prestes a tombar no campo da fama de Marte. Rapidamente precipitavam-se para a morte gloriosa e tinham prazer de morrer em combate.
            Ares (Marte) Foi amante de Afrodite (Vênus) que traía seu esposo Hefesto (Vulcano), motivo que lhe rendeu desprezo de todos os Olimpianos. Foi assim, Ares (Marte) ficou de guarda vigiando os olhos perspicazes de Febo Apolo, seu rival junto da bela Deusa Afrodite (Vênus). Ele então colocou Alectrion, seu favorito para ficar de sentinela. Aconteceu que Alectrion adormeceu, momento em que Febo Apolo chegou e viu os dois no flagrante. Imediatamente ele procurou Hefesto (Vulcano) e contou-lhe tudo.
O marido ultrajado por sua vez, envolveu-se numa rede que tinha a propriedade de torná-lo invisível, chamou os Deuses do Olimpo como testemunhas do seu crime e da confusão que se sucedia.
Disseram outros que seu romance secreto com Afrodite (Vênus) foi descoberto por seu marido Hefesto (Vulcano) depois que o Deus Hélio (Sol) o advertiu. Sua indiscrição foi punida pela própria Deusa Afrodite (Vênus) e Hélio (Sol) nunca mais foi feliz no amor.
Quanto ao sentinela Alectrion, Ares (Marte) castigou-o transformando-o no primeiro galo que desde então procura reparar seu erro anunciando com seu canto a chegada do primeiro astro do dia, o Deus Hélio (Sol).
Hefesto (Vulcano), a pedido de Posídon (Netuno) e sob a responsabilidade deste, desfez os maravilhosos laços do cativeiro de Ares (Marte) que voou imediatamente para a Trácia e Afrodite (Vênus) que voou para Pafos, seu retiro preferido.
            Ares (Marte) teve muitas mulheres e muitos filhos. Com Afrodite (Vênus) teve quatro, Eros (Cupido), Deimos (Terror), Fobos (Receio) e uma filha chamada Hermione (Harmonia) que por sua vez casou-se com Cadmo. Com Réia teve Rômulo e Remo, fundadores de Roma. Com Tebe, mulher de Capaneu, um dos sete chefes tebanos, teve Evadune. Com Pisene teve o filho Cicno, que montando o cavalo Arion, combateu contra Hércules que o matou. Finalmente ele desposou Nereida. Sua irmã Belona também foi sua mulher. Ela é quem atrela e conduz o seu carro acompanhado de Deimos e Fobos. Belona é uma combatente guerreira que está sempre correndo de um lado para o outro, tem pouco cabelo na cabeça e fogo nos olhos, fazendo estalar nos ares o seu *látego ensangüentado.
            *látego – chicote de couro ou de corda.
            Na verdade Ares (Marte) se tornou mais um símbolo de guerra do que uma personalidade mais delineada como Hermes (Mercúrio), Hera (Juno) ou Febo Apolo. Por ser o Deus da guerra, ele também sempre anda acompanhado da Deusa Vitória que nem sempre é invencível.
            Não tinha cidades gregas que o venerassem, talvez por causa de sua origem na Trácia, pátria de um povo muito rude e feroz do nordeste da Grécia. Sabe-se de um Templo elevado em sua honra com umas duas ou três estátuas suas espalhadas, sendo uma delas em Esparta onde ficava amarrada na intenção de que Ares (Marte) não abandonasse seus exércitos durante uma batalha.
            Em Roma, porém, Ares (Marte) era especialmente venerado. Existia um Colégio de Padres escolhidos pelos *Patrícios. Esses Padres, também chamados de Sábios, eram os diretores da guarda de doze escudos sagrados (ancilos), dos quais se dizia que um deles teria caído do céu. Todos os anos, na festa do Deus Ares (Marte), os sábios trazendo os *broqueis, e vestidos com uma túnica de púrpura, percorriam a cidade dançando e pulando. Seu chefe marchava na frente, iniciava a dança e os outros imitavam-lhe os passos. Essa procissão solene terminava no templo do Deus por uma finíssima e suntuosa festa. Entre seus Templos em Roma, o mais célebre foi o Templo Marte Vingador construído pelo Imperador Augusto. Havia uma fonte venerada em Roma e a ele consagrada.
            *Patrícios – classe social mais alta da Antiga Roma.
*Broquel – Escudo antigo, redondo e pequeno. tuas suas espalhadas, sendo uma delas em Esparta onde ficava amarrada na intenç olhos, fazendo estalar nos ares o seu lm Cadmo.
            A ele eram então oferecidos vítimas como o touro, o *varrão, o carneiro e mais raramente o cavalo. O galo, o abutre e o cão são animais a ele consagrados. Era comum que as senhoras romanas lhe sacrificassem um galo no primeiro dia do mês de março, sendo este o primeiro mês do ano romano até o tempo do Imperador Júlio César. Muito comum o Deus Ares (Marte) ser representado por uma lança. Seu dia da semana consagrado é terça-feira. *Varrão – barrão, porco não castrado.

Exercício para casa:
33) Quem é Ares (Marte)?
34) Dentre seus guerreiros, quais são os seus principais companheiros de guerra?

3.7 – Hermes (Mercúrio):
            Mercúrio para os romanos, Hermes é filho de Zeus (Júpiter) e da Ninfa Maia, que por sua vez é filha do Titã Atlas, moradora do gelado cume do Monte Cilene na região da Arcádia. Ela não tem medo do frio e alegremente corre e dança, espargindo beleza em todas as direções, como um grande desafio à tristeza do inverno.
            Certa vez quando chegou o Inverno, os verdejantes bosques deram lugar a neve que cobriu tudo de branco, fazendo com que os animais habitantes do bosque corressem para outros lados para fugirem do frio, assim como o fizeram apressadamente os pastores em busca de um abrigo.
            Os olhos de Zeus (Júpiter) estavam voltados para este gelado cenário enquanto sua esposa Hera (Juno) estava dormindo. Ardendo em desejo, ele contemplava a bela Ninfa Maia. Aproveitando a distração da esposa, ele abandonou o Olimpo para passear até a Arcádia para encontrar-se com a Ninfa. Ele começou a falar de amor, paixão e desejo divertindo a jovem que sorriu maliciosamente correndo, brincando e dançando ao redor de sua majestosa figura. Os dois se entreolham contentes, aproximam-se e se entregaram.
            A neve continuou a cair suavemente como se não quisesse estragar esse momento de amor. Ao pé da montanha, os carneiros recomeçaram sua caminhada, orientados pelos gritos precisos dos pastores. Indiferentes a tudo, Zeus (Júpiter) e Maia, amaram-se com ardor. Depois, desceu a paz sobre eles e a Arcádia começou a aguardar o nascimento do Deus Hermes (Mercúrio).
            Meses depois, quando a noite caía devagar e silenciosa na Arcádia, a bela Ninfa Maia, cheia de contentamento e impregnada de amor e felicidade, deitou-se com seus belos cabelos sobre o leito e pacientemente esperou o feliz momento de abraçar seu filho que estava prestes a nascer.
            As dores devido às contrações iniciaram e aumentaram seu ritmo cada vez mais forte. Entre lágrimas, suor e contrações esforçadas, a bela Ninfa deixou escapar um longo gemido. Foram instantes que pareciam eternidade. De repente, como se toda uma vida acontecesse num único instante, Maia deu à luz ao fruto de seu amor com Zeus (Júpiter).
            Hermes (Mercúrio) nasceu num hiato da noite que surpreendeu os Deuses sonolentos. O rosto de Maia descontraiu-se num sorriso silencioso e sábio. Sem fazer qualquer ruído que pudesse incomodar a paz duramente conseguida, envolvendo nos braços o pequeno Deus e, ainda com o olhar distante, deu graças aos Deuses do Olimpo.
            O recém-nascido Hermes (Mercúrio) não chorou, apenas arriscou alguns vagidos (chorinho de recém-nascido), quando a mãe o recobriu com múltiplas tiras de pano. Em seguida, delicadamente depositou-o num berço improvisado onde o mesmo dormiu profundamente.
            Maia contemplou o filho ainda por alguns momentos indo logo depois à porta, quando percebeu o inevitável trabalho daquela noite. Retornou para dentro de casa com a sensação de ter cumprido a missão mais importante de sua vida. Exausta, deixou-se cair no leito adormecendo junto com toda Arcádia.
            Mal adormecera quando seu filho Hermes (Mercúrio), que não era apenas um frágil bebê, despertou abrindo os olhos. Dotado de extraordinária precocidade, ele permaneceu ainda deitado ao lado de sua mãe até se assegurar de que ela estivesse mergulhada em sono profundo.
            Neste momento, ele livrou-se das faixas que o envolviam e silenciosamente levantou-se do berço improvisado e pisando silenciosamente o chão, passou por sua mãe em direção a porta. Olhando a noite pela primeira vez, ele mirou o céu e as estrelas sem poder conter um risinho malicioso. Ele começou então, a arquitetar sua primeira travessura, pois sabia que ninguém iria desconfiar de um frágil recém-nascido.
            Em seguida ele iniciou hora andando, hora correndo por estradas poeirentas, superando agilmente todas as dificuldades, seu caminho em direção à Tessália, cidade de Feras, onde seu irmão Febo Apolo estava encarregado de pastorear os rebanhos do Rei Admeto. Sem deter-se sob nenhum pretexto e orientado pelo brilho da Lua e das Estrelas, ele chegou a um vasto campo, onde descansava o gado real. Sem fazer ruído para não despertar suspeitas, observou o local por algum tempo. Por sorte, Febo Apolo descuidara-se de suas funções e passeava longe dali com seu amado Himeneu. Isso facilitou a tarefa de Hermes (Mercúrio) que com passos curtos, mas exatos, aproximou-se do gado e separou cinqüenta cabeças. Novamente olhou para o céu e sorriu. E, ainda abrigado pela noite, reiniciou sua viagem de volta, conduzindo o produto de seu furto.
            Longe dali, perdida no tempo e no espaço, Maia dormia e sonhava profundamente como uma grata compensação por ter apaziguado as dores do parto. O coração tranqüilo e feliz não lhe deu aviso algum de que o filho andava tão distante de seus cuidados.
            Lá fora, apenas a discreta natureza assistia à ação do menino malicioso e travesso, que caminhava satisfeito com a artimanha. As vacas sem emitir mugidos e sem fazer qualquer ruído maior, seguiam-no como se estivessem sob um encantamento, enquanto o bebê as transportava sorridente ao seu destino.
            A cabecinha da criança começou então a formar pensamentos que tomavam forma e vigor e ele percebeu a necessidade de esconder sua travessura infantil.
            A primeira providência foi desfazer as pegadas dos animais roubados. Ocorreram-lhe, para isso, três idéias: fazer as vacas caminharem de costas, amarrar galhos em suas caudas ou calçar-lhes as patas. Depois achou necessário esconder suas próprias pegadas e com rapidez e inteligência, fez enormes sandálias utilizando ramos de mirto e tamarindo. Depois disso continuou seu caminho atravessando a Tessália e a Beócia até chegar a Pilo, perto do Rio Alfeu.
Pouco faltava para a realização de seu plano perfeito, quando surgiu o velho Bato, que vinha em sentido contrário e estranhou a cena que se apresentou aos seus olhos. Percebendo a curiosidade do homem e com receio de ser denunciado, Hermes (Mercúrio) resolveu suborná-lo oferecendo-lhe um bezerro em troca do silêncio.
            A presteza com que Bato aceitou a proposta suscitou a desconfiança do esperto Deus. Pareceu-lhe então mais seguro por à prova a honestidade do ancião. Assim, pediu-lhe que esperasse alguns instantes enquanto ele terminava de levar o gado a uma caverna próxima.
            Em seguida, Hermes (Mercúrio) assumiu o aspecto de um humilde pastor e voltou para junto de Bato simulando intenso desespero. Ele contou-lhe que estava à procura de seu gado roubado, e prometeu recompensá-lo se lhe fornecesse qualquer pista do ladrão.
            Sem reconhecer Hermes (Mercúrio), o velho imediatamente aceitou o novo suborno e denunciou o roubo. O Deus castigou-o, transformando-o numa rocha, retornando à caverna, onde separou duas das vacas mais gordas, dividiu-a em doze partes iguais e ofereceu-as em sacrifício aos Deuses. Rapidamente escondeu o resto do rebanho e iniciou a viagem de volta para Cilene.
            Chegando à porta de sua casa, avistou uma tartaruga. Ficou encantado com o pequeno animal e, pegando-o nas mãos, disse as seguintes palavras: “Que sorte inesperada! Nada falta a ela. Bela de ver, boa para fazer dançar, serve para alimento, tudo nela é amável. De onde me vem um brinquedo tão bonito? E esta carapaça pintada de todas as cores? Não és uma tartaruga? Não freqüentas a montanha? Mas eu vou levar-te para casa. É bom ficar em casa e deixar passar a noite. Tu me servirás sem demora, com honra, viva apesar da má sorte, e se morreres será apenas para cantar melhor”.
            Tendo assim falado, entrou em sua morada. Com um estilete feriu a tartaruga e esvaziou-lhe a carapaça, onde prendeu pedaços de cana de diferentes tamanhos. Depois distendeu três cordas feitas com os intestinos dos animais sacrificados. Assim ele criou um novo instrumento musical: a lira. Alguns autores dizem que foram sete cordas. A seguir, ele dirigiu-se ao berço e enfaixou-se da mesma maneira que sua mãe o havia feito e fingiu adormecer.
            A Aurora despertou a Tessália e Febo Apolo acordou assustado, despediu-se rapidamente de Himeneu e foi verificar o gado do Rei Admeto que estava sob sua guarda. Inúmeras vezes contou e recontou o rebanho quando percebeu que faltavam cinqüenta cabeças.
            Aflito e sentindo-se culpado por sua irresponsabilidade, saiu à procura das reses que faltavam. Sua única esperança era que durante a noite elas tivessem se extraviado. Mas as buscas foram infrutíferas e Febo Apolo nada encontrou.
            Usando seus poderes divinos, ele logo descobriu que Hermes (Mercúrio) havia lhe roubado. Furioso ele dirigiu-se para Cilene. A Ninfa Maia não pôde acreditar no que lhe dizia Febo Apolo. Enraivecida ela mandou o Deus segui-la até o local onde Hermes (Mercúrio) fingia dormir inocentemente.
            Febo Apolo chegou a pensar que estaria fazendo uma acusação injusta, mas não deixou de interrogar o pequeno Hermes (Mercúrio) sobre suas vacas roubadas.
            – “Filho de Leto!” – respondeu o menino.
 – “De que me vens atormentar, que idéia te ocorre de procurar aqui as vacas de tua pastagem, que eu nem vi nem conheci, nem sei delas? Como te diria quem as tomou, mesmo que me tocasse uma recompensa? Tenho eu o ar de um ladrão de bois, tenho ao menos força para o ser? Não, não é este meu caso, mas sim dormir e mamar de minha mãe, ser banhado com água quente e deitado nas faixas. Crê-me, que isso fique entre nós. Pois ninguém poderá imaginar que um recém-nascido tenha escapado da casa de sua mãe para roubar as vacas da pastagem. Não o farás crer a um só dos Deuses. Eu nasci ontem, meus pés são frágeis, a terra é dura. Se queres, pela cabeça de meu Pai Zeus (Júpiter), vou te fazer o grande juramento: não vi, tão certo como eu estar aqui, o ladrão de tuas vacas, nem de nada que se apareça. Foi de ti que recebi a notícia”.
            Desnorteado pelas palavras tão seguras de Hermes (Mercúrio), Febo Apolo foi procurar o auxílio de Zeus (Júpiter). Ele então relatou detalhadamente tudo o que se passara ao pai. O Senhor do Olimpo fez o máximo esforço para conter o riso que lhe provocavam as artimanhas do pequeno Hermes (Mercúrio).
            Finalmente, Zeus (Júpiter) resolveu intervir na questão e foi falar com o filho de Maia mandando-o devolver o gado roubado a Febo Apolo. Hermes (Mercúrio) ainda tentou negar a façanha, entretanto, seu experiente pai já havia descoberto toda a verdade. Hermes (Mercúrio) não teve outro recurso senão admitir tudo diante do poderoso Zeus (Júpiter). Mal o pai se retirou novamente para o Olimpo e o pequeno travesso novamente afirmou sua inocência diante de Febo Apolo.
            Hermes (Mercúrio) neste momento começou a fazer-lhe caretas, piscando os olhos e demonstrando visível cansaço e aborrecimento por toda a situação. Quando o pequeno Hermes (Mercúrio) se preparava novamente para negar o roubo, Febo Apolo interrompeu-o, rindo gostosamente: – “Astucioso malandro, bravo! Com tal linguagem eu te vejo na frente em malícia. Sim, este será teu talento, à noite, sem fazer barulho, forçar as portas das casas para esvaziá-las e deixar só as paredes ou, rondando por montes e vales, surpreender, flagelo dos pastos, os bois e os carneiros de que se fia a lã, quando tiveres desejo de comê-los. Levanta-te! Se não queres dormir aqui teu último sono. Vamos, companheiro da noite! Há uma recompensa que te espera entre os Deuses: o nome do rei dos ladrões, que será teu para sempre”.
            Silenciosamente, Hermes (Mercúrio) apanhou sua lira e começou a tocá-la, acompanhando a belíssima melodia com cantos de improviso em louvor aos pais e à vida.
            Febo Apolo ouviu a música e ficou encantado com o instrumento. Ocorreu-lhe então a idéia de trocar o gado roubado por aquele instrumento musical. Hermes (Mercúrio) refletiu sobre a proposta, mas não achou um bom negócio. Febo Apolo ofereceu também o caduceu, uma varinha mágica de estimação que guardava consigo desde criança. Com ela costumava comandar os rebanhos no Parnaso.
            Hermes (Mercúrio) não pensou muito e aceitou o negócio. E, assim, os dois se reconciliaram para sempre. Desse dia em diante, Hermes (Mercúrio) e Febo Apolo passaram a formar um par de irmãos sempre unidos e protegidos pelo grande Senhor do Olimpo. Há quem diga que ele deu a lira de presente a Febo Apolo para obter o seu perdão.
            A astúcia e a malícia de Hermes (Mercúrio) não o impediram, no entanto, de conquistar a simpatia dos imortais. Febo Apolo, Deus da luz e da verdade tornou-se seu maior amigo. Até Hera (Juno) mostrou-se amável e benevolente para com ele a ponto de amamentá-lo com seu próprio leite, distinguindo-o com uma atenção que jamais dedicara a qualquer filho bastardo de seu marido.
            Apesar de sua fama de Deus dos ladrões, ele age contra eles e para proteger os compradores e comerciantes de mercadores desonestos, inventou a balança.
            Seu gênio inquieto e conduta dolosa, porém, suscitaram-lhe várias questões com os outros Deuses a ponto do próprio Zeus (Júpiter) esquecendo todos os seus serviços prestados, expulsar-lhe certa vez do Céu como acontecera com Febo Apolo.
            Vários furtos caíram sobre a culpa de Hermes (Mercúrio), além dos rebanhos de Febo Apolo, roubou o tridente de Posídon (Netuno), as flechas de Febo Apolo, a espada de Ares (Marte) e o cinto de Afrodite (Vênus).
Hermes (Mercúrio) ficou adulto e tornou-se um Deus de movimentos graciosos e rápidos, usa sandálias aladas, um chapéu coroado com um par de asas chamado de petaso, que lhe ajudam a correr como o vento. Traz uma bolsa na mão esquerda e um *caduceu num bastão na mão direita junto com um ramo de oliveira. O caduceu e a oliveira são os símbolos da paz útil ao comércio e dá força necessária para o tráfico de mercadorias. Vive nu ou parcialmente coberto com um manto sobre os ombros. Geralmente, o Deus anda acompanhado por um cordeiro.
*caduceu – vara com duas serpentes enroscadas de modo a formar um arco e superada com asas na extremidade.
Por ser o Deus mais engenhoso e astuto de todos e por causa do seu dom de eloqüência, necessário aos bons comerciantes, Hermes (Mercúrio) também é chamado de “Logio” e foi designado como arauto dos Deuses, principalmente de Zeus (Júpiter), a quem ele serve com zelo infatigável e sem escrúpulos, mesmo quando se trata de empregos pouco honestos. Participa de todos os negócios de Zeus (Júpiter) como ministro e servidor voando à velocidade do pensamento para cumprir suas ordens. Atravessa o espaço com a rapidez de um raio e dificilmente alguém o vê parado, pois não lhe faltam tarefas a serem cumpridas. Com o caduceu, Hermes (Mercúrio) tem poderes de distribuir bênçãos e prosperidade, além de ser capaz de transformar em ouro tudo o que toca. Por causa disso, ele também é chamado de Krysorrais (munido da vara de ouro), propiciador de fortuna, doador de bens e dispensador de lucros.
É um hábil navegador, exímio atirador de arco, valente guerreiro, elegante e gracioso em todas as artes, negociante consumado, permutando sempre o agradável pelo útil. Tornou-se culpado pelo assassinato de Argos, o guarda de cem olhos para proteger um dos amores de Zeus (Júpiter), Io que se tornou mãe de seu filho Hércules.
            Os pastores da Arcádia invocavam Hermes (Mercúrio) como protetor das cabanas, dos rebanhos, dos cães, dos cavalos e mesmo dos animais selvagens, como o leão e o javali. Os Dólios o invocavam como protetor dos viajantes e das perigosas estradas em terras desconhecidas. Pois ele é o protetor das encruzilhadas e dos caminhos feitos pelos mercadores viajantes. Era comum esculpirem sua estátua no meio do cruzamento de estradas. Com o tempo os gregos passaram a invocá-lo também como Deus dos comerciantes e dos ladrões, em alusão ao furto cometido na infância.
            No mediterrâneo, era conhecido como Empolaios (que preside o comércio) e Agoraios (que dirige as tarefas da praça pública).
            Por causa de sua juventude, beleza, agilidade e virilidade, era também chamado de Agonios (que preside os *certames). Apesar de sua jovem aparência, o Deus também pode apresentar-se metamorfoseado em um velho barbudo.
            *Certames – ato público em que entidades competem ou concorrem para estabelecer uma graduação de valores.
Em Atenas, Arcádia, Acaia e Creta, suas homenagens eram feitas periodicamente com lutas entre jovens. É considerado o inventor do pugilato e das carreiras atléticas tornando-se o patrono dos esportistas.
            Por ter inventado a lira, é venerado pelos poetas e cantores, e honrado, juntamente com Febo Apolo, como protetor da música. Hermes (Mercúrio) inventou as ciências, principalmente a matemática e a astronomia.
            Ele é também o Deus da diplomacia e da conciliação. Em contrapartida, odeia a guerra e apesar dos lucros, é contra a fabricação de armas. Ele pune líderes que levam o povo à guerra e que provocam discórdia entre as nações.
            Ele é o Deus da retórica, isto é, do bem falar, também é o Deus dos viajantes, dos negociantes e dos ladrões. É o embaixador *plenipotenciário dos Deuses, assiste aos tratados de aliança, sanciona-os, retifica-os e cuida das declarações de guerra entre cidades e povos. Dia e noite não cessa de vigiar atento e sempre alerta. É o mais ocupado dos Deuses e dos homens. Guarda e vigia Hera (Juno) o tempo inteiro para impedir que a mesma crie qualquer intriga. Ele facilita a entrada agradabilíssima de Zeus (Júpiter) entre os mortais, transportou Castor e Polux a Palem, acompanhou o carro de Hades (Plutão) quando raptou Prosérpina. A Hermes (Mercúrio) foi confiada a delicada missão de conduzir diante do pastor Paris as Deusas Hera (Juno), Palas Atena (Minerva) e Afrodite (Vênus) quando disputaram o prêmio da beleza.
            *plenipotenciário – representante legal de todos os Deuses com todos os seus poderes.
            Por proteger os viajantes, ele também assumiu a função de guia das almas dos mortos até a região infernal com seu caduceu divino. Também reconduz de vez em quando os mortos a terra. O fato é que ninguém morre antes que Hermes (Mercúrio) rompa os laços que unem a alma ao corpo físico. Por isso também recebeu o nome de Psicopompo (condutor de almas), e comumente é venerado nas festas dos mortos e próximo às tumbas.
            Podemos dizer que Hermes (Mercúrio) é responsável pelo desenvolvimento do comércio e das artes. O inventor da lira foi o primeiro a criar uma língua exata e regular com a invenção dos primeiros caracteres da escrita e regulou a harmonia das frases. Instituiu as práticas religiosas, multiplicou e fortaleceu as relações sociais, ensinou aos homens a arte da luta e da dança, pois em geral todos os exercícios ao ar livre necessitam de força e graça e também ensinou o dever aos esposos e aos membros de uma família cuidando da paz e da guerra, dos amores e das brigas conjugais dos homens e dos Deuses, cuida do interior do Olimpo, dos interesses gerais da Terra, do Céu e do Hades. Ele é o fornecedor de ambrosia à mesa dos Deuses, preside aos jogos e às assembléias escutando os discursos dos Deuses e respondendo por si mesmo ou de acordo com as ordens recebidas de Zeus (Júpiter).
            Hermes (Mercúrio) teve vários amores e filhos. Com Afrodite (Vênus) teve o filho Hermafrodito, com Antianira teve os filhos Equíon e Éurito, com Quione teve Autólico, com Acacális, filha de Minos teve Cidão, com Herse teve Céfalo, com Driopéia teve Pã, mas a quem diga que Pã é filho dele com Penélope, com Carmenta teve Evandro, com Daíra teve Elêusis, com Polimela teve Eudoro, com a Ninfa Lara teve os Deuses Lares, com Faetusa teve Mírtilo, com Aglauro teve Cérix, com Eupolêmia, filha de Mirmidon teve muitos filhos, além de amar Herse, filha de Cécrops e Prosépina esposa de Hades.
            Os antigos gregos ofereciam em seu culto a língua das vítimas sacrificadas que eram o emblema de sua eloqüência. Também pelo mesmo motivo, era comum oferecer-lhe leite e mel. Imolavam-lhe vitelas e galos. Era especialmente venerado na Ilha de Creta, país extremamente comercial, e em Cilene, na Élida, local onde fica o monte Élida onde Hermes (Mercúrio) teria nascido. Ele tinha também um oráculo em Acaíe onde depois de muitas cerimônias, o devoto devia sussurrar seu pedido no ouvido da estátua do Deus e sair com as orelhas cobertas pelas mãos para só descobri-las do lado de fora do templo onde as primeiras palavras que ele ouvisse era com certeza a vontade do Deus.
Na Roma Antiga sua festa era celebrada todo dia quinze de maio, época em que lhe dedicavam um circo e lhe sacrificavam todos os anos nesta mesma data uma porca prenha seguido de um ritual de aspersão de uma água sagrada retirada de uma fonte especial repleta de virtude divina. Essa água era para proteger os comerciantes e para purificá-los de pequenas enganações que porventura tivessem cometido contra seus fregueses.
Seu dia da semana consagrado é quarta-feira, a oliveira é a sua planta consagrada e o cordeiro e o galo são animais consagrados.

Exercício para casa:
35) Por que o Deus Hermes (Mercúrio) é considerado o Rei dos Ladrões?
36) Apesar de sua fama como Rei dos Ladrões, por que ele é o protetor dos comerciantes?
37) Por que o Deus Hermes (Mercúrio) tornou-se o protetor da música?
38) Qual a ligação do Deus Hermes (Mercúrio) com as ciências?
39) O Deus Hermes (Mercúrio) com suas sandálias aladas viaja rapidamente do Olimpo a Terra e vice-versa levando recado dos Deuses aos homens. Principalmente de Zeus (Júpiter). Em função disso, qual cargo ele foi nomeado?
40) Deus Hermes é protetor dos viajantes, em função disso ele assumiu qual outra função?
41) Deus Hermes (Mercúrio) também é responsável pelo desenvolvimento de quais outras funções humanas?

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